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Um herói brasileiro


Vai ser hoje (quarta, 25), a partir das 19h, na Biblioteca do Senado, o lançamento em Brasília do livro "Seu amigo esteve aqui", de Cristina Chacel (Zahar), já lançado em Belo Horizonte e outras praças. O livro conta a história do desaparecido político Carlos Alberto Soares de Freitas, um militante mineiro que atuou em grupos clandestinos e foi preso, torturado e morto em 1971.

A história do "livro do Beto" chegou a mim por meio do meu amigo Régis Gonçalves, jornalista e uma das fontes da pesquisa que levantou (a custo) a trajetória de uma pessoa que tentava se esconder todo o tempo, em seus últimos anos de vida. Assim como Régis, outros amigos são personagens, como Antônio Ribeiro Romanelli, Apolo Heringer Lisboa, mas, sobretudo, minha prima Inês Etienne Romeu. Isso sem falar na presidenta Dilma Rousseff, que, como Inês, foi amiga e companheira de luta de Beto, codinome Breno.

Assim, com entrelaçamentos de emoção e memória, mergulhei na leitura (fácil, bem escrita e bem apurada) de um livro que traz de volta o negror dos tempos da ditadura, quando toda uma geração teve que abraçar o heroísmo para dizer não à barbárie que se instalou nas trevas daquele regime.

Beto foi um herói. Como seus pares, adotou a luta armada não porque gostasse de violência, mas por falta de alternativa de luta no campo aberto da democracia. Não pegou em armas, mas atuou na organização e na conscientização popular, fosse no campo ou na cidade. Anos na clandestinidade - tinha uma condenação por panfletagem! -, correu o país, ensinando, discutindo, clareando ideias, doando-se de corpo e alma.

Minha prima Inês Romeu foi quem revelou que o desaparecimento de Beto, em fevereiro de 1971, tinha terminado em tortura e assassinato na Casa da Morte, um "aparelho" montado pelas forças clandestinas da repressão em Petrópolis e de onde apenas um militante de esquerda saiu com vida: Inês, que cumpriu pena até a anistia, em 1979.

A história é longa e cheia de episódios tristes e belos, heroicos e humanos, em que a coragem e o amor ao país e ao povo falam mais alto que toda tentativa de calar essa força.

Obrigada, Régis, por pôr este livro no meu caminho. Obrigada, Cristina Chacel e toda a equipe que pesquisou e trouxe à luz mais um capítulo da verdade histórica de nosso país.

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 25, 2013. 0 comentário(s).

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Fim do festival

Só pra botar um ponto final no capítulo do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: não acompanhei a mostra de ficção, então não tenho como palpitar, e dos que gostei entre os documentários, apenas Contos da Maré ganhou como melhor curta. O longa Plano B, que também defendi aqui, ganhou o troféu Câmara Legislativa, que premia os melhores brasilienses. Valeu!

Outras observações: que ótimo que o Cine Brasília foi reformado. O ar-condicionado ficou excelente, já as poltronas continuam desconfortáveis, apesar de novas e grandes.

O festival é uma festa, uma celebração, um encontro. Me incomoda o excesso de vaia e palpite da plateia. Entendo que é democrático, mas em certos momentos falta mesmo é educação. Houve problemas nas exibições, algumas em que eu estava presente tiveram que parar e recomeçar. Aí as pessoas assobiam, xingam, se portam como "consumidores brigando por direitos", e não como partícipes do fato cultural, coautores, com sua presença, de um momento de partilha de arte e sensibilidade.

Mas foram fatos isolados. O saldo da 46ª edição do festival foi ótimo. Adorei cobrir, mesmo que pouco, dentro das limitações de um blog independente.

Bjs!

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 25, 2013. 0 comentário(s).

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História e histórias


A História e as histórias foram o tema da última sessão da mostra competitiva de documentários no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que termina hoje, com a noite de premiação.

O curta Contos da Maré, de Douglas Soares, dá ouvidos a casos mirabolantes ocorridos (ou inventados) na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, desde o início da ocupação. São causos que envolvem até lobisomem e um porquinho tido como filho de um homem que cuidava da pocilga. Com bom humor e cuidado em apurar a memória de sua comunidade, o filme brinca com os medos e folclores populares em tom de delicadeza. Muito bom.

Já o longa A arte do renascimento - uma cinebiografia de Sílvio Tendler, de Noilton Nunes, tem qualidades estéticas e defeitos políticos. Sílvio Tendler (foto) é um dos maiores documentaristas brasileiros, um ator social, cultural e político do cinema, responsável por trabalhos memoráveis e de grande importância na cena - não só nacional como internacional. Com problemas de saúde, passou por cirurgia, perdeu todos os movimentos e aos poucos vai voltando à ativa, o que celebra trabalhando e abraçando novos projetos, novas causas por que lutar. É um guerreiro dos melhores combates.

Até aí tudo bem. O problema do filme é tentar fazer História, na melhor vocação do personagem abordado, mas escamotear a própria História. Pelo menos é o que parece quando recorre a problemas de desemprego de 2003, cenas do Brasil, da Argentina e da Bolívia de dez anos atrás, e desconhece o que aconteceu nos últimos dez anos no país e no continente. Até fotos de todos os presidentes do Brasil, de JK a FHC, eles colocam, deixando de fora Lula e Dilma. Por quê?

Que país é este que eles vêm? O filme dá voz a Brizola, Prestes, Darcy Ribeiro, até Tancredo Neves... e para por aí... Para nas críticas - corretíssimas - de Milton Santos feitas em 1997. O Brasil contemporâneo é o das manifestações de junho, apenas. Há um problema político quando se tenta fazer História negando a História.

Bjs!

Clara Arreguy, terça-feira, setembro 24, 2013. 0 comentário(s).

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Excelência na Mostra Brasília


O último dia da Mostra Brasília, no Festival de Cinema, foi espetacular. Abriu com um curta superlegal sobre o Paranoá, cidade satélite criada para abrigar remanescentes dos pioneiros que construíram a capital, mas principalmente os que trabalharam na obra do Lago Paranoá. O documentário Pedras do Rio Paranoá, de Tiago Machado Carneiro, mostra um dos lugares mais interessantes do DF, uma cidade de gente lutadora e criativa.

Trabalhei com o fotógrafo Beto Barata no projeto Brasília Submersa, sobre o lago, e estivemos várias vezes naquela cidade para conversar com esses pioneiros. Infelizmente, alguns deles morreram de lá pra cá, como dona Zefinha, Chico Bodinho e seu Valdivino, mas muitos dos personagens que conhecemos e admiramos lá estão, como seu Ataíde e João do Violão, perpetuando a história e a tradição de luta daquela bela população.

A segunda atração foi Infrator, de Gustavo Serrate e Rodrigo Huagha, uma daquelas iniciativas de guerrilha de quem produz e cria cinema em Brasília sem apoio, sem lei de incentivo, só na base da criatividade e do poder de realização. Em forma de ficção, o curta mostra um rapaz, em liberdade provisória nas ruas da capital, tentando curtir sua liberdade fora da Papuda, sem muito sucesso. Ele e uma moça com quem divide o ponto de ônibus são atacados por uma gangue urbana e, na fuga, esbarram em ícones da cidade, como a Torre Digital, as passarelas subterrâneas, a travessia dos eixos, a mítica comercial 205/206, a Babilônia Norte que protagonizou outro filme no festival... A dupla de diretores exercita estilo e ousa ao não se ater a uma narrativa convencional.

O terceiro e mais importante trabalho da tarde de segunda (23) foi Plano B, de Getsemane Silva e Santiago Dellape, também apresentado na mostra competitiva de documentários na noite de domingo (22). O filme investiga o que foi feito de outro documentário, Brasília - Contrastes de uma Cidade Nova, de Joaquim Pedro de Andrade. Realizado em 1967 por encomenda da Olivetti, o longa do falecido diretor foi tirado de circulação porque tanto a censura da ditadura quanto a da empresa de máquinas de escrever não gostaram da leitura crítica que tomou o lugar de uma louvação à capital brasileira.

A produção de Plano B foi atrás dos envolvidos no filme, como Edla Van Steen, que ajudou a idealizar o projeto, Joel Barcellos, Afonso Beato e Jean Claude Bernardet, além do poeta Ferreira Gullar, que fez a locução do filme. A procura mais difícil, no entanto, é de um operário entrevistado por Joaquim Pedro em Taguatinga (foto), e esse também, após incansáveis pesquisas, é revelado, embora já não tenha como contar o ocorrido.

História, crítica e emoção se misturam no belo filme de Getsemane e Santiago. Nada como dar vida à memória e à reflexão sobre o passado, o presente e os rumos de nossa cidade, de nosso país.

Clara Arreguy, segunda-feira, setembro 23, 2013. 0 comentário(s).

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Mergulho na cultura africana


Na sexta (20), no Festival de Cinema, só consegui ver a mostra competitiva de documentários, mas valeu. O curta "Carga Viva", da mineira Débora de Oliveira, teve o mérito de trazer à cena os burrinhos do Parque Municipal de Belo Horizonte, um patrimônio afetivo da memória de todo belo-horizontino, principalmente de quem vivenciava o Centro e passou a vida acompanhando a travessia suave dos animaizinhos rumo ao coração verde da cidade.

O longa "Hereros Angola", de Sérgio Guerra, foi o ponto alto da noite. Acompanho o trabalho de Sérgio Guerra há muitos anos. Já o entrevistei quando era repórter e fiz muitas matérias sobre seus livros e sua produtora, a Maianga. Nascido em Pernambuco, ele se radicou na Bahia e depois em Angola, onde foi um dos impulsionadores do renascimento cultural do país pós-guerra. Como fotógrafo e como produtor, vem trazendo para o Brasil e o mundo os sons e as cores de um país riquíssimo e paupérrimo.

O documentário apresentado no festival é um típico filme de fotógrafo, com imagens impactantes, belíssimas, de um povo e um país desconhecidos para nós. Os hereros (foto) são uma etnia que se espalhou pelo território angolano em várias aldeias e subgrupos, mas com as mesmas tradições culturais. Vivendo na seca e na pobreza, têm nos bois sua riqueza e seu universo imaginário.

O filme conta, sem crítica ou enaltecimento, aspectos dessa cultura, hábitos, momentos de música e beleza, outros de violência, como o sacrifício de um boi ou a circuncisão dos meninos, o costume de arrancar dentes, o modo de lidar com a morte, com o sexo, o nascimento, etc. E não deixa de mencionar as influências da cultura ocidental, em particular a bebida alcoólica gerando lixo e descaracterização.

Na sessão de sexta, houve quem achasse o filme violento e longo. Sim, ele trabalha num ritmo que acompanha aquele povo, aquela natureza. Não faria sentido uma edição ágil, típica dos ritmos urbanos em que vivemos. Para entrar no olhar dos personagens retratados, só mesmo com respeito a tempos e silêncios dos quais nossa cultura se desacostumou. É preciso relaxar corpo e mente, olhos e ouvidos, e mergulhar nos herreros sem crítica, sem pé atrás. É um mundo novo a ser explorado.

Bjs!

Clara Arreguy, sábado, setembro 21, 2013. 0 comentário(s).

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Brasília na tela


Fui assistir à primeira sessão da Mostra Brasília, parte do Festival de Cinema dedicada à produção local. Gosto muito de ver esses filmes que, em maior ou menor grau, retratam aspectos da cidade, dão vez e voz aos artistas daqui, com suas ideias e seus registros de memória e criação. Em anos anteriores, produções interessantes foram apresentadas na Mostra Brasília, como, no ano passado, "Vida Kalunga" e "Meu amigo Nietzsche".

Este ano, uma belíssima animação abriu a primeira tarde da competição: "A Roza" (foto), de Juliano e Marieta Cazarré. Poema adaptado por Juliano Cazarré da obra de Simões Lopes Neto, mergulha no universo linguístico de Elomar Figueira de Mello. O próprio Elomar narra a história, que tem música de seu filho, João Omar. Uma narrativa trágica, com lindo resultado visual e sonoro, um verdadeiro poema.

"Ballet", de Octávio Mendes e Eduardo Gomes, e "Desdobráveis", de Marcelo Diaz, são curtas que exploram a produção artística da cidade, mesclando expressões e contando histórias curtas.

"Mina da Liberdade", de Chico Furtado, apresenta o cotidiano de um terreiro em São Luís do Maranhão, com os cultos e ritos ligados à tradição das religiões de matriz africana, as cores, os ritmos e personagens daquele universo.

O longa que encerrou a sessão, "T-Bone Açougue Cultural", de Alisson Machado, retrata a vida dupla do açougueiro e produtor cultural Luiz Amorim, criador do projeto que integra literatura, música e outras expressões artísticas, de forma inusitada, no açougue da 312 Norte. A história de Amorim é rica e interessante, o filme tem humor e memória, celebra um realizador e batalhador pela leitura e pela cultura. Faltou um pouquinho de edição. O filme poderia durar dez a quinze minutos menos, mas nem por isso deixa de ser um grande registro de um dos mais heroicos atores da cena cultural brasiliense.

Bjs!

Clara Arreguy, sexta-feira, setembro 20, 2013. 0 comentário(s).

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O Schindler brasileiro


A primeiro noite competitiva do Festival de Cinema de Brasília começou com dois documentários. O principal foi o longa "Outro Sertão", de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela, uma trabalho espetacular de pesquisa histórica sobre Guimarães Rosa. O filme conta a atuação do escritor como cônsul em Hamburgo durante a II Guerra Mundial e mostra que o autor magistral de "Grande Sertão: Veredas" foi uma espécie de Schindler brasileiro.

Com farto material áudio-visual e depoimentos de várias famílias salvas do nazismo por ação direta de Rosa e de sua companheira, Aracy, que também trabalhava no consulado da cidade alemã e providenciava vistos de turista contra a determinação dos governos brasileiro e alemão, o filme vai fundo em nomes, números e registros históricos.

Os mais impactantes são cartas e anotações do escritor numa espécie de diário que ele mantinha. São marcantes impressões do povo e da cultura alemã, que ele tanto admirava, modificadas pela guerra e pelo nazismo, pela perseguição aos judeus e pela submissão ao regime totalitário. A locução da "voz" de Guimarães Rosa é feita pelo ator Rodolfo Vaz. E há ainda uma deliciosa entrevista concedida pelo escritor a um crítico literário alemão, já em 1962, em que ele explica um pouco sua literatura.

Uma beleza de filme, com inestimável importância histórica e estética. Detalhe: até "Luar do Sertão" interpretada por Marlene Dietrich tem.

Já o curta "Luna e Cinara", de Clara Linhart, que abriu a competição, limitou-se ao que é: trabalho de conclusão de curso, sem grande valor cinematográfico.

Clara Arreguy, quinta-feira, setembro 19, 2013. 1 comentário(s).

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Festival de cinema! Oba!


Começou ontem a 46ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, evento tradicional e uma das melhores coisas que se tem a fazer na cidade todo ano. Ontem foi só a noite de abertura, com concerto da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, regida pelo maestro Cláudio Cohen. No programa, o compositor Erich Wolfgang Korngold com solo de violino do austríaco Benjamin Schmid. Ele e seu Stradivarius deram show (confira na foto de Paulo de Araújo).

O filme apresentado também emocionou. "Revelando Sebastião Salgado", de Betse de Paula, trouxe um belo perfil do fotógrafo mineiro radicado na França há mais de 40 anos. Dono de um trabalho social que não conhece fronteiras, Salgado tem também uma história de vida curiosa e rica, cheia de lances de tensão, emoção e humor.

O documentário passeia pelas fases profissionais de sua vida, do início meio casual ao ofício de fotojornalista e, mais recentemente, aos temas que renderam seus grandes ensaios: a terra, o trabalho, as migrações, e agora a natureza. Este reúne tanto as fotografias do planeta a ser preservado quanto o Instituto Terra, por meio do qual Salgado e sua mulher Lélia replantaram a mata atlântica na fazenda da família, em Aimorés, e atuam na militância ambiental.

Nada de inovador no filme, mas a história e as fotos de Sebastião Salgado falam por si. De hoje em diante, o Cine Brasília, reformado, volta a receber o festival que o brasiliense mais ama. Vamos lá!

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 18, 2013. 0 comentário(s).

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Detonaram a Casa Branca



Ok, o filme é uma sucessão de disparates, mas quando a gente vê o "prêmio Nobel da Paz" Barack Obama doidinho para começar nova guerra no Oriente Médio, as improbabilidades de "O ataque" até que não soam tão malucas assim. Terroristas invadem a Casa Branca para atacar o presidente negro e pacifista e, no caminho, saem detonando um dos maiores símbolos da grande democracia norte-americana. Mas quem está por trás de tudo? Árabes muçulmanos xiitas fundamentalistas exóticos e fora de si? Não!!! A indústria armamentista, é elementar...

Gosto desse tipo de filme de Roland Emerich, como "Independence day" e "O dia depois de amanhã". São cheios de situações mirabolantes e estapafúrdias, efeitos incríveis (sempre detonando a Casa Branca e outros ícones da cultura dos irmãos do Norte), tramas melodramáticas correndo por fora, heróis humanos em busca de redenção... Ideológicos até não poder mais, mas bem feitos.

Aqui, Channing Tatum tenta se tornar agente especial de proteção ao presidente dos Estados Unidos (Jamie Foxx), mesmo com um passado de nunca levar nada adiante, pai distraído, profissional mais ou menos em tudo que faz. O destino o coloca, a ele e à filha (um projetinho de heroína bem simpática, vivido por Joey King) no caminho dos bandidos, chefiados pelo sempre ótimo James Woods, e só lhes resta defender o presidente, a nação, a democracia, a paz...

Ó, se você tem engulhos com essas coisas, não vá; eu me diverti.

Beijocos!

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 11, 2013. 0 comentário(s).

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Detetive freudiano volta a atacar

Nada melhor que um romance policial para entremear entre outras leituras. Acabo de ler agora o terceiro tomo dos casos de Liebermann, Aventuras de um Detetive Freudiano. É o "Mentiras Fatais" (Ed. Record), de Frank Tallis, do qual já havia lido o segundo.

É ótimo! Os protagonistas, mais ainda. Tem o Dr. Liebermann, o médico psiquiatra adepto das ideias do Dr. Freud, de quem se torna, além de discípulo, também amigo, e o detetive Rheinhardt, companheiro de investigações. Ambos muito humanos, com seus brilhos e fraquezas, e uma pitada de humor e ironia.

Na Viena do início do século XX, eles usam métodos "freudianos" e intuitivos para investigar casos policiais. No segundo tomo, surgiam os antecedentes do nazismo incipiente naquela região. Neste terceiro, são as origens da I Guerra Mundial, com os nacionalismos em conflitos no Império Austro-Húngaro.

História, psicologia, questões humanas como paixão, violência e homossexualismo entram de forma inteligente no enredo, com situações e personagens arrebatadores.

Beijões!

Clara Arreguy, sexta-feira, setembro 06, 2013. 0 comentário(s).

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A música de Milton Nascimento



No livro "A música de Milton Nascimento", Chico Amaral comenta que a primeira canção que ouviu do artista foi "Beco do Mota" (Milton e Fernando Brant, do disco de 1969). Coincidência com minha experiência pessoal, pois a primeira que ouvi também foi "Beco do Mota". A diferença é que o autor, compositor e instrumentista ouviu-a cantada numa mesa de bar em Belo Horizonte, enquanto comigo foi ainda mais emblemática: passávamos no próprio Beco do Mota, eu e colegas do Centro Pedagógico da UFMG, numa excursão promovida pela professora de História, Beatriz Ricardina, auxiliada pelo seu estagiário no curso, Flávio Sampaio, que pouco depois, liderança do movimento estudantil em plena ditadura, se suicidou.

Depois de ouvir aquele canto vindo do jovem que trocaria a empolgação pelo desespero, seria de novo "aplicada" pelo meu irmão, Tostão (José Henriques Maia Filho). Ele queria que eu trocasse pelo Clube da Esquina o pop rock norte-americano que me embalava a adolescência nos anos 1970. Não troquei, mas, ainda em meados daquela década de sonhos e lutas, descobri e caí de paixão por Milton e sua turma. O LP duplo que carregava o nome do movimento, grupo, escola, tendência, seja lá o que fosse o Clube da Esquina, virou hino, assim como os que vieram antes e depois: o disco de 1969, que a gente chamava de "Diamantina" por causa do desenho da igrejinha na capa, o "Courage", o "Milton", o "Gerais", e por aí afora.

Quando soube que Chico Amaral estava preparando um livro sobre a música de Milton Nascimento, todas essas lembranças me vieram com a certeza da função formadora que essa história musical teve, não apenas sobre mim, mas com força sobre toda uma geração. E isso não se limitava a Belo Horizonte ou a Minas Gerais. Uma vez, em viagem a São Paulo para um encontro de estudantes, reunimos um grupo de colegas de vários estados para assistir a um show de Toninho Horta, e pude comprovar como o guitarrista, além de Lô Borges e Beto Guedes, era adorado por toda a galera da época.

Milton não só comandava o "movimento", como sempre foi o mais genial, brilhante, iluminado, talentoso deles. Sempre foi um compositor inclassificável – permeia o livro uma tentativa de enquadrá-lo, feita pelo autor e pelos outros entrevistados, músicos, amigos, parceiros, gente que influenciou e foi influenciada por ele, mas que não consegue defini-lo ou responder à pergunta: de onde vem tudo isso?

Cantor de recursos inigualáveis. Letrista sensível. Instrumentista do violão, do baixo, do piano, da sanfoninha, que faz misérias com a voz, como se ela fosse um instrumento a mais, ou vários, ou muito mais que isso. No livro, Chico Amaral analisa, acompanha a evolução da obra, as melodias, as harmonias, os arranjos, se detém em aspectos técnicos que às vezes deixam o leitor leigo boiando, mas que mesmo assim impressionam e que servem – e como! – para estabelecer uma conversa com outros músicos, sobre um assunto que tanto os mobiliza e do qual pouca literatura trata. Mas os comentários técnicos não perturbam a leitura leiga. Eles apenas ilustram a profundidade da investigação buscada pelo autor.

A maior parte de "A música de Milton Nascimento" é ocupada por uma deliciosa entrevista em que Chico busca de Milton respostas: como foi, onde, quando, com quem? O que explica isso e aquilo? É claro que nem tudo obtém resposta, mas para tudo há um caso engraçado, delicioso. Uma conversa de duas inteligências que se respeitam e se entendem. Milton, tímido, mineirão, em relações malucas, engraçadas, com um Vinicius de Moraes todo solto, um Tom Jobim todo social, uma Elis Regina toda estrela (no bom sentido), mais um time brasileiro (Eumir Deodato, Agostinho dos Santos, Chico Buarque, Naná Vasconcelos...) e outro internacional sem par (Mercedes Sosa, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Paul Simon, Jon Anderson, Peter Gabriel, James Taylor...).

Fora essa timidez (ou mineirice) que lhe aconselha discrição na hora de se aproximar de ícones da música, outro aspecto que sobressai é a extrema generosidade de Milton na relação com os pares, parceiros, amigos. Um jeito franco de trazer junto o que é bom, abrir espaço, sem conter o elogio, sem recear jogar luz sobre quem está vindo. A qualidade de agregador ressaltada pelos entrevistados. A capacidade de, mesmo sendo um caso único como criador, nunca estar sozinho, nunca prescindir da amizade, do coletivo.

Além dos textos analíticos e de muitas fotos, o livro traz um ótimo prefácio de Tárik de Souza; um quadro disco a disco do que o autor considera os principais cânones da criação de Milton; um capítulo sobre os letristas – entre os quais ele comparece, parceiro que é na canção "Pietá", que dá nome ao CD de 2002, junto aos principais, Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos; entrevistas com os músicos Wagner Tiso (sem o qual não haveria Milton Nascimento como o vemos hoje, pois os dois nasceram e cresceram juntos, como artistas, em Três Pontas, Alfenas, Belo Horizonte e no mundo), Nivaldo Ornellas, Nelson Ângelo, Tavinho Moura e Amilton Godoy; e 14 partituras transcritas e comentadas por Chico Amaral, outro brinde especial para leitores músicos.

Completa a edição um DVD assinado por Tomás Amaral, filho do autor, que acompanhou a conversa entre Chico e Milton, registrando passagens divertidas – quais não são? – e pontuando aspectos importantes ressaltados pelo estudo da música de Milton: a relação com a cultura negra, com os índios, com Naná Vasconcelos, com Elis Regina... O vídeo comenta e ilustra o livro.


"A música de Milton" é para ler cantando, ouvindo e reouvindo músicas que fazem a cabeça dos brasileiros desde os anos 1960. Atende a fãs ou não de um artista magno da cultura brasileira, da cultura universal desse tempo em que prolifera tanta banalidade. Um artista que foi considerado difícil, mas que já conquistou seu lugar no coração do povo que ele tanto ama e tão bem retrata.

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 04, 2013. 0 comentário(s).

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Qualquer maneira de amor



Que beleza o filme "Flores Raras", de Bruno Barreto, sobre o romance entre duas mulheres, a arquiteta Lota de Macedo Soares e a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop. Li há muitos anos o livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen L. Oliveira, no qual se baseia o filme, então estava ansiosa por conferi-lo. Trata-se essencialmente de uma linda história de amor, um amor diferente do convencional, mas prova da máxima do poeta: qualquer maneira de amor vale a pena!

Como era de se esperar, Glória Pires está maravilhosa no papel da mulher que deu ideia ao governador do Rio, Carlos Lacerda, e criou com as mãos o parque do Aterro do Flamengo, onde estive passeando no último fim de semana, em homenagem pessoal à alma de artista que concebeu tudo aquilo. Glória é uma atriz visceral, ela se transforma nas personagens que vive. E Lota era personalidade ímpar, ousada e anos à frente da mentalidade moralista vigente.

Mas também a atriz Miranda Otto dá verdade e beleza à poeta torturada pelos próprios conflitos, tolhida pela repressão e pela autocrítica que beira a autocensura, uma artista maior na poesia de seu país e de seu tempo.

A única nota que destoa do todo é a figura de Carlos Lacerda, mostrado no filme como homem sensível e delicado, mas conhecido na política como o corvo que rivalizou (até as últimas consequências) com Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Em que pese a boa interpretação de Marcelo Airoldi, perde-se o personagem histórico que foi um dos grandes nomes da UDN naqueles anos 1950 e ajudou conceber e executar o golpe de 1964.

Beijocas!

Clara Arreguy, segunda-feira, setembro 02, 2013. 0 comentário(s).

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