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Mais um argentino top



De vez em quando elejo o meu "melhor ator do mundo todo", que já foi o Anthony Hopkins, o Jeremy Irons, e atualmente é o Ricardo Darín. Como esse argentino (mais um, depois do Messi e do Papa) tem capacidade de, feito Midas, tornar ouro tudo que toca.

"Tese sobre um homicídio", de Hernán Goldfrid, é um bom filme sobre crimes, com suspense policial e psicológico, mas com o protagonismo de Darín ganha densidade, verdade, intensidade.

Não chega a ser um "Conto chinês", de Sebastián Borensztein, nem um "O segredo dos seus olhos", de Juan José Campanella - duas obras-primas estreladas pelo ator argentino, entre outros belos trabalhos que ele vem fazendo. Mas vale cada centavo do ingresso.

Além de ator completo, complexo, é um charme só.

Beijos e bom fim de semana!

Clara Arreguy, sexta-feira, agosto 23, 2013. 3 comentário(s).

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Hannah e a importância de pensar


Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa judia alemã que conseguiu escapar do nazismo e se refugiar nos Estados Unidos, onde viveu como professora e autora de diversos livros e teses. Sua importância para o pensamento político contemporâneo é imensa, pois veio dela a principal reflexão sobre o totalitarismo, tanto na face direita (nazista),  quanto na esquerda (stalinista). Foi ela quem criou o termo "banalização do mal", a partir da cobertura que fez para uma revista norte-americana, editada também em livro, do julgamento do nazista Adolf Eichmann em Israel.

Uma fração dessa história está muito bem contada no filme "Hannah Arendt" (foto), da alemã Margarethe von Trotta, que tem Barbara Sukowa no papel da ativista judia em um momento chave de sua vida, justamente o episódio da cobertura do julgamento, em 1963. Ali, ao assistir ao que ela considera equívocos – julgar o Holocausto como um todo durante o julgamento de uma pessoa, um homem, que deveria estar num tribunal internacional, e não sequestrado arbitrariamente por um país –, ela tece uma análise que vai jogar toda a opinião pública contra ela.

O filme é importante e inteligente, mas nessa sequência, em especial, ele revela sua importância para o momento político que estamos vivendo, em que a "opinião pública" se torna um ator impessoal, injusto e cruel. Nos textos que publica sobre Eichmann, Hannah afirma que ele, sob a justificativa adotada pelos criminosos nazistas de que apenas cumpriam ordens, banaliza o mal e renuncia à própria condição de ser humano, pois a natureza do ser humano é pensar, decidir, responsabilizar-se por seus atos. Quando ele age sem consciência, sem assumir o que faz, ele deixa de ser um homem. Ele desqualifica o mal que faz.

Em diversos momentos do filme, a personagem, em flashback, se reencontra com o antigo mestre acadêmico, o filósofo Martin Heidegger, de quem foi mais que a aluna mais brilhante: eram amantes e ela teve nele o grande amor. Hannah se lembra de Heidegger ensinando a importância do pensamento, ensinando a pensar. Recorda também da dor maior sofrida quando, não bastasse a perseguição nazista, a perda do país e da nacionalidade, viu Heidegger sucumbir ao poder do Reich para se manter reitor da famosa Universidade de Heidelberg, bajulando Hitler e se corrompendo intelectualmente.

Reencontros posteriores à guerra não apagaram o desapontamento da ex-aluna com o velho mestre. O grande amor não resistiria à covardia moral, quando tantos (milhões!) morriam, fugiam ou resistiam, na Alemanha e por toda a Europa. Hannah nunca perde o espírito de luta, a coerência, mesmo ao correr riscos. Ela se mantém firme em seus pontos de vista mesmo quando a imprensa, a comunidade acadêmica e a comunidade judaica se juntam contra ela, acusando-a de absolver Eichmann e de responsabilizar lideranças judaicas por omissão durante o extermínio de seu povo (a crítica à postura das lideranças durante a guerra ela de fato assume).

O bombardeio sofrido por Hannah naquele momento a fez perder importantes amigos, companheiros de vida e de luta que não a compreenderam. Isso lhe provoca dor, mas ela não recua. Muitos paravam no pré-julgamento, no preconceito, condenando-a sem sequer ler seus argumentos, com base apenas em "resenhas" de má-fé. Outros, mesmo lendo, discordavam de sua franqueza temerária, consideravam-na traidora. Na universidade onde lecionava, confrontou a direção, que a queria expulsar, e teve apenas o apoio dos alunos.

Numa das cenas mais brilhantes do filme, na aula que ela dá para se defender dos ataques, personagem e atriz dão um show, na explicação clarividente de sua construção política e filosófica. Indagada por uma aluna sobre o porquê de tachar de crimes contra a humanidade os crimes dos nazistas contra os judeus, ela responde candidamente: "Porque os judeus são seres humanos, então um crime contra eles é um crime contra a humanidade. E o que os nazistas queriam era retirar do povo judeu sua condição de humanidade".


Com ensinamentos sobre a importância de pensar, refletir, elaborar, analisar, criticar, sobre defender os pontos de vista nos quais se acredita, sobre defender a pluralidade e a liberdade de pensamento e expressão, sobre a coerência e a coragem diante de qualquer adversidade, sobre pagar o preço por essa coerência e por essa coragem, "Hannah Arendt" mantém viva a figura que o inspirou, uma das mulheres mais brilhantes que iluminou o século XX. Um filme importante, atual, necessário, que nos faz mais inteligentes e joga luz sobre o mundo em que vivemos.

Publicado no caderno Pensar do Estado de Minas em 10/8/13

Clara Arreguy, terça-feira, agosto 20, 2013. 3 comentário(s).

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Um romance novo

O novo é um policial sueco (mais um!), Lobo Vermelho, da escritora Liza Marklund. Assim como seus conterrâneos Henning Mankell e Stieg Larsson, ela também sabe cativar o leitor. A tradução que li foi comprada em Portugal, então possui de quebra o delicioso sotaque com o qual convivi durante as férias, expressões que aprendi recentemente e que não dificultam em nada a leitura.

A trama tem como protagonista uma jornalista, Annika, que acaba de sair do trauma de ter sido vítima de um terrorista e começa a investigar outro caso ligado a terrorismo, mas ocorrido 30 anos antes, quando eram comuns na Suécia células de organizações maoistas adeptas da luta armada.

Ao descobrir que o marido a está traindo, Annika mergulha ainda mais na crise de nervos em que já andava. E nem a proibição da chefia lhe segura a gana de apurar tudo.

No meio da investigação, ela descobre o envolvimento da ministra da Cultura, tramas que envolvem a legislação sueca de telecomunicações, enfim, uma rede intrincada de interesses econômicos e políticos a comandar a vida das pessoas sem que elas saibam.

No final do livro, Liza Marklund explica que, embora seja uma obra de ficção, baseou alguns fatos e personagens em situações que viveu quando trabalhou num jornal, o Metro Weekend, impedido de circular por interesses escusos do governo - isso numa das democracias mais robustas do planeta.

E assim a gente vai aprendendo como são as coisas no nosso tempo.

Bjs!

Clara Arreguy, quarta-feira, agosto 14, 2013. 1 comentário(s).

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Um romance antigo

O bom de não trabalhar mais em redação, já disse isso aqui, é poder ler e comentar livros que não são lançamentos - mas são bons do mesmo jeito.

Acabo de ler um velho e um novo.

O velho: O Físico, de Noah Gordon, que narra a saga de um barbeiro-cirurgião inglês em sua procura por conhecimentos que o ajudassem a salvar vidas. Médico vocacionado quando o Ocidente não tinha quase nenhum avanço científico, ele empreende uma viagem longa e perigosa até o Oriente, mais precisamente a Ispahan, na Pérsia, onde terá que se passar por judeu para estudar com Ibn-Sina, ou Avicena, como ficou conhecido pelos ocidentais o mais importante médico da época.

O período é o século XI, retratado com riqueza de detalhes históricos, ensinamentos científicos, aventuras, romance, personagens envolventes, um protagonista apaixonante, enfim todos os ingredientes de uma leitura que te captura e não te larga mais.

Tem vários problemas de tradução, inclusive no título, que deveria ser O Médico. Mas a gente supera isso.

Do novo falo no próximo post.

Clara Arreguy, quarta-feira, agosto 14, 2013. 0 comentário(s).

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Samurai sem senhor



É em clima de animê que transcorre a nova aventura do X-Man Wolverine, "Imortal". Toda a trama se passa no Japão, onde, no dia da bomba atômica sobre Nagasaki, Logan salva um soldado honrado. Nos tempos "atuais", Logan deprimido e autoexilado, fazendo justiça no máximo a um urso, ele é encontrado por uma agente de poderoso industrial japonês. Claro que se trata da mesma pessoa, décadas depois. Ele precisa de Logan e aí começam os problemas...

Com duas heroínas interessantes, japonesinhas - uma neta do industrial, toda delicadeza e inteligência, a outra uma mutante boa de briga criada pela família rica -, a trama envolve boas doses de discussão sobre vida e morte, poder e felicidade, dor e sacrifício, as agruras da imortalidade, mas tem seus momentos de pura ação, com pancada para todo gosto. Principalmente por meio de um exército de ninjas, efeitos especiais, grande número de vilões, uma linda mutante com língua de víbora, os recursos de sempre no universo X-Man.

O filme divide opiniões entre quem acha que faltou ação e sobrou filosofia e quem gosta de heróis que pensam. Fico com esses últimos. Logan/Wolverine parece um samurai, ou um ronin, um samurai sem senhor. Tem carisma, charme, substância. Dorme mal, sofre pesadelos, enche a cara. Pune-se por culpas que tem e que não tem. Enfim, é um herói irresistível.

Beijus!

PS - Ah, não saia da sala antes do fim dos créditos. Tem PS no filme...

Clara Arreguy, sexta-feira, agosto 02, 2013. 0 comentário(s).

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Mais dois livros

Outros dois livros que li durante as férias e ainda não tinha comentado:

- o mais lindo de todos, a novela "No teu deserto", do português Miguel de Sousa Tavares. O "quase romance" do autor de "Rio das Flores" e "Equador" narra o encontro real entre ele, narrador, e uma moça com quem fez uma inesquecível travessia do deserto do Saara. Ele atuava como jornalista e fazia uma reportagem, obviamente marcante em sua vida pessoal e profissional. Ela o acompanhou e foi sua ajudante, companheira, amante. Apesar da diferença de idade e de experiência de vida, das idiossincrasias de cada um, se entenderam o suficiente para o desafio em que estavam. Após a volta, nunca mais se viram. Alguns anos depois, ela, ainda jovem e bonita, morreu. Em tributo, ele remexeu na memória para reviver, com poesia, a história que havia ficado no passado. A história é linda, o deserto fala como metáfora, cenário e ilustração de tudo. A narrativa é curta e envolvente. Duvido que alguém termine de ler o livro sem lágrimas nos olhos.

- o segundo é um policial dos que leio para respirar entre cada leitura mais densa: o segundo episódio da série "Os casos de Liebermann - Aventuras de um detetive freudiano", de Frank Tallis, "Sangue em Viena". Trata-se de uma investigação sherlockiana conduzida a quatro mãos pelo detetive Oskar Reinhardt e o médico Max Liebermann, discípulo de Freud, que também comparece como personagem do livro. Além de trama inteligente e bem armada, mostrando as raízes do nazismo emergente numa Viena gelada, a narrativa é divertida e inteligente, com deduções e tiradas hilariantes e um mar de referências à cultura do nascente século XX. Isso tudo entremeado com as questões filosóficas, românticas e sexuais do protagonista carismático.

Beijocas!

Clara Arreguy, quinta-feira, agosto 01, 2013. 0 comentário(s).

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