2020: fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2019: jan . fev . abr . jun . ago . set . out . nov

2018: jan . fev . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2017: jan . mar . abr . jun . ago . set . nov . dez

2016: jan . fev . mar . abr . jun . jul . out . nov . dez

2015: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2014: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . dez

2013: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2012: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2011: jan . fev . mar . abr . mai . ago . set . out . nov . dez

2010: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2009: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2008: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2007: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2006: fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez






Pra dizer adeus

Em Belo Horizonte, nesta época do ano, os ipês-rosas estão completamente floridos, enfeitando as ruas da cidade, de maneira surpreendente, em plena seca, em pleno final de inverno. Aqui em Brasília, a primavera se antecipa nas floradas das buganvílias de tantas cores que, pelo menos nos caminhos que mais percorro, ali pelo Sudoeste, decoram o canteiro central da avenida. Cores de uma estação dúbia, que ainda é inverno e já espanta o frio, que anuncia flores antes da hora, antes da chuva.
O tempo, a paisagem, o horizonte amplo que se expande nos caminhos do Planalto Central ajudam a confortar a dor da perda. Quando se tem que enfrentar a morte de uma pessoa amada, poucos são os consolos possíveis. A vida, certamente, está à frente deles. A natureza, a beleza da criação. Quando morre um velhinho que viveu 91 anos de dignidade e retidão, mesmo com o coração em lágrimas é preciso considerar o que mais importa: celebrar a vida dele, não lamentar sua morte. Mesmo porque todos têm a morte como destino. Todos têm direito a ela.
No leito do hospital, na tentativa de prolongar-lhe a vida, médicos e tecnologias procuram compensar os órgãos que vão deixando de funcionar. Enfiam-lhe tubos, aplicam-lhe remédios, ocupam-no com máquinas que respiram, filtram, cumprem o que o organismo não dá mais conta de fazer. Nessa mexida, é preciso, amorosamente, aceitar o fim. Antes que o corpo amado seja tão vilipendiado que se neutralize sua condição humana e se coisifique a pessoa. Aquele corpo ali sedado, furado, revirado – ok, estão tentando devolver-lhe a vida, mas será que não está por aí o limite da dignidade?
Por mais dolorosa que seja a morte, precisamos, em nossa cultura, aprender a aceitá-la melhor. Caminhamos inexoravelmente para ela, no entanto tantas vezes nos desesperamos diante da perda do outro. Isso quando, tantas vezes, o outro se sentia cansado, já havia percorrido seu trecho nesta travessia e merecia o justo descanso. Assim vale a pena morrer: quando a perspectiva de futuro não há mais e o anseio do crente é reencontrar o Criador. De olhos mirados na poesia da vida, na beleza da vida, no milagre diário da vida.

publicado no Correio Braziliense em 14/09/07

Clara Arreguy, segunda-feira, setembro 17, 2007.

______________________________________________________

Comments:
e eu achava que já tinha chorado tudo... :(
 
Eu não tinha lido isso ainda. Obrigado maninha. bjos!
 
Postar um comentário