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Palavras delicadas

Recebi do jovem escritor brasiliense Alexandre Pilati a seguinte mensagem sobre meu Tempo seco:

Cara Clara,
Recebi pelo meu pai o seu "Tempo Seco". Obrigado pelo livro. E obrigado outra vez. Pelo que li. De fato você conseguiu dar uma solução estética para o olhar estrangeiro-familiar que se estende sobre uma cidade já com algumas raízes, mas que recebe gente desenraizada de todo lado. Graças a esse estranho viver, as pessoas entortam-se, umas outras secam, feito árvores do cerrado. Todas gritam em silêncio, até as que se fecham em copas. Assim é a sua prosa: familiar feito um papo no táxi, mas à altura das exigências da cidade de que você fala e da história que se propôs a contar. É belo e acre o seu livro e tem uma grande coragem: nos arranha, como quem abraça árvore daqui. Outra grande coragem: falar do tempo próximo de nós, que a bruma da história ainda não toldou. Isso é difícil de fazer sem cair em clichês preconceituosos, ou "exatismos didáticos", ou uma ideológica "isenção" pseudo-jornalísitca. A autora, Clara, dribla tudo isso.
Você pôs a serviço da ficção as melhores ferramentas da ágil língua do jornal. Que coisa!Enfim, que bom que você está aqui, que adotou este tempo seco e esta cidade. Que bom que a minha cidade pode ter a sua voz.
Um grande abraço!
Alexandre Pilati

Clara Arreguy, quarta-feira, maio 27, 2009. 1 comentário(s).

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Salman Rushdie de primeira

O romance A feiticeira de Florença, de Salman Rushdie, é uma viagem por dois mundos em tempos antigos. Ambientado no século 16, conta a história de um rapaz italiano que vai parar na corte do imperador indiano Akbar, o Grande, e lhe conta narrativas sobre uma antepassada dos dois, Qara Koz, misteriosa e maravilhosa mulher que teria sido eliminada da história familiar após ser roubada pelos otomanos e ter fugido, posteriormente, com um italiano que se tornara general dos turcos, o legendário Argalia. Argalia vinha a ser amigo de infância de Vespucci (pai do italianinho) e de Il Machia, ninguém menos que Maquiavel. Entre lendas e sonhos, casos da Florença dos Médicis, da Pérsia, da Índia e da Turquia se entrelaçam com o recém-descoberto Novo Mundo, numa intrincada trama entre histórica e fantástica. Uma delícia de romance de um escritor de grandes livros.

Beijos!

Clara Arreguy, domingo, maio 24, 2009. 0 comentário(s).

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Tempo seco analisado

Recebi esta mensagem do escritor (autor do excelente Peise morto) e professor de literatura Marcus Freitas e gostaria de compartilhar com meus leitores:

Clara, minha querida,

Acabei hoje cedinho de ler o Tempo Seco. Quando cheguei do lançamento na segunda-feira (desculpe termos saído à francesa, tínhamos um compromisso), já era tarde, mas ainda assim li um bocado. Ontem dei duas sentadas e fui quase ao fim. Hoje cedinho acabei. Aqui vão portanto as impressões da primeira hora.

O impacto é grande. Você escreveu um texto muito bom, com uma dicção muito própria, uma voz logo reconhecível pelo leitor. O texto é também muito, muito corajoso, naquilo que ele tem de aparentemente sombrio, mas no fundo de profundo experimento de iluminação. Talvez você nem se dê conta dessa coragem. Ou melhor, acho que você se dá conta sim, mas talvez preferisse que os leitores não a vissem de maneira tão escancarada, porque ela destrói mitos que te eram caros. Sei que estou soando meio confuso, mas vou me fazer entender, por partes. Por enquanto, fico nisto: seu texto é sombrio e melancólico no primeiro impacto, porque conta a história de uma terrível decepção, uma perda avassaladora da ingenuidade e das ilusões, e por isso ele acaba por ser iluminador. E por isso mesmo ele é muito corajoso, sendo você quem é. Então vamos lá.
Vou falar, por um lado, do percurso de iluminação através da perda das ilusões (um elemento da trama e da posição ideológica do texto), e vou falar, por outro lado, das opções narrativas para realizar esse percurso. Há coisas de que gosto e não gosto nas duas operações, e há algo de engraçado: como num quiasmo, o que dá grandeza ao conteúdo iluminador é uma escolha menor, a meu ver, do ponto de vista narrativo.

Começo pelo início: o romance me incomodou muito no começo, por causa da militância emocional da Míriam a favor do governo Lula, com cenas de petismo explícito, tais como o capítulo COMO DONA MARIA TERIA (p. 47). Meu malestar vinha de dupla fonte: a primeira é que essas digressões militantes pareciam gratuitas diante da narrativa até ali; em segundo lugar, porque, como talvez saiba você, nunca fui petista, nunca votei no Lula, nem nos momentos em que o voto útil pareceu mais necessário. Meu anarquismo individualista nunca deu a menor bola para o leninismo petista. Nunca achei e não acho que o mensalão e todas as outras diatribes fossem acaso. Para mim, foram sempre o evento natural de um partido revolucionário e, portanto, corrupto, mentiroso, sórdido, etc, etc. Sempre achei a posição da Míriam e do Rodrigues, que liam tudo aquilo como desvio de uns poucos ao contato com o poder, de uma ingenuidade sem fim, de uma ingenuidade muito útil para os leninistas da hora.

Bem, mas algo me dizia que o petismo no romance era tão explícito que não podia ser gratuito, e segui em frente esperando no que ia dar, na expectativa de uma virada. Ao mesmo tempo, me incomodava também certo realismo socialista, como no capítulo diginificador do Velho Leôncio, elogio emocionado da classe trabalhadora, mas fui em frente. A essa altura você deve estar pensando: "Meu caro amigo Marcus, meu querido Baquinha não gostou nem um pouco e leu o livro como um tremendo reacionário". Sabe, no entanto, que não é isso. Conheço e respeito bastante você para saber da enorme dignidade da sua posição política pessoal, da sua tradição familiar (aliás, o Miro tem muito do Tostão, não tem não!?), da sua crença real e sincera nessa mistura de socialismo teórico e prática cristã, que aparece na descrição que o Antônio de Pádua faz do Nonato, à página 36/37: "Nonato, você pode não ter misticismo, desconsiderar a espiritualidade, mas não deixa de ser um crédulo. Olha sua postura diante da política, diante do amor. Quer alguém mais crente, esperançoso e caridoso que você, meu amigo, só para citar as virtudes teologais do catecismo que você abandonou?". Assim sendo, lia com afinco, incomodado, mas com uma pulgona atrás da orelha: "será que a Clara vai fazer o Rodrigues e a Míriam caírem do cavalo, das nuvens? Será que ela vai ter essa coragem? Será que ela vai se impor essa amargura?"

E você fez. Não tenho certeza de até onde você fez a queda com toda a consciência, mas ela está lá explícita. Você a fez com toda a consciência narrativa, com certeza, mas não sei se com toda a consciência moral do seu ato. Acho que sim, e por isso falei no começo em desmedida coragem. Explico: a queda do Rodrigues do alto das suas ilusões amorosas é a alegoria acabada da queda dele e da Míriam das ilusões partidárias, revolucionárias. Foi isso mesmo que você quis fazer? Pois foi exatamente isso que você fez, mesmo que a intenção não tenha sido essa! Você contou, alegoricamente, a perda das ilusões longamente acalentadas pelas personagens (e talvez pela autora) no revolucionarismo leninista, que se revela afinal com o rosto que sempre teve, desde o começo: a canalhice da Dorinha e a rapacidade do Ezé, mestres em fazer de bobo o Rodrigues, constituem homologias perfeitas dos dirigentes do PT fazendo de bobos os seus militantes sinceros e ingênuos, uma vez que o Rodrigues é o possuidor das duas ingenuidades.

Ao final da narrativa, no capítulo aterrorisante em que o Rodrigues se contempla como um imbecil, corno, burro, idiota, mané, você não avança no tópico da desilusão política, mas não precisa, pois a homologia está explícita. Essa corajosa mirada no espelho que devolve a imagem de um tolo, foi feita pela narradora no capítulo final: "A quem odiar então? A quem me traiu, me enganou, me fez de boba? Odiar a mim mesma, que me fiz de boba para ser feliz, e fui. É este o ponto: queria tanto ser feliz que não podia abrir mão daquele momento em nome do conhecimento. Sabedoria implicaria sofrimento, e isso eu não queria, eu não aguentava". Mas, o mais legal vem aqui: depois dessas orações duríssimas, a narradora reconstrói o mundo, como o Álvaro de Campos faz ao final da Tabacaria, "sem ideal nem esperança", mas com uma dignidade imensa diante de si mesmo: "Tem culpa quem? Não odeio ninguém". Acho de grande beleza essa forma da narradora se redimir da ingenuidade, de não se ver como uma pateta, mas como um ser humano que acredita e erra, vive de errância. Muito dessa dignidade está na escolha do Antônio de Pádua para ser aquele que vê tudo desde o começo. Fui em busca do significado, que com certeza foi intencional para você, mas que eu, sem formação religiosa nenhuma, tive de procurar:
Santo Antônio de Pádua: Protetor dos pobres, o auxílio na busca de objetos ou pessoas perdidas, o amigo nas causas do coração.

O fato de você ter trazido a voz final para a narradora, retirando o foco da Míriam e do Rodrigues, foi a estratégia de dar grandeza ao percurso sombrio do livro. Entretanto, quero criticar um pouquinho essa estratégia, do ponto de vista narrativo. Preferiria que, enquanto romance, você tivesse mantido o plano ficcional, fazendo a Míriam ter esse choque final de consciência, e não a narradora, que em última instância não tem como ser outra senão você, em função do modo como ela foi montada. Volto então ao começo, para falar dessa estratégia narrativa.
No começo as referências ao percurso da Míriam são todas na 3a pessoa, tipo: Míriam "se pegou comentando", ou "Mineira e atleticana doente, [Míriam] sempre teve entre as figuras mais insuportáveis..." (ambas as referências na página 13). Na página 30, aparece a primeira intromissão da narradora, que se quer confundir com a Míriam. Em vez de dizer que a história poderia ser diferente, como Míriam ouviu em Brasília, o texto diz: "como OUVI algumas vezes aqui em Brasília...", usando a primeira pessoa. Essa mistura intencional é que permite, no último capítulo, trazer toda a reflexão para o campo da narradora e dar à meditação sobre as ilusões políticas a sua dose cavalar de coragem, no processo de desmitificação do autoengano (aliás, já leu o AUTOENGANO, do Eduardo Gianetti? Se não leu, leia!). Entretanto, acho que a narrativa perde ao ser desmascarada a ficção no começo do capítulo final. Ao fazer o movimento de reflexão metatextual ("Essas histórias não foram contadas por ninguém...") você diminuiu o valor ficcional da trama de amor traído tão bem arquitetada, com os grandes e universais personagens da Dorinha, do Rodrigues e do Ezé. Preferia que você tivesse feito a Míriam, e não a narradora, assumir a reflexão que começa na frase "Ninguem traiu ninguém." O estatuto ficcional teria dado ainda mais impacto ao seu estudo das ilusões perdidas. Mas eu aceito sua escolha, porque ela tornou mais corajosa a sua desmitificação do autoengano político.
Será que li com alguma clareza? Com certeza li com gosto. Quero mais.

Beijos de amigo e autor.

Marcus Freitas

Clara Arreguy, sábado, maio 23, 2009. 0 comentário(s).

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A volta de Star Trek

A correria foi tamanha que não comentei nem o ótimo novo filme de Star trek, uma ideia genial de contar a infância e juventude de Kirk, Spock e cia., como tudo começou antes de entrarem para a frota estelar. O roteiro inteligente conduz o espectador, fã ou não da série original de tevê, por deliciosas aventuras de nossos heróis, incluindo aí Uhura, Sulu, Checov, McCoy e Scotty. O elenco de jovens agradou em cheio, a começar por Zachary Quinto, que faz o terrível Sylar no seriado Heroes. Cheio de acertos em quesitos como elenco, roteiro, ritmo, música etc., Star trek merece ser visto por quem conhece e por quem deseja conhecer uma série cultuada há mais de 40 anos.

Beijos!

Clara Arreguy, terça-feira, maio 19, 2009. 0 comentário(s).

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Coração em festa

Fiquei ausente alguns dias porque estava em preparativos para o lançamento do meu novo romance, Tempo seco, em Brasília (dia 13 deste mês) e BH (dia 18, ontem). Passada a correria, volto ao trabalho cotidiano com o coração em festa pela receptividade tão boa que tive, em duas festas maravilhosas, nas quais fui abraçada e apoiada por amigos de toda parte. Fiquei feliz, reencontrei amigos, fiz novo, vendi livros, foi muito muito bom. As festas, no Bar Brahma, com a supercortesia do Jorge Ferreira, e no Cozinha de Minas, idem do Ramon Fiúza, foram concorridas e em clima de alegria e afeto.

Obrigada a todos. Nos próximos dias volto aos comentários literários e culturais em geral.

Abraços e beijos em todos!

Clara Arreguy, terça-feira, maio 19, 2009. 0 comentário(s).

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Como tudo começou

Os fãs de quadrinhos Marvel podem até não ter gostado de X-Men origens: Wolverine, mas o filme está bombando em seu primeiro fim de semana, no Brasil e por onde estreou, com méritos. O público da série gostou de saber como tudo começou, de onde vieram o herói e seus poderes, e herói e seus traumas. O charme de Hugh Jackman sozinho não asseguraria o sucesso do filme não fossem a trama envolvente, os efeitos especiais e a curiosidade em torno das origens e consequências daquela saga de mutantes. Claro, não é nenhuma Brastemp, mas um filme de ação com boa dose de interesse.

Beijocas!

Clara Arreguy, domingo, maio 03, 2009. 0 comentário(s).

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