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Divertidas crônicas brasilienses


Dividi com Daniel Cariello o espaço da crônica na última página da Veja Brasília entre 2013 e 2015. Alternávamos a publicação, uma quinzena um, outra quinzena outro. Assim como vou fazer ainda este ano, Daniel se adiantou e já lançou sua coletânea com essa produção. O livro "Cidade dos Sonhos - Crônicas Brasilienses" sai pelo selo próprio do autor, Longe, e reúne, além dos textos publicados na Vejinha, também outras, editadas no site Cheri à Paris e na revista MeiaUm e inéditas.

O trabalho se destaca principalmente pela forma íntima e apaixonada como o autor fala sobre Brasília, mas muito também pelo bom humor com que o faz. São casos e observações engraçados, divertidos, que falam ao coração de quem vive na capital ou a conhece, mas que dão um jeito também de apresentar a cidade a quem não tem familiaridade com gírias próprias - e oferece até um glossário, ao final, com traduções para verbetes como "camelo", "baú" e "tesourinha".

As crônicas, ele divide em três blocos: Tão Jovem, em que revisita a infância numa Brasília tão diferente da de hoje, em meio a superquadras despovoadas, em que tudo era novidade; Ela acordou W3, já com experiências de jovem e adulto na capital do rock oitentista; e Praia Candanga, que já incluem até as histórias da filha Louise, com a imaginação típica das crianças criativas.

A prosa de Daniel Cariello tem sabor, poesia e nostalgia. Leitura fluida, que diverte e contribui tanto para a autoestima do brasiliense quanto para esclarecer aos de fora que aqui não é, definitivamente, terra de ladrões e corruptos.

Clara Arreguy, domingo, janeiro 24, 2016. 0 comentário(s).

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O filme mais importante: Spotlight


Está em cartaz um dos melhores filmes da atualidade, melhor até que "As Sufragistas". Trata-se de "Spotlight - Segredos Revelados", de Tom McCarthy, com elenco estelar encabeçado por Michael Keaton e Mark Ruffalo. A história da investigação jornalística em torno do que se tornaria o maior escândalo de abusos de padres contra jovens e criança ganha ares de thriller, pela quantidade de obstáculos a transpor pelos jornalistas, pela emergência da verdade.

Spotlight é o nome da editoria de matérias especiais do jornal Boston Globe. Uma equipe de quatro pessoas investiga histórias que não cabem na apuração corrida do dia a dia do jornal. Quando a aposentadoria do diretor de redação propicia sua substituição por um jornalista mais jovem e menos envolvido com as forças de poder locais, pode finalmente emergir a denúncia de que o cardeal da região sabia dos crimes cometidos por religiosos nas barbas de todo mundo.

À medida que a apuração avança, os repórteres vão descobrindo que um padre ou dois viram dez, que esses dez viram 20, que esses 20 na verdade são 80! Pelo menos 80 padres vinham sendo sistematicamente transferidos e licenciados, sempre que eclodia alguma reclamação ou denúncia contra eles. Ou seja, a Igreja, como instituição, institucionalizava o ato de varrer pra debaixo do tapete os casos de pedofilia e abusos.

Por que "Spotlight" me toca como um filme de importância superior a todos que tenho visto ultimamente: em primeiro lugar, por mostrar como são graves as consequências para as vítimas de abusos, em geral crianças já vulneráveis e desprotegidas, que a custo sobrevivem ao inferno em que sua vida se transforma. Em segundo, mas não menos importante: por devolver ao jornalismo sua função de investigar, revelar, expor a verdade à sociedade, doa a quem doer.

Dói ver a religião usada para oprimir, violentar, maltratar. Mas o silêncio encoberto dói muito mais.

Clara Arreguy, sábado, janeiro 23, 2016. 0 comentário(s).

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A terrível luta das mulheres


O filme "As Sufragistas", de Sarah Gavron, é tão bom quanto importante. Bom, por concentrar em emoção e informações a luta das mulheres britânicas pelo direito ao voto. A partir da história de uma operária, Maud Watts (Carey Mulligan), acompanhamos um momento crucial dessa luta, quando as militantes resolvem radicalizar o movimento e partir para ações de confronto.

Maud entra para a luta por acaso, depois de substituir uma colega num depoimento ao parlamento. Ao contar sua história para os deputados, a própria fala a leva a se ouvir e abrir os olhos da consciência. Maud não será mais a mesma, entrando por isso em confronto com patrões, marido e amigos, e até perdendo a guarda do filho, que tanto ama.

Tudo pela radicalidade da repressão do Estado, por meio da polícia, das leis, da representação e das empresas. Tudo concorre para eternizar a opressão, tudo empurra as sufragistas à ação violenta. Como diz Maud ao inspetor de polícia, os homens só entendem essa linguagem...

Meryl Streep faz uma pequena participação como a líder maior do movimento. Helena Bonham-Carter tem papel de destaque. O elenco, a reconstituição de época, a música, tudo faz de "As Sufragistas" uma bela obra de arte. Por isso importante: por conduzir com maestria a trajetória de conscientização, a necessidade da luta.

Beijocas!

Clara Arreguy, sexta-feira, janeiro 22, 2016. 0 comentário(s).

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Duas faces de um personagem, Paulo Coelho

Acabo de ler a biografia de Paulo Coelho por Fernando Morais, "O Mago", um calhamaço de 640 páginas (Novas Páginas, selo da Novo Conceito) que me impressionou do início ao fim. Fernando Morais é craque no gênero, escreve bem, pesquisa profundamente e nos dá o personagem de forma ampla, profunda, completa. Sempre com o pano de fundo social e cultural de uma era.

Nunca fui fã de Paulo Coelho, a não ser das músicas que fez com Raul Seixas e Rita Lee, mas falar isso é tão banal que não acrescenta nada. Dele li "O Diário de um Mago" porque falava do mesmo assunto que eu no meu romance "Siga as setas amarelas". Não gostei. Tenho preguiça de seus temas e de seu estilo. O que não me impede de admirar e até invejar o mega ultra hiper sucesso mundial que ele faz.

Já sua história pessoal rende assunto pras mais de 600 páginas sem esforço, afinal, ele viveu dores e delícias em seus quase 70 anos de trajetória, indo das dificuldades afetivas na família às internações em manicômio, com direito a eletrochoques e baba, à experiência com drogas e contracultura, catolicismo e satanismo, fracasso retumbante e sucesso estrondoso.

Algumas coisas são admiráveis na história: a pertinácia com que Paulo Coelho realizou o desejo, ideia fixa, que o perseguiu desde a infância, de ser um escritor de sucesso; os esforços que fez e faz para cultivar e cativar seu público; o resultado de todo esse trabalho, um personagem universal, planetário, poderoso, que emerge de uma figura insegura, depressiva, sofrida, fadada ao fracasso.

O livro é de consumir em poucos dias de leitura, tamanhas as emoções que ele proporciona ao leitor. Obrigada a Fernando Morais e Paulo Coelho por tamanha riqueza, sem trocadilho.

Bjs!

Clara Arreguy, quinta-feira, janeiro 21, 2016. 2 comentário(s).

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Uma aula sobre corrupção

O jornalista Maurício Lara virou escritor e agora não tem volta. Suas produções se intensificam e, menos de um ano depois de "Rua dos Expedicionários, 14", ele lança agora, pela mesma editora Ramalhete, "O Filho do Corrupto", um romance que vai além de contar uma história. Explica boa parte do que acontece no Brasil, no mundo, em matéria de corrupção.

A partir da procura de um filho pela verdade do pai, morto recentemente, Maurício dá uma verdadeira aula sobre os processos que fazem de insuspeitos empresários, políticos e agentes públicos, os vilões de uma cultura de dar-se bem a qualquer custo, explorar e passar por cima de quem quer que seja em nome do desejo de riqueza e poder.

Pode-se acusar o protagonista, Rubens Rocha Filho, de ingênuo e alienado. Ele é. Não perceber como o pai fez fortuna, cometeu crimes hediondos e tornou-se um homem sem escrúpulos de qualquer natureza não combina com um homem inteligente, bem informado, culto, estudado. Mesmo assim, a narrativa de Maurício Lara tem credibilidade, pois o herdeiro não é o único, à nossa volta, a fechar os olhos a evidências de toda forma de corrupção, como a certa altura do romance é explicado.

Corrupção é muito mais que os escândalos noticiados com estardalhaço pela grande mídia. Praticada no dia a dia das pessoas comuns, estende-se a variados campos da vida das pessoas, sem nem ser questionada, quando se leva vantagem. "O Filho do Corrupto" conta a trajetória de descobertas de um homem que se permite, a custo, entender o pai, o passado, o presente, o país. E o faz com domínio narrativo, personagens interessantes e algum moralismo no que toca a infidelidade conjugal, colocada no mesmo patamar de traições mais graves - no meu entender, esse seria o pecado menor, no rol de exemplos que o livro tão bem explora.

Beijos!

Clara Arreguy, sexta-feira, janeiro 08, 2016. 0 comentário(s).

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Prosa poética de Vilara

O escritor Paulo Vilara, mais conhecido em Minas pelas crônicas em defesa do América Futebol Clube, segundo time no coração de quem não é americano, como eu, lançou recentemente, em produção independente, o belo livro "Manhãs com Pássaros", reunião de histórias curtas ou curtíssimas.

Dividido em três partes - Subsolo, Chão e Céu -, pode-se dizer que o subtítulo do volume resume sua aposta: exercícios de síntese. As narrativas são uma forma de prosa, mas não deixam de ser também exercícios poéticos, como se pode observar em "Assim é melhor":

"O desejo é forte, mas evita entrar, sentar-se e pedir uma bebida. Prefere caminhar pela cidade, pois está convencido de que a solidão, quando em movimento, não é notada."

Ou em "Todos os dias":

"O poder, podre, apodera-se, apodrece."

Assim como esses sintéticos versos livres, outros se intercalam a contos curtíssimos, como "Urgência":

"Não sabe ficar só. O cachorrinho morreu, comprou outro."

Como se vê, seja contando uma história, fazendo reflexões ou tecendo metáforas, Paulo Vilara trabalha as palavras em composições precisas, econômicas, fortes e delicadas, ao sabor da ideia ou da emoção.

Lê-se "Manhãs com Pássaros" nesse ritmo, cantando cada texto como uma canção. Sorve-se num só fôlego, observando a cidade, a gente ou a natureza com os olhos do poeta prosador.

Clara Arreguy, quinta-feira, janeiro 07, 2016. 0 comentário(s).

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