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Cordel divertido

A comédia O homem que desafiou o diabo se ambienta no Nordeste da cultura popular, dos tipos míticos que protagonizam as aventuras de cordel. Zé Araújo, que dá uma guinada na vida e se torna Ojuara, o herói mulherengo e defensor da liberdade, percorre o sertão dessas histórias divertidas. Oprimido pela mulher fogosa e pelo sogro "turco", rebela-se, dá uma surra em cada um e parte para o mundo, a enfrentar desafios como fantasmas, o capeta, um touro brabo, valentões de todo tipo, até uma mulher com características sexuais apavorantes para um homem. No meio do caminho, folga em meio à mulherada, apaixona-se, vive emoções. Marcos Palmeira, com carisma e uma interpretação convincente, lidera o elenco de atuações consistentes. Diversão maliciosa, com texto popular, que supera até quebras de ritmo eventuais na narrativa.

E beijos!

Clara Arreguy, sábado, setembro 29, 2007. 0 comentário(s).

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O top dos escritores

Meu autor predileto, nos últimos 10 anos, Philip Roth, acaba de ter lançado no Brasil seu mais recente romance, Homem comum. Na linha do anterior, O animal agonizante, agora mais do que nunca, o escritor norte-americano de origem judaica trabalha as questões da morte. Saúde e doença traçam a linha narrativa de Homem comum, que começa com o enterro do personagem central para depois voltar à infância (e suas doenças), à maturidade (idem) e à velhice (mais ainda). A angústia da finitude, da perecibilidade, da fragilidade que cerca o corpo e lhe reduz a transcendência conduz a trajetória de um homem que não foge à norma, mas nem por isso deixa de atrair interesse em sua incansável busca por felicidade. O melhor de tudo, sempre, é a escrita de Philip Roth. Quem me dera escrever como ele!

Beijocas!

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 26, 2007. 0 comentário(s).

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Texto triste

Cão sem dono, de Beto Brant e Renato Ciasca, ambientado em Porto Alegre e baseado em romance de Daniel Galera, mostra dois jovens à procura de sentimentos que limitações da própria vida impedem a maior parte do tempo. Ciro e Marcela se gostam, estão juntos, mas a doença dela e e a falta de perspectiva dele empurram a relação para um beco sem saída. Não há futuro, não há construção, há apenas o desejo. Quando se trata de amadurecer, isso dói: ele bate cabeça, precisa mudar, encontrar saída, construir-se. O filme, que poderia rumar para o tom excessivamente literário, despreza o texto escrito e parte para diálogos improvisados, cujo ponto de partida é a literatura de Daniel Galera, mas só. O resultado surpreende pela naturalidade, pela poesia, pela força. Intérpretes pouco conhecidos desempenham os papéis com impressionante vigor. Uma beleza de filme.

Beijos!

Clara Arreguy, segunda-feira, setembro 24, 2007. 0 comentário(s).

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Passado e futuro

Duas viagens ao passado encaminham para um futuro sombrio no filme chinês Em busca da vida. São duas histórias paralelas: um homem vai a uma lingínqua província à procura da ex-mulher e da filha, que não vê há 16 anos. O lugar, à beira de um rio, está sendo inundado por uma represa e sumindo do mapa. Na outra narrativa, uma mulher procura o marido que não vê há dois anos e vai bater na mesma região. O ambiente de demolição com o qual eles deparam faz alusão à realidade contemporânea da China. Nada de efeitos especiais, adagas voadoras, lanternas vermelhas, cores vibrantes. Assim como os sentimentos dos personagens, o país se desfaz e refaz em outros termos, enquanto às pessoas só resta seguir numa procura que poderá ou não ser bem-sucedida. Um belo filme, lento, introspectivo, marcado por longos planos e muito o que pensar.

Beijins e boa semana!

Clara Arreguy, domingo, setembro 23, 2007. 0 comentário(s).

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Dá pra rir

A comédia Ligeiramente grávidos até que é engraçada. Conta a história de um cara e uma menina que ficam juntos numa boate e, bêbados, transam sem camisinha e ficam grávidos sem se conhecer direito. O processo de encontro entre seres tão diferentes - ela, careta, profissional em ascensão numa emissora de TV, e ele, maconheiro, à toa, gozador, um bon vivant - propicia boas piadas, principalmente porque irreverentes e sem preocupação com censura. Há ainda a família careta dela e a turma de doidões dele, de linhas igualmente opostas. Dá bem pra rir. Não muito mais que isso, mas já vale.

Beijocas!

Clara Arreguy, sexta-feira, setembro 21, 2007. 0 comentário(s).

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Pra dizer adeus

Em Belo Horizonte, nesta época do ano, os ipês-rosas estão completamente floridos, enfeitando as ruas da cidade, de maneira surpreendente, em plena seca, em pleno final de inverno. Aqui em Brasília, a primavera se antecipa nas floradas das buganvílias de tantas cores que, pelo menos nos caminhos que mais percorro, ali pelo Sudoeste, decoram o canteiro central da avenida. Cores de uma estação dúbia, que ainda é inverno e já espanta o frio, que anuncia flores antes da hora, antes da chuva.
O tempo, a paisagem, o horizonte amplo que se expande nos caminhos do Planalto Central ajudam a confortar a dor da perda. Quando se tem que enfrentar a morte de uma pessoa amada, poucos são os consolos possíveis. A vida, certamente, está à frente deles. A natureza, a beleza da criação. Quando morre um velhinho que viveu 91 anos de dignidade e retidão, mesmo com o coração em lágrimas é preciso considerar o que mais importa: celebrar a vida dele, não lamentar sua morte. Mesmo porque todos têm a morte como destino. Todos têm direito a ela.
No leito do hospital, na tentativa de prolongar-lhe a vida, médicos e tecnologias procuram compensar os órgãos que vão deixando de funcionar. Enfiam-lhe tubos, aplicam-lhe remédios, ocupam-no com máquinas que respiram, filtram, cumprem o que o organismo não dá mais conta de fazer. Nessa mexida, é preciso, amorosamente, aceitar o fim. Antes que o corpo amado seja tão vilipendiado que se neutralize sua condição humana e se coisifique a pessoa. Aquele corpo ali sedado, furado, revirado – ok, estão tentando devolver-lhe a vida, mas será que não está por aí o limite da dignidade?
Por mais dolorosa que seja a morte, precisamos, em nossa cultura, aprender a aceitá-la melhor. Caminhamos inexoravelmente para ela, no entanto tantas vezes nos desesperamos diante da perda do outro. Isso quando, tantas vezes, o outro se sentia cansado, já havia percorrido seu trecho nesta travessia e merecia o justo descanso. Assim vale a pena morrer: quando a perspectiva de futuro não há mais e o anseio do crente é reencontrar o Criador. De olhos mirados na poesia da vida, na beleza da vida, no milagre diário da vida.

publicado no Correio Braziliense em 14/09/07

Clara Arreguy, segunda-feira, setembro 17, 2007. 2 comentário(s).

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Dois bons nacionais

Depois de um tempo sem tempo de ir ao cinema, neste fim de semana conferi dois bons filmes nacionais: Primo Basílio, de Daniel Filho, e Cidade dos homens, de Paulo Morelli. O primeiro, em estilo dramático condizente com o romance de Eça de Queirós no qual se baseia, promove um interessante casamento de Eça com Nelson Rodrigues, ao ambientar a história de traição e chantagem na São Paulo dos anos 50. Em que pese a qualidade do triângulo amoroso central, com Débora Falabella, Fábio Assunção e Reynaldo Gianecchini muito bem (este último, inclusive, sem resquícios do modelo lindo e canastrão), o baile fica por conta de Glória Pires e de toda a situação da luta de classes entre patroa e empregada.
Já no segundo filme, ainda melhor, o drama dos meninos que crescem nas violentas favelas cariocas ganha problemática mais universal, ao colocar em cena a questão da paternidade, na procura de Laranjinha por seu pai e na exigência de que Acerola assuma pra valer o filho. E há ainda o embate entre lealdades, seja na guerra entre traficantes ou na amizade entre os rapazes, posta em questão por problemas do passado e do presente. Os jovens Douglas Silva e Darlan Cunha confirmam que não eram promessas mirins, mas atores completos, comoventes.

Beijos e boa semana!

Clara Arreguy, domingo, setembro 16, 2007. 0 comentário(s).

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John e a japonesinha

Se você pensa que estou falando de Lennon e Yoko, engana-se. Quero falar de Pato Fu. Do novo disco deles, Daqui pro futuro, um apanhado de rockinhos e canções pop deliciosas, em que as batidas mescladas com eletrônica e outros barulhinhos servem de suporte a uma poética moderna, delicada, cheia de sutilezas. Há faixas que não nos cansamos de ouvir, como 30.000 pés, A hora da estrela, Tudo vai ficar bem, Mamã papá e várias outras. O melhor, mesmo, é ouvir tudo, do início ao fim, bem alto, dnaçando e aprendendo a cantar. Bom demais!

Beijos!

Clara Arreguy, sexta-feira, setembro 14, 2007. 0 comentário(s).

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Meandros do medo

O romancista mexicano Ignácio Padilla, cujo excelente Amphytrion havia sido recebido com entusiasmo no ano passado, tem agora lançado no Brasil seu Espiral de artilharia. Outro surpreendente e forte romance, trata de um personagem perturbado por lembranças reais e inventadas. Médico, o narrador vive num país dominado por ditadura comunista e governado há décadas por militares. Kafkianamente, ele se torna sem querer colaboracionista, alcagüete e informante da polícia, até que ajuda a inventar um mito que se torna o principal oponente do regime, o terrorista que faz de seus atos bárbaros a pior contrapropaganda da democracia. Paranóia, perseguições reais, delírios de drogas ou sob tortura enredam a mente do protagonista e envolvem o leitor em emoções e numa literatura do mais alto nível.

Beijocas!

Clara Arreguy, terça-feira, setembro 11, 2007. 0 comentário(s).

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Ecologia humanitária

A leitura de O que é ser geógrafo, em que Aziz Ab'Saber narra sua vida e suas idéias à jornalista Cynara Menezes, é prazerosa e altamente informativa. O professor e pesquisador nos conta detalhes pessoais sobre sua história, desde a imigração do pai libanês para o Brasil (interior de São Paulo), passando pelas agruras profissionais no meio acadêmico, até as tomadas de posição em defesa do meio ambiente e de questões políticas ligadas ao patrimônio natural, etc. Conhecimentos técnicos dificílimos ele nos explica com tranqüilidade, o gosto pela observação da paisagem para conhecer melhor o objeto de estudo. Ao final, faz uma defesa da ética na pesquisa, no ensino e na militância pública, o que coroa uma trajetória de 82 anos bem vividos, em favor do Brasil e do planeta.

Beijos!

Clara Arreguy, sexta-feira, setembro 07, 2007. 0 comentário(s).

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O difícil prazer de pensar

Numa série da Relume Dumará sobre filósofos em quadrinhos, acabo de ler Apresentando Nietzsche, que, como o próprio título indica, introduz as idéias do pensador alemão. Tópicos como o Super-homem, a ética dos escravos, a vontade de poder e outros são discutidos em textos curtos e ilustrações criativas. O emprego indevido das propostas dele por nazistas e outras deturpações são apontados pelo autor, que esclarece, por exemplo, o quanto Nietzsche era contra o anti-semitismo - confusão que o liga a Hitler e seus seguidores. O professor de filosofia Laurence Gane e o ilustrador Piero, ambos ingleses, assinam o trabalho. Se ficam em aberto muitas das idéias elaboradas e colocadas por Nietzsche, de difícil compreensão, dá para se aproximar de um pensamento difícil e não menos prazeroso.

Beijos!

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 05, 2007. 0 comentário(s).

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