Urucuia, no clima de Rosa
Mesmo que você tivesse saltado a epígrafe do livro, tirada
de Guimarães Rosa, ou a contracapa, onde se lê, na biografia do autor, que ele
escreveu um livro sobre os personagens de Grande Sertão: Veredas, mesmo assim
você em poucas páginas saberia que Urucuia se inspira na obra-prima do escritor
mineiro.
Sou suspeita pra falar do tema porque, assim como Napoleão
Valadares, também sou apaixonada por Rosa e seu Grande Sertão, pra mim a obra
máxima da nossa literatura, o livro mais importante e bom que já li nesses 50
anos em que leio.
Talvez até tenha deixado um ou outro pé atrás no início da
leitura de Urucuia, receando aquele tipo de homenagem que tenta emular a
"musa" e acaba prestando a ela um desserviço. Mas rapidamente
respirei aliviada, pois o romance de Napoleão não comete, nem resvala, esse
tipo de tentação.
Napoleão conta sua história, ou melhor, suas histórias,
ambientadas naquele sertão do Urucuia, naquele universo rosiano, sem pretensão
de ser Rosa. Conta como Napoleão, e o faz muito bem. Os personagens são belos e
cativantes, a começar pelo velho Moisés, com sua sabedoria mansa, seguido por
Jorge, seu neto, "atentado" por uma coisa ruim que mantém acesa a
tensão ao longo da narrativa.
Ao longo do romance os núcleos se cruzam aos poucos, preparando
desfechos que se constroem com calma e domínio narrativo. Linguajar
deliciosamente bem empregado, climas, personagens tensos e densos, a paisagem
sertaneja, seja a da natureza, seja a das emoções humanas – Urucuia agrada,
envolve e emociona, no clima de Rosa, com todo respeito.
Beijos!
Clara Arreguy, quinta-feira, outubro 13, 2016.
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