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Aula de história e amor à arte



Outro filme de peso em cartaz, mas que não concorre ao Oscar por ter estreado somente este ano, é "Caçadores de Obras-Primas", de e com George Clooney. Ele conta a história real de um comando criado durante a II Guerra para tentar defender obras de arte que os nazistas saqueavam e/ou destruíam. Formado por especialistas em arte, mas não em guerra, o grupo tinha curadores de museu, arquitetos, artistas, amantes da cultura, pessoas sem idade nem preparo para enfrentar inimigos no fronte, mas que nem por isso recuaram. Eram sete, mas alguns tombariam pelo caminho, vítimas das balas dos alemães.

O objetivo dos caçadores de obras-primas era resgatar ou proteger peças de Michelângelo, Rembrandt, Picasso, nomes universais da criação humana. Milhares de peças foram sendo estocadas pelos nazistas em esconderijos supersecretos, devido ao seu valor financeiro. Mas muitas vinham sendo destruídas sistematicamente, em especial as de cunho mais moderno.

Com um elencão, encabeçado por ele mesmo e por Matt Damon, Cate Blanchett, John Goodman, Bill Murray e Jean Dujardin, o filme conta a história em ritmo de aventura, com toques cômicos e dramáticos, suspense e aulas de história política e artística. Uma bela produção, com qualidades para agradar a diversos públicos.

Beijocas!

Clara Arreguy, quarta-feira, fevereiro 26, 2014. 0 comentário(s).

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Novelão americano


Podem falar o que quiserem das novelas brasileiras, mas uma coisa é certa: temos know how em melodramas. Somos imbatíveis no ramo. Basta comparar nossas produções, por exemplo, com o filme Álbum de Família, de John Wells, com Meryl Streep e Julia Roberts disputando o Oscar, respectivamente, de atriz principal e coadjuvante. Elas de fato arrebentam, mas o filme é tão over, que acho difícil emocionar de verdade.

E não faltam situações para tal. Com uma família toda desestruturada e sem aptidão para o afeto, os embates entre mãe, filhas, tios e primos se sucedem entre gritos e espinhos, mas emoção que é bom, só mesmo com as interpretações. O texto deixa a desejar - ou "a não desejar", como diria a Tia Neném...

Meryl Streep já perdeu as contas de quantas vezes foi indicada ao Oscar (ela não, mas eu, sim). Não é pra menos. Como a mãe viciada em bolas e com avançado câncer de boca, dá show do início ao fim do filme. O marido (Sam Shepard) se mandou. Com as filhas, não há entendimento, respeito, carinho. A irmã tem um segredo que não se pode revelar antes de ver o filme. E vai por aí afora.

As irmãs, feitas por Julia Roberts, Juliette Lewis e Julianne Nicholson, também são um espetáculo. O problema é o tom sempre acima, num texto pontuado por paroxismos, na tentativa de mostrar "a vida como ela é". Era pra todo mundo sair chorando do cinema, mas eu só consegui ter pena de personagens tão sem nuances.

Beijus!


Clara Arreguy, quinta-feira, fevereiro 20, 2014. 0 comentário(s).

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Forte candidato ao Oscar


O Oscar deste ano não vai ser fácil. A cada novo filme que vejo, crescem as dúvidas, principalmente sobre as categorias de atores. Ontem (dia 16), o filme de Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão, mostrou sua força e ganhou o troféu melhor do ano pelo Bafta, a premiação anual britânica. Com uma história incrivelmente triste e interpretações brilhantes, o filme é fortíssimo candidato - no meu entender, ao lado de O Lobo de Wall Street e Gravidade. Dos que vi, Trapaça não tem o mesmo nível desses três...

A história de um homem livre, do norte, Solomon Northup, que é sequestrado e vendido como escravo, com papéis falsificados, e passa 12 anos nas lavouras do sul, sofrendo todo tipo de violência, já rende drama e boas denúncias. Só que o filme vai mais fundo. Fala de dignidade, da luta não apenas para sobreviver e reconquistar a liberdade, mas também para não carregar na consciência a rendição à brutalização à qual Solomon é submetido.

Solomon toca violino, tem uma bela família e vive como homem de bem, respeitado por sua comunidade. Nas andanças como escravo, na colheita de cana e de algodão, assiste ou participa de torturas, humilhações, barbaridades, estupros, terror físico e psicológico. Resiste como pode. Até conseguir provar quem de fato é e deixar para trás o pesadelo de 12 anos.

Chiwetel Ejiofor (na foto com o também ótimo Michael Fassbender) ganhou ontem o Bafta. Na pele de Solomon, confere a grandiosidade épica que o papel e o drama requerem, com suas nuances de sofrimento que conectam o espectador sem apelar para a lágrima fácil. Um filme duro, mas delicado, com uma recriação perfeita desse momento tenebroso da chamada civilização ocidental.

Beijos!

Clara Arreguy, segunda-feira, fevereiro 17, 2014. 0 comentário(s).

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O primeiro caso do detetive freudiano

Depois de ler os volumes 2 e 3, finalmente consegui acesso ao Trapaça Mortal, volume 1 dos casos de Liebermann, o detetive freudiano criado pelo inglês Frank Tallis (Record). Além de ótimas como tramas policiais, as aventuras de Liebermann e seu amigo Reinhardt são bem-humoradas e excelentes aulas de história. Diversão e aprendizado.

Ambientados no início do século XX, em Viena, os livros giram em torno de um médico exercendo os primórdios da psicanálise num hospital onde ainda preponderam métodos de tortura no tratamento de histeria e outros "males" pelos quais a cultura masculina subjugava mulheres pouco adaptadas. Liebermann vai contra tudo isso, bate de frente com chefes e pares, consulta seu guru, o Dr. Freud em pessoa, e ainda tem tempo para namorar, ajudar a polícia a investigar casos de homicídio, beber com os amigos, assistir a belos concertos de Mahler e tocar piano com o parceiro policial.

Com tantas vertentes, a narrativa é interessante, divertida, instigante. Nesta trama, como nas demais, há ainda a vertente política. O pangermanismo que originou o nazismo está em plena efervescência entre certa elite austríaca naquele momento histórico. O anti-semitismo ganha fôlego, e personagens judeus, como o brilhante Liebermann e o próprio Freud, representam os alvos perfeitos da discriminação.

Conduz tudo, um crime misterioso, em que uma bela mulher, médium, foi morta com um tiro de uma bala inexistente, dentro de um quarto trancado por dentro, com sinais de magia negra e de deuses pagãos desafiados. Só mesmo a inteligência, os conhecimentos do inconsciente e o feeling de nosso herói para sair dessa.

Beijins!

Clara Arreguy, segunda-feira, fevereiro 17, 2014. 0 comentário(s).

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O jeito americano de trapacear


Pelo jeito, as mazelas norte-americanas vão estar todas nesta edição do Oscar. Além de "O Lobo de Wall Street", também "Trapaça" mostra um pouco do american way of life por meio da história de um casal de trapaceiros. Nos anos 70, eles vivem de aplicar golpes nos incautos, fazem sua pequena fortuna, mas chamam a atenção de um agente do FBI, que os chantageia para ajudarem a capturar peixes maiores.

O filme de David O. Russell traz ótimas interpretações de Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper (os três na foto) e uma surpreendente Jennifer Lawrence, no papel da mulher traída do protagonista, que entra pra avacalhar e acontece - fora uma aparição pequena, mas digna de nota, de Robert De Niro, em mais um mafioso violento.

Com um roteiro cheio de reviravoltas e de lances cômicos, apresenta, portanto, muitos parentescos com o "Lobo", embora um Scorsese seja sempre um Scorsese.

Detalhe não menos importante: ambos têm fantásticas trilhas sonoras. A de "Trapaça" é a trilha da minha vida, da minha adolescência nesses mesmos anos 70 tão bem reproduzidos.

Beijus!

Clara Arreguy, sexta-feira, fevereiro 14, 2014. 1 comentário(s).

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Do best-seller pro cinema


Adaptações da literatura para o cinema quase sempre saem perdendo. Ou seja, livros costumam ser melhores que filmes. Não é 100% das vezes, mas 99%... Assim, é claro que a versão cinematográfica de "A menina que roubava livros", dirigida por Brian Percival, não estaria à altura do best-seller de Markus Zusak.

O filme não consegue recuperar toda a tensão com que lemos a história de Liesel, em sua resistência ao nazismo, em plena II Guerra, na Alemanha, usando a leitura e a imaginação literária como forma de sobrevivência. Mas alguma emoção sempre sobrevive. Principalmente quando se tem um ator como Geoffrey Rush.

No papel de Hans, o pai adotivo de Liesel, é Rush quem responde pelas cenas mais emocionantes do filme, ao lado da protagonista, a bela e comovente Sophie Nélisse (os dois na foto), do pequeno Nico Liersch, que faz o amigo Rudy, e de Emily Watson, como Rosa, a mãe adotiva, os personagens que funcionam como os principais pilares da narrativa se asseguram.

Recriar o ambiente da Alemanha nazista, com o clima opressivo do totalitarismo, os hinos racistas, as fogueiras de livros, os ataques aéreos, a perseguição aos judeus (um dos quais a família de Liesel esconde no porão), tudo isso é importante para o romance e para a memória. Quando uma boa história traz consigo episódios da História que não se pode esquecer, isso já vale a pena.

Beijocas!

Clara Arreguy, terça-feira, fevereiro 11, 2014. 1 comentário(s).

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Metáforas sociais e políticas

É antigo, mas eu não tinha lido. Falo de "Hotel Brasil", de Frei Betto (Editora Ática), mais que um mero romance policial, um painel social e político do país naquele momento - 1999 - e com graves questões abertas até hoje.

O frade escritor ambienta num hotelzinho fuleiro da Lapa, no Rio de Janeiro, um crime bárbaro, com cabeça decepada e olhos arrancados, e tece em torno dele uma rede de personagens intrigantes que habitam aquele lugar. Metáfora clara sobre o povo brasileiro. Um travesti, uma cafetina, uma doméstica com sonho de atriz, um jornalista beberrão, um assessor político cheio de esquemas...

O fio condutor é um homem que veio do interior com desilusões amorosas, estudou em seminário e desenvolve trabalho social com crianças de rua. Mais violência e criminalidade cerca também esse ambiente. Cândido - outro nome metafórico - se envolve com uma pequena órfã, ao mesmo tempo em que se apaixona por uma mulher, com quem pretende formar uma família para adotar a menina.

Enquanto a polícia tortura e bate cabeça sem solução para o crime, novos ataques ocorrem, apontando para a hipótese do serial killer. Embora a solução do problema seja previsível, é na descrição desse Rio violento, dessas personagens sem rumo, dessa falta de ética generalizada, que residem as melhores qualidades do romance, o domínio narrativo do escritor Frei Betto.

Beijins!

Clara Arreguy, sexta-feira, fevereiro 07, 2014. 0 comentário(s).

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Freud, Lacan e Hitler

Sou adepta da tese de que leitura difícil é uma espécie de malhação para o cérebro. Cada vez que venço o desafio de ler algo que não domino, sinto-me mais inteligente - ou pelo menos tentando sê-lo. Acabo de ler "A fantasia da eleição divina - Deus e o homem", de Sergio Becker (Companhia de Freud Editora), um estudo, com base nas teorias de Freud e Lacan, sobre Hitler e o Holocausto.

Apesar de difícil, mesmo, principalmente porque os conceitos lacanianos operam numa linguagem nem sempre acessível, a partir de códigos diferentes da linguagem usual, o livro circula também pelos aspectos históricos, o que lhe confere maior legibilidade.

Para explicar Hitler e sua relação com os judeus, estuda as raízes do anti-semitismo, as relações ente os judeus e outros povos desde a Antiguidade, outros aspectos do racismo, de preconceitos e discriminações. O autor é psicanalista brasileiro e judeu. Morou em Israel. Conhece o que diz.

Costurando a interpretação de uma psicose de Hitler com fenômenos históricos e políticos, ele joga luz sobre a "solução final", que tentou eliminar da face da Terra todo um povo, sob alegações que vão do moral e do religioso ao pseudocientífico, conforme as armas usadas pelas forças que atuaram naquele momento tenebroso da humanidade.

Apesar de leitura desafiadora e muitas vezes espinhosa, o livro é elucidativo de uma situação que ainda percebemos por aí, travestida de outros "ismos", mas igualmente nefasta.

Beijos!

Clara Arreguy, quinta-feira, fevereiro 06, 2014. 0 comentário(s).

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