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Um gato apaixonante

No começo da leitura de "O náufrago que ri" (Record), de Rogério Menezes, impliquei muito com alguns maneirismos do autor. Como a supressão sumária de todos os artigos indefinidos e a repetição excessiva de falas de personagens. Quando entrei para o Correio Braziliense, os revisores tinham esta mania: de cortar o um e o uma das matérias. Incomoda-me falar "Desponta em curva próxima mulher rechonchuda, baixota. Tenta caber em biquíni minúsculo". Por que não usar o um e o uma? Bom, escolhas de cada um. Ou de cada.

Comecei, então, implicando com a falta dos artigos indefinidos e com as repetições, mas aos poucos fui me apaixonando pelo personagem narrador, o gato Rafic, com sua erudição, suas paixões felinas, suas observações críticas. E apreciei também a história de seu dono, com seu universo de jornalista decadente, o mundo glamouroso também em declínio, a vida dissipada de drogas e sexo frenético igualmente se dissipando com os novos tempos, o fim de uma era para uma elite que se pensava poderosa, mas que deu com os burros n'água.

Acho que o autor escreve bem, compõe personagens ricos e interessantes, de qualquer ponto de vista. A ponto de ter-me feito esquecer dos maneirismos com os quais implicava e me levado a me concentrar somente no enredo. 

Beijos!

Clara Arreguy, sábado, junho 27, 2015. 0 comentário(s).

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Memórias vividas e inventadas

De Maurício Lara, já havia lido "Com Todas as Letras", sobre o câncer que ele venceu e que lhe pesou, como doença e como estigma, durante uma época de sua vida. Jornalista e escritor mineiro, como eu, da minha geração, Maurício escreve bem e facilmente, então abracei com alegria seu novo lançamento, "Rua dos Expedicionários, 14" (Ramalhete). E descobri mais um ponto em comum entre nossos trabalhos: ele parte da realidade vivida pra compor sua ficção, misturando tudo no liquidificador da literatura.

O endereço que dá nome ao livro foi de fato o da casa onde sua família morou, em Esmeraldas, pertinho de BH, lugar mítico onde ele nasceu e de onde saiu novo para a capital. No romance, Maurício faz da casa o epicentro dos principais acontecimentos que agitavam a pacata cidade, com suas fases de casa de família, pensão, bordel e até cadeia.

O fio condutor é dado por um protagonista historiador, que compra a casa para reviver memórias da infância e, ao abrir um baú vazio, vê saírem dele, e o envolverem, histórias e mais histórias sobre o que teria acontecido por ali ao longo de décadas. A prostituta religiosa, o carcereiro compassivo, o padre intolerante, o ladrão orgulhoso, e um rol enorme de personagens interessantes, tocantes.

Enquanto desfia as histórias do endereço, o leitor passeia pela cidade, por qualquer cidade pequena de sua infância, com os sonhos e as repressões que todas enfeixam. E se emociona com a bela tessitura feita por um escritor que domina sua narrativa.

Beijos!

Clara Arreguy, sexta-feira, junho 19, 2015. 0 comentário(s).

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Livros de médicos

Duas leituras de escritores médicos me chegaram às mãos praticamente ao mesmo tempo. A primeira, "A caneta que mata" (Ophicina de Arte&Prosa), de Jair Raso, de Belo Horizonte. Meu amigo Jair Raso, que se desdobra entre as profissões de médico e escritor, mais precisamente autor teatral, diretor, iluminador e etc. - esse etc. aí se devendo ao verdadeiro homem de artes e humanidades que ele é.

O livro de Jair reúne as crônicas que ele vem publicando, metade delas de cunho médico, a outra metade de comentários sobre temas variados, inclusive política, cultura, política cultural. Jair é homem culto, filósofo por estudo e por amor ao pensamento. Suas crônicas tanto divertem quanto informam, quebram mitos, acrescentam ao leitor. Ele domina a escrita e sabe como dizer o que quer dizer.

Sou sua leitora constante e a reunião do trabalho em livro facilita uma compreensão global de sua obra cronística.

O outro escritor e médico é o Valdir de Aquino Ximenes, de Brasília, de quem li "Contos da Vida Médica" (LGE) e "Letra Morta Letra Mortal" (Thesaurus).

Aqui se trata de literatura de não menos qualidade, mas de mais polêmica. No primeiro livro, o autor reúne contos de alguma maneira ligados ao tema da medicina, com personagens que exercem a profissão e situações ambientadas em hospitais e consultórios.

O problema é que algumas pessoas com quem o autor teve relação se sentiram retratadas em contos, alguns deles de forte conotação erótica, com temas como falta de ética e distúrbios de comportamento suspeitos vindo de profissionais da saúde. São ficção, são literatura, mas mesmo assim o autor enfrenta na Justiça pedidos de "danos morais", que juízes tendem a acatar.

No livro seguinte, a partir da saga kafkiana que Ximenes conta viver, ele tece um romance inspirado livremente no caso, tratando de ressaltar que se trata de ficção, nada mais. Enfim, mais uma briga pela liberdade artística e de expressão.

Abraços!

Clara Arreguy, quinta-feira, junho 18, 2015. 0 comentário(s).

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