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Frágil distopia


No embalo do "Gravidade", fui conferir o "Elysium", mas já não achei o mesmo interesse. O filme de Neill Blomkamp adota uma linha rasa, de quadrinhos, menos propriamente aquele tipo de ficção científica com toques filosóficos aprofundados. Aqui, heróis e vilões se polarizam esquematicamente, sem meios termos.

Não há espaço para dúvidas na distopia de Elysium. Numa Terra superpovoada e doente, a elite se mudou para uma estação espacial onde, além de beleza e sossego, tem acesso a uma maquininha que cura qualquer doença. Claro que os pobres mortais cá de baixo, como o chicano Matt Damon, sua namoradinha, Alice Braga, e o líder dos rebeldes, Wagner Moura, vão fazer de tudo pra subir e acessar o que há de bom.

Claro também que lá em cima o poder gera disputas. A megamá Jodie Foster experimentará o próprio veneno, o próprio golpismo, a própria vilania. Caras e bocas muito aquém de uma atriz de seu quilate. Os efeitos também deixam a desejar. Viajar da Terra a Elysium não tem graça, parece que se está indo da Asa Norte à Asa Sul, da Savassi ao Gutierrez. Dava pra ter caprichado mais um pouco.

Wagner Moura (com Matt Damon na foto) estreia em Hollywood como se fizesse isso a vida toda. Não chega a ser uma exibição de gala, mas não fica devendo nada a nenhum dos medalhões presentes no filme.

Como "denúncia" de um futuro de miséria, exploração, violência, desumanização, vá lá. O desfecho "político", com cidadania estendida, porém, não vai além da superficialidade de todo o resto.

Beijocas!

Clara Arreguy, terça-feira, outubro 29, 2013. 0 comentário(s).

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Tensão no espaço


Viagens espaciais sempre fascinaram a minha geração, que cresceu entre Apolo 11 e Yuri Gagarin, sonhos de conquistar, mais que o mundo, o universo. Quando vi o trêiler do filme "Gravidade", fiquei dividida entre a aventura de ficção e o medo da claustrofobia que costuma me atacar diante de certas possibilidades. Até que li críticas superpositivas, outras menos, e resolvi encarar o suspense.

Que filmaço! O diretor mexicano Alfonso Cuarón constrói, mais que um suspense, uma narrativa essencialmente cinematográfica, com apenas dois atores e uma ambientação pra lá de angustiante. Longos planos-sequência, interpretação muitas vezes resumida à voz, efeitos sensacionais, "Gravidade" mostra dois astronautas tentando sobreviver a uma situação-limite lá fora, no espaço sideral.

Sandra Bullock é a cientista assustada; George Clooney, o piloto intrépido. Os dois são colhidos por uma chuva de destroços que, para completar, os deixa sem nave e sem comunicação com a Terra. Correndo contra o relógio, terão que dar um jeito de alcançar as bases espaciais russa e chinesa para tentar voltar ao planeta, enquanto os destroços seguem sua órbita e o oxigênio acaba.

Com poucos elementos, muita tensão e emoção, o filme quase não te permite respirar. Mas nós, espectadores, nos salvamos e podemos curtir uma aventura como há muito tempo não se via.

Beijocos!

Clara Arreguy, quinta-feira, outubro 24, 2013. 0 comentário(s).

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Muito amado General, presente!


No primeiro emprego que tive como jornalista conheci o General. Celius Aulicus Gomes Jardim tinha esse apelido porque assinava, como humorista, como General da Banda. Ninguém mais antimilitarista que aquele doce e amargo General. Ficamos amigos de cara, por uma série de razões; as principais, afinidades como comunistas, humanistas, críticos a uma porção de coisas, amantes da arte, da palavra e do bom texto. Ah, atleticano o General também era.

Depois convivemos durante anos no Estado de Minas. Ele cozinhava superbem e nos convidava para seus ajantarados, deliciosos. Tomávamos umas e outras, falávamos de política, de sindicato, da Belo Horizonte de outrora, de tudo em geral.

O General nos deixou em 1994, mas suas lições como cronista e homem do coletivo ficaram. Agora, quase 20 anos passados, ele recebe uma justíssima homenagem dos pares, em Minas, com a edição de "Celius Aulicus - O Muito Amado General", livro que reúne textos sobre ele e textos dele, inclusive uma reedição de sua coletânea de crônicas "Podem dizer que não falei de flores", lançada em 1991.

Foi ótimo ler sobre ele, textos emocionados e boas histórias (tem até uma crônica minha, escrita quando fez cinco anos de sua morte), ver fotos antigas, mas o melhor de tudo, disparado, é reencontrar o texto do bom e velho General. A crônica o traz de volta a nós, vivo e forte em sua verve, em seu bom e mau humor, em sua cultura sólida e suas idiossincrasias, no mesmo vigor com que defende uma criança pobre ou ataca um hipócrita desumano.

Delícia à parte é a reprodução de receitas que ele dava na coluna semanal Ajantarado de Domingo, assinando como Rossini. São textos engraçados e que dão água na boca pela maestria com que domina palavras e temperos.

Só me resta agradecer ao Sindicato dos Jornalistas, a Hélia Ventura, Vera Godoy, Carlos Barroso e à família do amado General, pela maravilha que é ter de volta a presença viva deste grande amigo, deste grande homem.

Beijus!



Clara Arreguy, quarta-feira, outubro 23, 2013. 0 comentário(s).

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Dos melhores

Elogiei aqui outro dia o policial Preto no Branco, de George Pelecanos. Pois agora li o outro dele, No Inferno, com os mesmos personagens do anterior. Olha, esse é dos bons. O herói dos romances é o investigador particular Derek Strange, um negro que foi da polícia e há décadas ganha a vida encontrando pessoas desaparecidas, entre outros casos que investiga. Passa a trabalhar com ele o branco Terry Quinn, que no livro anterior foi investigado por Derek ao matar um policial negro e ser inocentado. Tem também Janine, a namorada que Derek ama e trai. E um bando de traficantes, bandidinhos, prostitutas, drogados, tipos de maior ou menor estatura social.

Ambientada em Washington, em bairros de população negra, pobre e sem futuro, a trama acompanha tanto crimes comuns no dia a dia dessa gente, como assassinatos e violência banalizada, quanto os dramas interiores dos protagonistas, sempre divididos entre fazer a coisa certa ou dar vazão a um quase incontido sentimento de justiça, que eles sabem não dar conta do problema, pois multiplica a lógica da vingança... e da injustiça.

Neste livro, Derek se revolta com o assassinato de um dos bons meninos que ele treinava no time de futebol americano, enquanto Terry ajuda a nova namorada a resgatar meninas perdidas para a exploração sexual. Sordidez pra todo gosto.

Pelecanos foi jornalista e produtos de cinema e TV. Tem um domínio da narrativa e uma construção de personagens sensacional. Seus livros já estão entre os meus favoritos nesse rico universo do gênero policial.

Clara Arreguy, quarta-feira, outubro 16, 2013. 0 comentário(s).

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A luta (de kung fu) do cinema


Imperdível a comédia "Cine Holliúdy", de Halder Gomes, uma viagem ao mundo do cinema e ao universo da linguagem popular. Ambientado no interior do Ceará na década de 1970, o filme faz graça com a guerra pela audiência perdida pelo cinema e vencida pela televisão.

Em clima de kung fu e primórdios da TV a cores, Edmilson Filho (foto), um exibidor de pequeno porte, luta (como um chinês de filme de ação) para conquistar a plateia. Que ama ser objeto dessa disputa. As situações são divertidas, num cenário deliciosamente nordestino e brasileiro.

A questão da linguagem está no falar do cearense, com sotaques e gírias muito próprios. Dizem que, da Bahia para baixo, ninguém entendia o que os atores falavam. Daí a ideia de legendar a película, que chega com "traduções" às vezes tão engraçadas quanto as frases ditas pelos personagens.

É engraçado, inteligente e uma arma na luta do cinema pelo espaço perdido.

Beijus!



Clara Arreguy, segunda-feira, outubro 14, 2013. 0 comentário(s).

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Luta sem fim

Acabo de ler o belo livro "Florestas do meu exílio", do senador João Capiberibe (Editora Terceiro Nome), que conta a saga do casal de militantes que, a partir de 1969, empreendeu uma fuga espetacular, atravessando a América do Sul, para salvar a si e à sua pequena filha.

João e Janete (hoje senador e deputada pelo PSB, pais do governador do Amapá, Camilo Capiberibe) eram amapaenses e militavam no grupo armado ALN. Pretendiam instalar uma guerrilha de esquerda no Bico do Papagaio, mas foram presos a caminho da região. Ela estava grávida de 8 meses da primeira filha.

Ela foi solta após o parto e ele ficou sob tortura, doente e meses incomunicável, até ser transferido para um hospital de Belém, de onde conseguiu fugir, com a ajuda de heróis como o médico Almir Gabriel, que viria a ser governador do Pará pelo PSDB já no período democrático.

De Belém, em embarcações muitas vezes irregulares e com mínimas condições sanitárias, subiram o Amazonas até Santarém, Manaus, e foram para Porto Velho, atravessaram a Bolívia de barco, avião, caminhão, cruzaram o Peru e conseguiram chegar ao Chile de Allende, sempre sem documentos e com a criança pequena, além de logo ela ter engravidado de gêmeos!

O mais impressionante de toda a saga, no entanto, é o relato do Chile onde se construída o socialismo pela via democrática, pois a esquerda havia vencido as eleições e sofria o combate acirrado da direita interna e de outros países.

O momento histórico daquele Chile sob Allende serve de alerta para quem não percebe que no Brasil de hoje, com todas as diferenças, recrudescem os ataques reacionários a um governo de cunho social, de esquerda, eleito pela vontade popular e que, com todas as dificuldades, erros e acertos, investe na melhoria da vida da população mais pobre.

Uma beleza de narrativa, a de Capiberibe, bem escrita, emocionante e repleta de lições de vida e de luta. O livro foi lançado em várias cidade e terá lançamentos ainda no Rio de Janeiro, hoje, e em Vitória, no dia 25.

Bjs!

Clara Arreguy, segunda-feira, outubro 07, 2013. 2 comentário(s).

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Pausa pra policial

Pra não perder o costume de ler um policial sempre entremeado com outras leituras mais "sérias", me deliciei com "Preto no branco", de George Pelecanos, uma aventura de investigação que não deixa de lado o suspense psicológico e tramas políticas tendo como pano de fundo o racismo em Washington DC.

Já estive na capital dos Estados Unidos e pude comprovar como é grande a população negra na cidade. Por isso mesmo, os conflitos acirrados se fazem presentes. No romance, o investigador Derek Strange (negro) é contratado pela mãe de um policial (negro) que foi morto acidentalmente nas ruas da cidade.

Terry Quinn era um policial (branco) que, numa ronda, viu um negro apontando uma arma para um branco. Após um pequeno tumulto, ele se precipita e atira. Só que o negro morto era policial à paisana e o suspeito (branco) é que era bandido.

Enfim, nessa trama em que pessoas de bem tentam provar que não são racistas, mas não conseguem evitar o susto quando um grupo de jovens negros vem em sua direção numa calçada, à noite, personagens do submundo do tráfico e agentes da lei nem sempre estão do lado certo.

Com questionamentos sobre lei, ética, aparências e essências, o romance de Pelecanos prende e envolve mais que a polícia. Captura o leitor. É dos bons!

Bisous!

Clara Arreguy, terça-feira, outubro 01, 2013. 0 comentário(s).

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