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Medo na noite simultânea


O terceiro livro que quero comentar, também de amigo de Brasília, é o romance
"Noites Simultâneas" (Bagaço), de Maurício Melo Júnior, igualmente ambientado durante a ditadura militar. Maurício levou alguns anos a compor essa história, chegou a interromper sua escrita, mas por fim, e felizmente, voltou a trabalhar nela até entregar ao leitor essa belezura.

Um homem sem nome conduz a narrativa, que começa nos agitados anos 1960. Ele é um filho de fazendeiro que renega a origem de elite para adotar a ideologia de tantos estudantes da época, que queriam mudar o mundo, fazer a revolução, derrubar a ditadura que se instalara recentemente e enfrentar a repressão de peito aberto, sem medo do alto custo de todo esse heroísmo.

O rapaz, após se integrar a um grupo político, vai para a clandestinidade, defende a luta armada e se entrega a ela, até ser preso e torturado, o que mudará radicalmente sua trajetória. O título original do romance, "Medo", define a segunda parte da história desse rapaz, que escolhe a sobrevivência e a fuga do martírio, também a um alto custo.

Na sua trajetória esse rapaz amou uma moça, militante como ele, mas com destinos desencontrados. Ele muda de vida, mas não a perde de vista, e nunca consegue voltar a amar, a viver a tranquilidade de um sentimento verdadeiro. Vem para Brasília, passa pela vida com relativa rapidez, enquanto convive com os fantasmas e tormentos dos quais se torna inseparável.

Mais que a temática, importante, atual e necessária, é na escrita de Maurício Melo que residem suas melhores qualidades. O escritor é daqueles que trabalham a palavra, a frase, a substância do texto. Por isso os anos debruçados sobre a construção de seu primeiro romance adulto. Porque tudo é tecido com cuidado, delicadeza, perfeição. O resultado disso é sentimento, emoção que prende o leitor e o conquista visceralmente.

Beijinhos!

Clara Arreguy, quinta-feira, setembro 21, 2017. 0 comentário(s).

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Um mistério sem solução


Outro excelente livro ambientado no período ditatorial é "A morte do diplomata" (Tema Editorial), do Eumano Silva. O autor foi meu colega na redação do Correio Braziliense e dele li um dos melhores relatos sobre a Guerrilha do Araguaia, "Operação Araguaia".

Aqui novamente se trata de reportagem que Eumano levou alguns anos para investigar e que, dada sua complexidade, permanece eivada de dúvidas. O livro narra a história de Paulo Dionísio de Vasconcelos, um diplomata brasileiro encontrado morto dentro de seu carro em Haia, na Holanda, onde exercia a função de segundo secretário da Embaixada do Brasil, em 1970.

Paulo Dionísio era mineiro, casado com Maria Coeli, filha do deputado Manoel de Almeida, e fez carreira no Itamarati, sempre sério e respeitado. Pelo que apurou Eumano em depoimentos, documentos e todos os relatos, não havia "esqueletos no armário" de sua vida particular. Não integrava grupos de resistência à ditadura, embora tivesse suas críticas a situações que ocorriam na época, como as torturas denunciadas por exilados e militantes dos direitos humanos.

No entanto, morreu violentamente, com cortes no pescoço e no pulso, e a investigação da polícia holandesa concluiu, em 24 horas, que houvera suicídio. Ele andava meio atormentado por um imbróglio no aluguel de seu imóvel, em Brasília, mas pelo temperamento e pela condição que vivia - sua mulher estava grávida de oito meses e eles tinham uma filhinha de dois anos -, dificilmente amigos e família aceitariam a tese do autoextermínio sem provas robustas.

Após a morte, surgiram cartas de chantagem dirigidas a Paulo Dionísio, numa situação que mais parece erro de pessoa do que algum segredo inconfessável da vítima das ameaças. No entanto, essa linha de investigação não foi assumida nem pela polícia holandesa nem pelo governo brasileiro. Passados mais de 40 anos, agora pouco se consegue apurar. As perguntas seguem sem resposta e o subtítulo do livro - "Um mistério arquivado pela ditadura" - é o que melhor define o caso.

A história de Paulo Dionísio intriga, entristece, mas sobretudo ajuda a jogar luz sobre a treva do autoritarismo e do obscurantismo que muitos, por ignorância e/ou má-fé, ainda teimam em querer reeditar.

Beijocas!

Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 20, 2017. 0 comentário(s).

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Porque o amor é indizível



Um movimento interessante que tenho observado na produção literária recente, principalmente aqui em Brasília, de autores contemporâneos, diz respeito a fatos ocorridos durante a ditadura militar. Pelo menos quatro amigos, excelentes escritores, se debruçaram sobre o tema, cada um à sua maneira, e vou comentar alguns deles.

Começo pela Rosângela Vieira Rocha, escritora com quem compartilho amizade, afinidades artísticas e políticas, além de atividades ligadas à literatura, ao feminismo, às lutas democráticas que temos enfrentado nesses dias tenebrosos.

Seu romance "O indizível sentido do amor" (Patuá), que revisei antes de entrar em gráfica, é um dos mais tocantes relatos que tenho lido sobre o momento em questão. Porque, embora tenha como pano de fundo a ditadura, a militância e outras barras pesadas, trata-se de uma história de amor. E uma das mais belas e pungentes, como bem ressalta Maria Valéria Rezende num dos textos que apresentam o livro.

Rosângela foi casada por 35 anos com Jaca, um homem discreto em todos os aspectos, que trouxe essa e outras características dos tempos em que militou, foi preso e torturado. Assim como o companheiro nunca se gabou de heroísmo, Rosângela não se dá a arroubos, e relata, o mais sobriamente possível, sua história com Jaca, do encontro à felicidade, da harmonia à desconstrução representada pela doença e pela perda de seu amor.

Sem se dar ao melodrama, economizando nas adjetivações, Rosângela constrói um romance denso, substancial, em que a força do drama dialoga com seu jeito às vezes engraçado de ser mineira e irônica, de não se dar a estatura que de fato tem. Rosângela é uma grande escritora, e "O indizível sentido do amor" vai emocionar o leitor do início ao fim, comprovando tratar-se de uma obra redonda, madura, fundamental.

Beijos!

Clara Arreguy, terça-feira, setembro 19, 2017. 0 comentário(s).

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Outubro Edições dois anos

Dois anos de formalização da Outubro Edições. 29 livros publicados. Realização! Gratidão!Outu

1 - Coração Menino, de José Henriques Maia
2 - De propósito, de Tulio Romano
3 - Catraca Inoperante, de Clara Arreguy
4 - Dois dedos de prosa, de José Henriques Maia
5 - Rádio Beatles, de Clara Arreguy
6 - Siga as setas amarelas, de Clara Arreguy
7 - De Todo Coração, de Clara Arreguy
8 - Cheio de Graça, de Clara Arreguy
9 - Minha Trilha Sonora, de Irlam Rocha Lima
10 - Móvel é o passado, de Joaquim São Pedro
11 - O Povo da Lua, de Renato Alves
12 - Canção Silenciosa, de Ananias Zeca de Freitas
13 - Grande Garoto, de Nathan Neves
14 - Dois Umbigos, de Olívia de Mello Franco
15 - História de Passarinho, de Jacqueline de Mattos
16 - No Reino da Bicharada, de Dad Squarisi
17 - O planeta das flores amarelas, de Clara Arreguy
18 - Oit Labina, de Clara Arreguy
19 - O sertão anárquico de Lampião, de Luiz Serra
20 - É tudo o que trago nos bolsos, de Maurício Witczak
21 - Presença Ainda, de Maria do Carmo Arreguy Corrêa
22 - Viu no que deu?, de Cláudio Almeida
23 - O menino que rasgou a nuvem, de Eliane de Christo
24 - Lucia, uma biografia, de Fabio de Sousa Coutinho
25 - 1974, de Clara Arreguy
26 - A Vovó fala tudo errado, de Clara Arreguy
27 - Os rios voadores, de Yana Marull
28 - Touros, tapas e meias pretas, de Carina Ávila
29 - Um feixe de luz, de Aplam

Clara Arreguy, segunda-feira, setembro 18, 2017. 0 comentário(s).

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