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A grandeza de Natalia Ginzburg

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Há anos a Lucília Garcez, amiga e mestra, me sugeria a leitura de Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg (Companhia das Letras), por causa de um projeto pessoal meu que está prestes a vir à luz (sobre o qual em breve falarei mais, num anúncio oficial). Finalmente obedeci a mais esse bom conselho da Lucília e me peguei emocionada com a leitura de uma obra-prima da delicadeza, da sutileza.

Trata-se de um romance autobiográfico aparentemente despretensioso, em que a escritora italiana conta, entre as conversas do dia a dia de sua família, uma parte importante da história da Itália, os anos 1930, época de ascensão do fascismo. Tudo no livro é bom e necessário: da importância do "léxico familiar" para o entendimento da alma de um povo ao contexto sociopolítico em que as grandes mudanças se dão.

Natalia Ginzburg era filha de um judeu e uma não judia. Família de socialistas moderados, acaba vendo amigos e irmãos perseguidos por causa de suas ideias e, depois, com a consolidação do fascismo como poder de Estado e o vínculo com os nazistas de Hitler, os judeus, independentemente de ideologia, serem massacrados.

Enquanto relata os modos de ser e viver, de comer e brincar, de namorar e de escalar montanhas nas férias, Natalia Ginzburg nos conta o que aconteceu na Itália naquele período. Ela se casa com um intelectual judeu, que é morto na prisão. Seu pai e seus irmãos vão presos, um deles foge do país, ela mesma se torna escritora, trabalha na mais importante editora do país, enfim, tudo de grandioso ocorre enquanto comenta, com poucos adjetivos e muita concisão, o jeito peculiar de falar da mãe, da avó, do pai, dos amigos.

Natalia Ginzburg (1916-1991) foi uma das mais importantes escritoras italianas. Enobreceu essa literatura tão rica e tão especial. Como foi bom descobri-la - antes tarde do que nunca.

Clara Arreguy, sábado, novembro 30, 2019. 1 comentário(s).

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Futuro e passado entre dois continentes



Deborah Dornellas ganhou o Casa de Las Américas com o romance Por Cima do Mar (Patuá Editora), e taí um prêmio justo. O livro, um romance de fôlego cuja história se inicia em Brasília e termina em Angola, fala de uma mulher da Ceilândia que, após viver uma história de violência, se torna professora universitária e vai parar do outro lado do Atlântico.

Construído com narrativa fluente, pesquisa histórica e cuidado no apuro da escrita, o romance cuida de detalhes como o nome da protagonista, Lígia Vitalina, fusão do desacordo entre pai (que a nomeou apenas Vitalina) e mãe, que queria Lígia, nome preferido igualmente pela filha.

Criada praticamente apenas por mulheres - além da mãe, também a tia, empregada doméstica -. Lígia viveu em Brasília, nos anos setenta, os principais fatos que a juventude preta e pobre da cidade testemunhou. Da festa que terminou em violência policial ("Branco sai, preto fica", diziam os agentes da lei, enquanto desciam o cacete nos que ficavam, claro) e que originou o filme de mesmo nome de Adirley Queiroz ao surgimento, na cena das casas noturnas, da cantora Cássia Eller. Do crescimento da nova capital, com suas características tão especiais, ao isolamento da gente da periferia (cidades-satélites) em relação ao Plano Piloto. Do recrudescimento da repressão ao crescimento vertiginoso do consumo de drogas.

Além de reviver essa história das primeiras gerações nascidas em Brasília, Deborah também conta o surgimento das primeiras gerações de pretos pobres que ascenderam socialmente pela via dos estudos. Lígia Vitalina se forma em história na UnB, se torna professora, mas percebe o tempo inteiro que ela é a única, ou das poucas, pretas em tais condições.

Após anos de terror provocado por ter sofrido um estupro, a personagem vai parar na África, onde descobre, ao lado de um novo amor, outras raízes, a história de um povo criado sob guerra e violência, mas que não perdeu a alegria e o valor de sua cultura. Lígia, Zé Augusto e a filha protagonizam um belo encontro entre o futuro e o passado, entre um lado e outro do Atlântico, acenando com a possibilidade de uma conciliação que promova a felicidade.

Clara Arreguy, quinta-feira, novembro 28, 2019. 3 comentário(s).

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Marias suaves e fortes


É um encanto o livro Cigarras, Lagartas e Outras Marias, de Solange Cianni (Maria Cobogó), que reúne 16 contos protagonizados por mulheres no limite entre o que avisa o subtítulo: eróticos e românticos. São histórias escritas com delicadeza, linguagem limpa, sem excessos de adjetivação, mas com as sutilezas que o tema requer. E que trazem várias facetas de mulheres, das mais fortes às mais vulneráveis.

Solange é mais conhecida por sua obra para crianças. São quatro livros voltados para esse público. Atua na área escolar, como pedagoga e psicopedagoga, e vem também do teatro, no qual trabalhou como atriz. Aqui, em Cigarras, Lagartas e Outras Marias, não se preocupou em disfarçar questões que poderiam, em tese embaraçá-la junto a seu público original. Afinal, professoras, mães e avós também têm desejos e vida sexual.

As personagens dos contos de Solange são gente como a gente. Como Maria das Dores e dos Amores, que ao tomar um pilequinho sozinha em seu quarto consegue se ver, não gorda e cheia de rugas, mas linda e gostosa, amável e desejável, ainda que o frio da cama lhe desperte saudades de um possível companheiro, o mesmo que, durante o sonho, lhe provocará orgasmos múltiplos.

Em histórias como essas, Solange tira do armário os desejos e angústias da mulher comum, mostrando que cada lagarta viverá seu período de casulo até que se torne borboleta numa próxima primavera.


Clara Arreguy, quarta-feira, novembro 27, 2019. 0 comentário(s).

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Feminicídio em romance - leitura imprescindível



Nos dias em que a sociedade se mobiliza para enfrentar o gravíssimo problema do feminicídio, mais atual e necessário se faz o novo livro da jornalista e escritora Sulamita Esteliam, Em Nome da Filha (Viseu), um romance que mergulha fundo na questão.

A Sulamita repórter acompanhou, durante anos, a saga de Gercina, mãe de Mônica, na tentativa - vã - de conseguir punição para o homem que matou sua filha. Callou era militar do corpo de bombeiros e usava desse "privilégio" para se safar de todas as violências que cometia contra a mulher, Mônica. A corporação fingia puni-lo, mas ele sempre obtinha era prêmios, promoções, enquanto abusava de uma relação de controle e dominação sobre a companheira.

Gercina, a mãe, que se opunha ao relacionamento tóxico da filha, teve que assistir ao desenlace previsível nesse tipo de caso. Callou ateou fogo ao corpo de Mônica. Condenado, safou-se da pena, beneficiado por suposto bom comportamento e outras atenuantes de que se serve o machismo predominante no direito, na justiça, na sociedade.

Sulamita acompanhou, solidarizou-se, e por fim romanceou a história, de modo que temos a visão objetiva dos fatos e também uma leitura subjetiva, mas muito elucidante, das motivações de uma mulher para se submeter a uma relação tóxica e violenta como aquela. O resultado, o livro Em Nome da Filha, é uma leitura que não se larga antes da última página. Triste, sofrida, mas imprescindível.

Sulamita Esteliam é jornalista mineira que, após passagens pelo Ceará e por Brasília, radicou-se em Recife. Nesta terça (26/11) ela está na capital federal para o lançamento do livro, às 19h, no Tiborna, na 403 Norte.

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 26, 2019. 0 comentário(s).

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