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Delicadeza globalizada

O filme "360" reflete toda a delicadeza do brasileiro Fernando Meirelles, seu diretor. Produzido internacionalmente com elenco de várias nacionalidades, se compõe de histórias entrelaçadas, naquele tipo de estrutura que uma coisa leva a outra: uma garota de programa eslovaca quase se encontra com um empresário inglês, cuja mulher tem um caso com um brasileiro, cuja namorada conhece num voo um pai de família inglês, que conhece nos AA uma russa, cujo marido contrata aquela garota de programa pro seu chefe... e a roda vai girando. Paris, Viena, EUA, Brasil, Alemanha, Eslováquia, Rússia, Londres, as pessoas e os universos se trombando e influenciando, como aquele rufar de asas de borboleta que transforma a vida de quem passar por aqui ou por ali... Interpretações tão diferentes e tão críveis, de artistas de tantos sotaques, tantas paisagens, o filme é sensível como seu diretor, com ótima música e um sinal poético apontando para possibilidades em aberto. O melhor de tudo, disparado, é Anthony Hopkins, num monólogo inesquecível, mas nossos Juliano Cazarré e Maria Flor fazem bonito ao lado de Jude Law, Rachel Weisz e tantos outros. Beijos!

Clara Arreguy, segunda-feira, agosto 27, 2012. 0 comentário(s).

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Comédia romântica, mas nem tanto

Ou melhor, não tão comédia. "Um divã para dois", de David Frankel, emociona pela condução das dificuldades de um casal há 31 anos junto, ou seja, há tempo demais. A intimidade perdida, o carinho renunciado, o diálogo calado... Mas, para variar, apenas a mulher se dá conta, e sofre, produzindo a seu modo uma saída para a crise: pedir uma terapia intensiva. Meryl Streep dar show não é novidade pra ninguém. Tommy Lee Jones, idem. Eles são sutis, contidos, engrraçados e patéticos. Juntos, compõem o casal em desarranjo, com seus momentos cômicos mas, predominantemente, com tristeza pela quase impossibilidade de remendar o que puiu. A lição do filme, conduzida pelo comdiante Steve Carell, aqui no sóbrio papel do terapeuta, é que sim, é possível resgatar sentimentos esquecidos. Sim, tem saída. A gente mais chora que ri, mas se consola com a graça de um final redentor.

Clara Arreguy, segunda-feira, agosto 27, 2012. 0 comentário(s).

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Saramago vive

Um dos meus autores prediletos é José Saramago (1922-2010). Desde que li pela primeira vez uma criação sua – o “Memorial do convento” –, nunca mais parei. Me viciei em sua linguagem aparentemente complicada, mas de uma limpidez admirável.

Aos poucos, fui conhecendo, além da obra, a personalidade forte, as posições políticas e ideológicas do último comunista coerente da militância cultural. Certa feita, editora de Cultura, tive a oportunidade de entrevistá-lo, por telefone, e nunca esqueci a gentileza, a serenidade, as respostas francas e diretas do já então Prêmio Nobel de Literatura.

Creio que ele deixou algumas obras-primas, como “Ensaio sobre a cegueira” (brilhantemente adaptado para o cinema por Fernando Meirelles), “A caverna”, “O evangelho segundo Jesus Cristo”, que lhe rendeu a antipatia da Igreja Católica em seu país, Portugal, e tantas outras.

 Na minha penúltima ida a uma livraria, comprei uma edição de bolso de “História do cerco de Lisboa” (Cia. das Letras, 1989), um de seus livros mais antigos que ainda não tinha lido, e mergulhei nele pensando se tratar de romance na linha histórica, como o “Memorial do convento”. Não é. E qual não foi minha surpresa quando constatei se tratar de uma narrativa protagonizada por um revisor – o revisor de uma “História do cerco de Lisboa” – que decide, sabe-se lá por que, interferir no conteúdo do que está revisando e introduzir uma mudança nos rumos da história.

 Profissional do mesmo ramo, me identifiquei com esse anti-herói impelido a se tornar, de revisor do trabalho alheio, autor da própria obra. Em meio à metalinguagem que vai desenrolando, Saramago não abre mão de filosofar, de criticar, de comentar, como fez até o fim da vida, sempre um dos mais agudos observadores do mundo, da política, da existência. Com brilho e lucidez eternamente invejáveis.

Coluna publicada na intranet do MDS

Clara Arreguy, segunda-feira, agosto 20, 2012. 0 comentário(s).

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