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Em Zé Lins, as raízes da desigualdade

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No meu confinamento, terminei de ler o livro do Clube de Leitura que não tinha conseguido finalizar a tempo da reunião, no início do mês. Trata-se de Fogo Morto, de José Lins do Rego (José Olympio Editora), um clássico do escritor paraibano mestre do romance regionalista, mais conhecido por Menino de Engenho, que virou filme e foi lido por diversas gerações ainda na escola - meu caso.

Fogo Morto também virou filme, foi comparado, pela importância, a Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e tema de inúmeros estudos. Confesso que, embora tenha gostado do romance, não chegaria a equiparar sua relevância à da obra-prima do escritor mineiro, principalmente porque o Grande Sertão não se resume a um bom romance, consistindo mais, a meu ver, num novo patamar de escrita, seja como literatura, como filosofia ou como expressão cultural mais genuína de um povo.

Já o livro de Zé Lins resume bem um Brasil interior, num tempo e espaço que foram o ponto de partida para toda a literatura do escritor. O engenho onde foi criado, o meio rural nordestino, onde ecos da escravidão sinalizam a permanência da exploração, do servilismo, da violência, da submissão do povo pobre a elites empedernidas pelo poder. E o faz com um texto precioso, de imagens desenhadas palavra a palavra, numa leitura que se degusta com prazer.

Os personagens principais do romance ganham uma construção profunda por parte do escritor: Zé Amaro, o mestre seleiro profundamente infeliz, e seu compadre Vitorino, ambos cheios de orgulho das próprias trajetórias, cheios de anseios de liberdade e independência, mas confrontados por circunstâncias que não conseguem dominar.

Há ainda os senhores de engenho, as mulheres enlouquecidas pela solidão e pela negação do próprio ser, as esposas fortes, o cangaceiro, a polícia... Em Fogo Morto, Zé Lins do Rego traça um painel humano e profundo de um tempo e lugar formadores do Brasil desigual e violento que permanece até hoje. Nas sendas desse país, vozes tentam se levantar e confrontar o destino inexorável. Conseguirão algum dia se fazer ouvir?

Clara Arreguy, sexta-feira, março 20, 2020. 0 comentário(s).

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