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Triste e frio como o deserto do Atacama

Novelinha curta, mas muito legal, é "A Contadora de Filmes", do chileno Hernán Rivera Letelier (CosacNaify). Passa-se no deserto do Atacama, nos anos 1950, 1960, auge do cinema hollywoodiano, mas também da produção mexicana que encantava, principalmente, latino-americanos de fala hispânica.

Numa comunidade paupérrima que gira em torno da mina de sal, uma família apaixonada por cinema, mas sem recursos para permitir que todos frequentem as sessões promove um concurso interno para decidir o melhor contador de filmes e elegê-lo para ver tudo - e trazer sua versão para pai e irmãos. A narradora, Maria Margarita, vence o certame, e aos poucos se torna verdadeira celebridade na vizinhança, com sua verve e poder de recriar, com a imaginação, o sonho da sala escura.

Com a ausência da mãe e a decadência do pai, aos poucos a família se desestrutura totalmente, acompanhando também o fim do ciclo econômico da região. Gradativamente, também a função da contadora se esvazia, à medida que entra em cena a televisão, tomando o lugar de John Wayne, Humphrey Bogart, Marylin Monroe e outros ídolos dos velhos tempos. Enquanto isso, a carga da pobreza cai pesada sobre os ombros da protagonista, destituindo-a do que restara dos sonhos de inocência de outrora.

Com narrativa direta e sem pieguice, o autor nos dá uma história simples, triste e dura, como as minas de sal do Atacama, em sua paisagem árida e gélida.

Beijocas!

Clara Arreguy, terça-feira, julho 21, 2015. 0 comentário(s).

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Carneiros alegóricos? Ou metafóricos?

Um livro intrigante é "Caçando Carneiros", de Haruki Murakami (Estação Liberdade), mesmo autor da trilogia de sucesso "1Q84", que ainda não li.

Tudo no romance intriga, embora aparentemente tudo soe simples. Há um narrador de menos de 30 anos que se sente um velho sem perspectivas. Uma ex-mulher. Uma namorada de orelhas incríveis. Um sócio alcoólatra medíocre. Um amigo desaparecido. Um poderoso chefão tomado pelo espírito de um animal. E o estranho carneiro a encontrar.

Do enredo à linguagem, cada aspecto de "Caçando Carneiros" parece ser o que não é. Ambientada no início dos anos 1970, a trama detona com estereótipos do Japão aos quais nos acostumamos. O protagonista sai de Tóquio e vai para o norte, para uma região distante, gélida e inóspita, onde acontecem coisas estranhas, surreais. A namorada some. Bichos falam. Mortos vivem.

Com personagens sem nome e sensações irreais povoando a angustiante procura pelo carneiro que enfeitiça quem dele se aproxima, a constante impressão é de que se trata de uma enorme alegoria, metáfora a ser decifrada ao gosto do freguês.

Não me arrisco a desvendar tais mistérios. Me envolvo na leitura, curto o labirinto em que ele se mete, mas fico com a sensação de que algo me escapou.

Beijos!

Clara Arreguy, sexta-feira, julho 17, 2015. 0 comentário(s).

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Nazismo, como pôde acontecer


Com este título instigante, "Nazismo - Como ele pôde acontecer", Eduardo Sklarz publicou no ano passado, pela Abril/Superinteressante, uma vasta reportagem sobre as raízes históricas e o desenrolar da maior tragédia que se abateu sobre a humanidade no século XX, uma das maiores da História, que redundou no Holocausto de 6 milhões de judeus e na morte de 50 milhões de pessoas na II Guerra Mundial.

Trabalhei com Eduardo alguns anos antes de ele se mudar para a Argentina, onde hoje vive. Conheço seu rigor na apuração dos fatos. Neste livro, ele exercita a investigação profunda e detida, indo desde os primórdios da ideologia que inspirou o nazismo até os desdobramentos práticos da chegada ao poder do Partido Nacional Socialista, passando pela vida de Hitler, suas ideias, o antissemitismo, a Grande Guerra, a política da "solução final" que levou à eliminação física de "inimigos" como judeus, ciganos, homossexuais, incapazes e deficientes vários.

Após o relato de todo tipo de crueldade praticado em nome daquela ideologia, a reportagem nos traz os principais fatos do conflito mundial e do pós-guerra, com o que aconteceu a cada um dos maiores responsáveis pela barbárie perpetrada pelos nazistas. Muitos deles ficaram impunes. E, nos tempos atuais, sua ideologia segue viva, em movimentos neonazistas, antissemitismo, racismo e diversas outras formas de discriminação e perseguição.

Os tempos que vivemos são bicudos. Muitas das piores ideias e práticas do passado recente estão de volta, cada vez mais assumidamente e sem vergonha de posturas intolerantes, violentas, anti-humanas, irracionais. É preciso entender historicamente do que elas tratam e combatê-las fortemente, com a união das pessoas de bem.

O livro de Eduardo Sklarz contribui como um alerta para esses perigos. Parabéns a ele pelo belo e importante trabalho.

Beijos!

Clara Arreguy, quarta-feira, julho 15, 2015. 0 comentário(s).

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Toda a graça de Paulo Betti


O CCBB de Brasília recebe, mais esta semana, a peça "Autobiografia autorizada", de e com Paulo Betti, um delicioso monólogo sobre a infância e a adolescência do ator, que está completando 40 anos de carreira. Mais conhecido pelos papéis interpretados em novelas de televisão, Paulo Betti é um grande artista de teatro e cinema, um militante da cultura brasileira, e agora se mostra também exímio escritor.

O monólogo se baseia em crônicas que publicou em jornal, daí o tom entre o cômico e o lírico para olhar para a própria história familiar e de vida. Entre os mistérios de uma religiosidade impregnada por mitos e fantasmas e o medo em torno da doença do pai, que era esquizofrênico, o pequeno Paulo passou a infância ao lado da mãe, que sustentou a família com o trabalho na roça e como doméstica.

A vida pobre, os pés descalços, os avós imigrantes, tudo serve de material poético e cômico para o ator contar sua história de luta e crescimento. Com a mesma verve, escreve e costura casos da vida no interior aos fatos da vida nacional naqueles anos 1950 a 1970, entre os locutores de rádio e os primórdios da TV, a ditadura, o movimento que o tirou da então pequena Sorocaba para a capital, o mundo, a carreira artística.

Só em cena, Paulo Betti conta, canta, encanta. Sua vida daria um livro. Deu uma excelente peça de teatro. Que ele precisa divulgar como "stand up" por causa de modismo, já que o público costuma confundir monólogo com monótono. Quem não for não sabe o que está perdendo. Além do mais, o espetáculo é lindo e baratinho...

AUTOBIOGRAFIA AUTORIZADA
De Paulo Betti, com Paulo Betti, direção dele e de Rafael Ponzi.
CCBB de Brasília, de quarta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h.
Ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Clara Arreguy, terça-feira, julho 14, 2015. 0 comentário(s).

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Num terraço de Havana


Após assistir ao trêiler do filme "Retorno a Ítaca", de Laurent Cantet, sabia que tinha que assistir a esse filme sobre uma reunião de amigos cubanos em torno de um deles, que se exilara na Espanha e acaba de voltar a Cuba. Do alto de um terraço próximo ao Malecon, Havana aos seus pés, Tania, Aldo, Rafa e Eddy se encontram em torno de Amadeo, que passou os últimos 16 anos fora do país.

Saudade, mágoas, cobranças, balanços, culpas e afetos se misturam na festa do reencontro. Em cena, uma geração que acreditou na Revolução, trabalhou como "voluntária" no corte de cana e na colheita de fumo, que foi reprimida por gostar dos Beatles, que viu a crise empurrar seus filhos para Miami, que hoje mal se sustenta com os salários de médicos, artistas e professores.

O amigo que se foi, e que deixou a mulher morrer de câncer à distância, inspira sentimentos extremos. Até revelar um segredo, responsável por sua fuga do país, acusações mútuas se farão. Afinal, se Amadeo agiu como um covarde, Rafa se tornou alcoólatra, Tania fracassou como profissional e como mãe, Aldo é um conformista e Eddy se corrompeu.

O filme não acusa nem defende. Apresenta Cuba e os cubanos com as críticas e simpatias possíveis. Numa estrutura de câmera na mão e gravações quase amadoras, centra-se no texto e na interpretação dos atores, um time consistente e cheio de verdade.

É, não é fácil ser cubano. Nem brasileiro. Nem humano.

Beijos!

Clara Arreguy, segunda-feira, julho 13, 2015. 0 comentário(s).

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