Lendo e aprendendo
Durante os primeiros anos da minha vida de leitora só
gostava de ficção, romances, contos e poesia, deixando de lado a não ficção,
como se o tempo de estudo fosse outro ou já tivesse passado. Depois comecei a
aprender a ler também outros assuntos, como política, filosofia, história, sociologia, antropologia e outros.
De uns tempos pra cá, incluí no leque temas mais científicos e andei me
deliciando com Carl Sagan, que associa astronomia e aquecimento global, com um estudo
sobre estatística ou uma história dos calendários.
Minha mais recente aquisição nessa linha foi o livro “As
sete maiores descobertas científicas da história”, de Arnold P. Brody e David
Elior Brody (Companhia de Bolso, 448 páginas, R$ 29). E foi ótimo, porque a
proposta apresentada na introdução pelos irmãos autores, de oferecer ao leitor
a aula de ciências que ele gostaria de ter tido na escola, se realiza
plenamente.
As leis da gravidade de Newton, a relatividade de Einstein,
o Big Bang, a estrutura do átomo, a evolução das espécies, a estrutura da
célula e a estrutura do DNA são alinhados cronológica e cientificamente, junto
com a história de cada descobridor ou inventor. Personagens fundamentais para
os avanços da compreensão humana sobre os mistérios do universo e da vida, como
Copérnico, Kepler, Giordano Bruno, Galileu, Marie Curie (entre pouquíssimas
mulheres) e os já citados, revelam que, mais que o trabalho de experimentação e
inteligência, foi preciso coragem para enfrentar dogmas, autoridades e bom
senso, em nome da construção da verdade.
Como é bom aprender e entender melhor ensinamentos que
deveriam ser ministrados com mais aplicação prática e menos fórmulas
matemáticas! Esse tipo de leitura nos faz sentir mais inteligentes e capazes de
lidar com os avanços tecnológicos de nossos tempos. Sem falar que a escrita do
livro é leve e fluente, com momentos mais difíceis, claro, mas que desafiam
nosso raciocínio sem nos humilhar com o peso da ignorância.
E isso inclui uma visão até poética sobre os imensos
mistérios contidos num universo formado por trilhões de estrelas, em bilhões de
anos, onde microscópicos seres humanos se esforçam para ser felizes num átimo
de segundo.
Publicada na intranet do MDS
Clara Arreguy, sexta-feira, fevereiro 17, 2012.
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Felicidade de encontrar o Galpão
Morando fora de Minas há quase oito anos, nem sempre posso acompanhar todas as estreias dos amigos e dos grandes artistas que deixei na terrinha, por isso não assisti às últimas montagens do Galpão. Na verdade, ficaram faltando Till, a saga de um herói torto e Tio Vânia. Este último ainda não consegui, mas o penúltimo pude finalmente conferir, na tarde de domingo, no Palácio das Artes, em BH, pela Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.
Que felicidade reencontrar a trupe que assisti nascer lá naqueles anos 1980, quando fazer teatro era ainda ato heroico de resistência e amor! E como foi bom revê-los em plena forma, tanto artística quanto de energia criadora, sonhadora, popular, crítica, alegre, instigante...
Em cena, Inês Peixoto, Chico Pelúcio, Antônio Edson, Teuda Bara, Eduardo Moreira, Simone Ordones, Arildo de Barros, Lydia del Picchia e Beto Franco, visitando mitos medievais com as devidas pitadas de brasilidade, deram o costumeiro show que as plateias de toda parte de acostumaram a aplaudir, felizes e recompensadas. Como eu, ao sair do teatro.
Beijos!
Clara Arreguy, segunda-feira, fevereiro 13, 2012.
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37 anos de saudade - Som Imaginário
No Festival de Internacional de Verão que a Secretaria de Cultura do DF está promovendo, sempre com eventos gratuitos, fomos ver, na noite de sábado, o espetacular show do Som Imaginário. Espetacular é pouco. Imaginem pôr para tocar junto de novo Wagner Tiso (piano), Luiz Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria), Tavito (violão) e Nivaldo Ornellas (sax), 37 anos depois da separação do grupo que na época acompanhava Milton Nascimento, Gal Costa e outros feras, sem falar nos discos antológicos que gravou, como A matança do porco.
Plagiando alguém, foram tantas emoções! Eles tocaram clássicos daquele som único que faziam, trazido do rock e do jazz, das sonoridades mineiras e do progressivo. Homenagearam integrantes de outras formações do Som Imaginário, como Zé Rodrix, morto em 2009, e Fredera. Deram aula de música e show de descontração e humor, admitindo até que deveriam ter ensaiado mais. Bobagem. Uma jam session como a que fizeram não se partilha todo dia.
Pontos altos: canções de Milton Nascimento, eterno amigo e parceiro, de quem levaram Tarde, Vera Cruz, Milagre dos Peixes e Canto latino. Outro: a lembrança de Zé Rodrix, "irmão" de um Tavito envelhecido, mas nem por isso menos inspirado. Tavito lembrou que os dois juntos compuseram Casa no Campo no caminho entre Brasília e Goiânia. E cantou este clássico, imortalizado por Elis Regina, num dos únicos momentos voz do show. A outra canção cantada por ele foi Feira moderna, de Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant.
Tudo simples e sofisticado, sem paradoxo.
Antes do Som Imaginário, o grupo Marambaia de Brasília também mostrou ótima música instrumental, com trabalhos autorais e belas recriações de mestres da MPB e do rock clássico.
Beijocas!
Clara Arreguy, terça-feira, fevereiro 07, 2012.
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Limites entre realidade e ficção
Acabo de ler, em edição de bolso,
talvez o único romance de Philip Roth que me faltava no "currículo", O
avesso da vida (Companhia de Bolso). Não preciso ficar repetindo o quão
genial considero o escritor norte-americano, mas vale falar da genialidade
deste romance. Para quem, como eu, escreve, é especial no quesito limites entre
ficção e realidade.
Essas fronteiras são temas caros ao
autor de Pastoral americana. O duplo, o alter-ego, a eterna discussão
sobre as consequências, na vida de Nathan Zuckerman (seu alter-ego) de usar
como personagens de seus livros gente da familia ou qualquer pessoa com quem se
relacione.
Zuckerman, como Roth, é um autor de
sucesso, cujo romance mais famoso versa sobre uma família de judeus em Newark,
Nova Jersey (como Zuckerman e Roth). Em vários de seus livros, os pais ficam
arrasados com a forma como ele retrata os pais no romance. O irmão, Henry,
acusa Nathan pela morte do pai. Os dois ficam brigados durante anos por causa
disso.
Em O avesso da vida, no primeiro capítulo, Henry, impotente devido à medicação
para um problema cardíaco, resolve se operar e acaba morrendo. No segundo
capítulo, Henry não morre na cirurgia e vai para Israel, onde se junta a colonos
fundamentalistas. No terceiro capítulo, quem fica impotente devido ao problema
cardíaco é Nathan, que acaba morrendo na cirurgia. E vai por aí afora...
O romance mescla pontos de vista,
narrativas cruzadas, versões possíveis, reflexões sobre o que poderia ter sido
e não foi, ou foi, discutindo as infinitas possibilidades do romance, as
questões do amor, do sexo, de Israel, da literatura num sentido o mais amplo
possível. É leitura instigante como poucas.
Beijinhos e bom fim de semana!
Clara Arreguy, sexta-feira, fevereiro 03, 2012.
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