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Os vencedores do Festival de Brasília

A lista completa está no www.correiobraziliense.com.br, mas não consegui postar aqui o link direto da matéria sobre os vencedores. Como disse, são inúmeros. Algumas surpresas: Transeunte, de Eryk Rocha, ganhou o prêmio da crítica mas, no júri oficial, ficou somente com o Candango de melhor ator para Fernando Bezerra e melhor som.
O céu sobre os ombros levou os principais troféus, inclusive de melhor filme, prêmio especial, direção (Sérgio Borges), roteiro e montagem. O outro mineiro em competição, Os residentes, de Tiago Mata Machado, conquistou os Candangos de melhor atriz e atriz coadjuvante, fotografia e trilha sonora. A alegria, de Felipe Bragança e Marina Meliande (RJ), ficou com ator coajuvante e direção de arte.

Bom, é isso. Foi bom acompanhar tudo, mesmo sem a obrigação de quando eu era jornalista de jornal. Mas o uso do cachimbo entortou minha boca e, mais uma vez, vim cá comentar com vocês o que vi.

Beijos e obrigada pela companhia!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 30, 2010. 2 comentário(s).

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Mineiro no pódio

Surpreendente a vitória de O céu sobre os ombros, que acaba de ocorrer no Cine Brasília. Não para quem acompanha as decisões do júri do Festival de Cinema, sempre mais preocupado com a renovação da linguagem do que com o agrado do público. O filme mineiro tinha três personagens insólitos e a proposta de convidá-los a encenar a própria história. Confusão entre ficção e documentário, com resolução ousada e algumas cenas antológicas, principalmente as protagonizadas pela transexual que trabalho como professora universitária e prostituta.
O FBCB tem tantos prêmios (os dados pela Câmara Legisalativa do DF a produções brasilienses, os da crítica, o do jornal Correio Braziliense, os de aquisição do Canal Brasil, etc. etc. que demora a sair a lista com os vencedores oficiais dos Candangos...

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 30, 2010. 0 comentário(s).

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Documentário longo

Foi um anticlímax o último longa da mostra competitiva do Festival de Cinema de Brasília, na segunda-feira. Vigias, de Marcelo Lordello (PE), gastou filme demais para acompanhar a noite de alguns seguranças de prédios de Recife. Dialogando com outros longas apresentados na mostra, este se estende pelo vazio e a solidão dos personagens que enfoca. E só ganha fôlego quando o dia amanhece e a câmera acompanha, quase desolada, a ida embora dos profissionais para casa, deixando atrás de si os medos e mistérios do mundo noturno.
Antes, um curta mineiro, o único de animação do festival, empolgou a plateia. O céu no andar de baixo, de Leonardo Cata Preta, foi feliz no roteiro, nos desenhos e no trabalho sonoro, a narração e interpretação de Eduardo Moreira, ator do Galpão. Já o carioca Custo zero, de Leonardo Pirovano, não obteve a mesma felicidade. O tema, a violência urbana no Rio de Janeiro, tinha tudo para encontrar eco nos acontecimentos dos últimos dias (ocupação do Complexo do Alemão, principalmente), mas esbarrou na falta de melhor domínio da linguagem cinematográfica.

E hoje tudo se acabou. Beijos!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 30, 2010. 0 comentário(s).

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Emoção, afinal

Somente na penúltima noite competitiva o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro apresentou um longa capaz de emocionar boa parte da plateia. Amor?, de João Jardim (RJ), teve o mérito de encenar com excelentes atores os depoimentos colhidos pela produção sobre relações afetivas com algum viés de violência. Histórias humanas tocantes, de gente que pôs os espectadores a refletir sobre a própria experiência amorosa e as possibilidades de opressão, anulação da autoestima, idealização e medo da solidão. Histórias revividas por artistas do quilate de Julia Lemmertz, Lilia Cabral, Eduardo Moscovis e outros, capazes de dar o tom exato da dramaticidade da vida real.
A direção tem o mérito não apenas de recriar tais enredos, mas de amarrar os depoimentos de maneira criativa, conseguindo fugir do texto monologado, por meio de costuras "aquáticas" que ajudam, simbolicamente, a respirar. Um primor de filme. Meu candidato ao Candango.
Os curtas que abriram a noite foram A mula teimosa e o controle remoto, de Hélio Vilela Nunes, de São Paulo, uma deliciosa comédia infanto-juvenil em que um menino do campo e um da cidade têm que aprender a valorizar os diferentes saberes e trabalhar juntos; e o pernambucano Café Aurora, que não chegou a empolgar no romance entre uma cega e um surdo.

Beijocas!

Clara Arreguy, segunda-feira, novembro 29, 2010. 0 comentário(s).

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Histórias da vida real

Longa da noite competitiva de sábado no Festival de Brasília, outro mineiro, O céu sobre os ombros, de Sérgio Borges, diferenciou-se de tudo que vinha sendo mostrado até então. Ao contrário das ficções anteriores, trata-se de uma espécie de documentário dramático. O diretor explicou que a produção selecionou histórias que, de tão insólitas, parecessem fictícias. E encontrou três personagens, que toparam encenar as próprias vidas: um cabo-verdiano que tem um filho com paralisia cerebral, um rapaz que, entre outras coisas, trabalha em telemarketing, é Hara Krishna e membro da torcida organizada Galoucura, e um transexual que divide a vida entre a atividade acadêmica, discutindo Foucault e Freud, e a prostituição. O filme é diferente de tudo que vinha sendo visto e, embora ainda não resolva a questão da facilidade de comunicação com o grande público, revela facetas interessantes, inclusive de Belo Horizonte, onde se ambienta.
Os dois curtas da noite também agradaram: Matinta, de Fernando Segtowick (PA), sobre uma lenda amazônica, e tendo Dira Paes no elenco; e Falta de ar, de Érico Monnerat (DF), uma memória sobre o tortura política no tempo da ditadura. Dois detalhes curiosos na produção brasiliense: a inversão da técnica de opor cor e preto e branco, com a primeira sendo usada para as cenas de flashback e a segunda para as do presente; e o ponto de vista do torturador, e não o do torturado, para a volta ao passado.

Beijos!

Clara Arreguy, domingo, novembro 28, 2010. 0 comentário(s).

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Amor por Brasília

Foto: Divulgação

A paixão por Brasília deu o tom à terceira noite competitiva do Festival de Cinema, graças ao curta Braxília, de Danyella Proença (DF). O foco do documentário poético é o maior nome da poesia da capital federal, Nicolas Behr (foto), mato-grossense radicado na cidade utópica, que ele ama e defende de forma tão linda, conforme o filme mostra bem. Emocionou e ganhou a plateia do Cine Brasília.

O outro curta, Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros (PE), denuncia a força opressiva exercida por uma usina de cana-de-açúcar contra uma posseira, Maria Francisca, por sinal presente, com sua força de resistência, à noite de abertura. Importante instrumento de luta, o curta pernambucano.

Já o longa Os residentes, de Tiago Mata Machado (MG), dividiu opiniões, com uma narrativa difícil, marcada por simbolismos e por invenções de linguagem. A sinopse avisa, mais ou menos, que se trata de um grupo de artistas que, ao ocupar determinado espaço, reiventa o convívio em sociedade. Em tela, o foco principal é um casal, com seus diálogos ora interessantes, ora excessivamente literários.

As ousadias desse longa, assim como as dos outros dois apresentados nas noites anteriores, comprova que a curadoria do Festival de Brasília não se preocupa com a viabilidade comercial de seus concorrentes - no que faz muito bem. O mercado, em si, já regula quem vende, quem não vende. Cabe à política cultural permitir que outras formas de expressão tenham espaço para fazer que a linguagem cinematográfica não se transforme numa eterna repetição de fórmulas de sucesso.


Beijins!

Clara Arreguy, sábado, novembro 27, 2010. 0 comentário(s).

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Personagens

Foto: Divulgação

O segundo dia do Festival de Brasília teve foco interessante em dois personagens: o primeiro, o cartunista Angeli, pai da Rê Bordosa e de tantas outras criações geniais. Ele foi o centro do curta Angeli 24 horas, de Beth Formaggini (RJ), que documenta o trabalho compulsivo do artista, sem deixar de contextualizá-lo com paixão.

O segundo personagem da noite foi o protagonista do longa Transeunte, de Eryk Rocha (RJ). Com virtuosismo visual e sonoro, o filho de Glauber leva o espectador a acompanhar a rotina de um aposentado (Fernando Bezerra, foto) marcado pelo vazio e pela solidão. Se o filme começa com dificuldade para a plateia, devido ao ritmo devagar, quase parando, da narrativa, com o andar da carruagem a identificação se acentua, ajudada pela música e pelo já citado apuro da fotografia. Detalhe não pequeno é a presença do cenário do centro velho do Rio de Janeiro como ambiência da desolação do protagonista.

A terceira atração da noite de quinta-feira foi o curta mineiro Contagem, de Gabriel Martins e Maurílio Martins. Ao subir ao palco do Cine Brasília para agradecer, os dois se disseram até constrangidos de estar ali, porque o filme era trabalho de conclusão de curso. Tinham razão. A produção precária não estava à altura de um dos mais importantes festivais do cinema brasileiro. Teve a vantagem de se situar na cidade que lhe dá nome, na região metropolitana de Belo Horizonte, mas só isso foi pouco.


Beijos!

Clara Arreguy, sábado, novembro 27, 2010. 0 comentário(s).

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Era uma vez...

Nunca (nos anos recentes) o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começou tão focado na ficção como nesta 43ª edição, cuja mostra competitiva teve início na noite de quarta-feira. Os dois curtas - Cachoeira, de Sérgio José de Almeida, e Fábula das três avós, de Daniel Turini - apontaram o tom que o longa - A alegria, de Felipe Bragança e Marina Meliande - seguiria. Era o tom da fantasia sem amarras.
Em que pese a falta de recursos técnicos e financeiros, o primeiro curta da noite valeu pela presença raríssima da cinematografia amazonense no circuito nacional. O próprio ator principal, Begê Muniz, explicou que eles não têm tradição nem verbas, de modo que só a presença ali já seria uma vitória. Em cena, além de lendas contemporâneas ligadas aos índios, a oportunidade de ouvir outras línguas faladas em nosso país, pelo menos três de diferentes etnias.
O segundo curta, paulista, foi o melhor da noite. Situa uma menina na fronteira entre Alice e Dorothy. Ao ficar órfã, ela encontra em um amigo gato o companheiro na procura pela avó ideal.
Finalmente o longa carioca esbarra em muita pretensão e alguns acertos para lidar com sonhos e expectativas de uma faixa da adolescência em que se é naturalmente pretensioso. Os recursos eram muitos, mas o uso deles nem sempre acerta a mão. Falta texto, pelo menos texto bom. Interpretações interessantes, como a da protagonista. E mistura de referências, de monstros marinhos a São Jorge, que confundem mais que explicam. Uma panorâmica pouco usual de um Rio de Janeiro bem contemporâneo.
Enfim, o FBCB começa polêmico, o que não é pouco e é sempre bom.

Beijocas!

Clara Arreguy, quinta-feira, novembro 25, 2010. 0 comentário(s).

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Começou o Festival de Brasília!

Começou ontem à noite a 43ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Só pra convidados, a primeira noite teve bem menos gente que a do ano passado, quando Lula, o filho do Brasil, foi apresentado na abertura. Mas a afluência foi animada, como sempre. Primeiro, pelo curta Cinquenta anos em cinco, de José Eduardo Belmonte, que faz uma metáfora poética para o aniversário de Brasília, e depois pela homenagem a Carlos Reichenbach. Dele, foi exibida a cópia restaurada de Lilian M - Relatório confidencial, de 1975, filme que foi censurado e cortado na época e que hoje, na íntegra, não deixa de soar datado, anos 70 demais.
De hoje em diante, começa a mostra competitiva, com diretores que nunca estiveram nessa posição concorrendo aos principais Candangos, o tradicional troféu que tem a estatura do cinema brasileiro.
Na medida do possível, vou tentar acompanhar aqui o que rola pelo Cine Brasília.

Beijos!

Clara Arreguy, quarta-feira, novembro 24, 2010. 0 comentário(s).

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S de Senna, S de saudade


Foto: Divulgação

Houve um tempo, durante 10 anos, em que éramos felizes todo domingo só porque Senna corria, ganhava, lutava. Só porque Senna existia. Ayrton Senna foi ídolo por seu talento, por seu carisma, por sua bravura, por sua ousadia, por sua bondade, por seu brilho, por sua humildade, por seu orgulho. A morte dele, naquele 1º de maio, ficou na história como um dos dias mais tristes não apenas para o país como para muita gente pessoalmente. É o meu caso.

Reencontrar Ayrton Senna vivo e lindo no documentário que leva seu nome trouxe tantas emoções que foi como reviver, em duas horas, aqueles 10 anos. Senna barbarizando nas pistas, encantando fora delas. O filme foca principalmente o que um dos entrevistados descreve como "uma ótima história": o duelo entre ele e Alain Prost. Tendo como pano de fundo a politicagem do esporte, exposta como nunca se viu, a briga entre os maiores talentos de seu tempo no automobilismo ganha outros contornos.

O melhor de Senna, no entanto, é mostrar de forma concentrada momentos épicos de um piloto que virou herói para seu povo, que lhe deu tantas alegrias e fez experimentar tantas sensações.

Filme para ver, rever e ter uma cópia em casa para ser vista e revista sempre que a saudade bater forte, como agora.


Beijões!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 16, 2010. 1 comentário(s).

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Que filminho ruim

Foto: Divulgação

Sou do tipo que gosta tanto de cinema que gosta até de ver filme ruim - quando é no cinema. Mas esta comédia superou minha expectativas de ruindade: Um parto de viagem. A começar pelo título em português, que faz trocadilho com o motivo que une os dois protagonistas numa travessia de carro entre Atlanta e Los Angeles (o nascimento iminente do filho de um deles).

Impedidos de prosseguir de avião por causa das confusões aprontadas pelo personagem de Zach Galianakis, ele e Robert Downey Jr. acabam indo juntos num automóvel alugado. Como se não houvesse o recurso a um ônibus de linha - sempre melhor do que entrar numa fria com um sujeito louco, chato e sinônimo de encrenca.

Comédia em estilo de road movie, como já houve às pencas, essa é boba, sem graça, transcorrendo em situações repetitivas e previsíveis, sem que se salve nem o ótimo Downey Jr.

Pode ser que Zach seja engraçado, mas não nesse filme... Pra não dizer que nada se salva, salva-se o cachorrinho na nada politicamente correta (e grotesca) cena de masturbação...


Ósculos e amplexos!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 16, 2010. 0 comentário(s).

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Poema cinematográfico

Foto: Divulgação

Ninguém teria tanto quanto eu motivos para desancar um filme de Arnaldo Jabor, já que, do ponto de vista político, e como comentarista, o reputo dispensável. Já enquanto artista, tenho que dar a mão à palmatória. O cara, quando não está falando bobagens na Rede Globo, é um senhor cineasta. E seu novo filme, tantos anos depois, comprova isso. A suprema felicidade é um poema em forma de cinema.

Ambientado no Rio de Janeiro em meados do século XX, o filme alterna momentos da infância e adolescência de um menino, Paulinho, em especial a relação com o avô. Marco Nanini, como o avô boêmio, esbanja uma interpretação sublime. O papel, o texto e a direção ajudam.

Paulinho vive numa família em crise, no fim da Segunda Guerra Mundial, nos dourados anos 1950 e no início da modernização do País. A educação religiosa, com sua repressão e seus tabus, o fracasso dos pais, a descoberta da sexualidade... tudo o filme de Jabor aborda com magia, sem buscar o realismo, antes optando pela fantasia. Nisso a música funciona como senha para um mundo hollywoodiano no melhor sentido, algo que namora com Woody Allen e Fellini, guardadas as devidas proporções.

O filme é lindo. A música, o enfoque, o Nanini. Tudo vale cada minuto de sonho.


E beijocos!

Clara Arreguy, segunda-feira, novembro 08, 2010. 1 comentário(s).

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Um belo romance

Depois de visitar episódios bíblicos, reinventando versões muito pessoais para personagens conhecidas de todos, o escritor gaúcho Moacyr Scliar revisita, em Eu vos abraço, milhões, um momento histórico brasileiro e cria um personagem com um quê de Forrest Gump. Valdo. um gaúcho de 15 anos, descobre o comunismo pelas mãos de um amigo, que logo morre e lhe deixa de herança a missão de encontrar o líder do PC, Astrojildo Pereira, para formalizar sua entrada no Partido.
Em 1929, Valdo parte para o Rio de Janeiro e, tal qual o personagem que consagrou Tom Hanks no cinema, esbarra em situações como a construção do Cristo Redentor, as manifestações anarquistas, a Revolução de 30, os gaúchos amarrando os cavalos ao Obelisco...
Enquanto Valdo pesquisa o modo de ver e pensar que tanto o atrai, testando a dialética e outras estruturas da esquerda, a vida lhe apronta surpresas, encontros, descobertas e decepções. Com ele, a ideologia marxista passeia, com seus avanços e contradições, junto ao andamento da história do Brasil, num momento de virada rumo à modernidade.
Scliar não idealiza nem demoniza a política, a religião, os amores e sonhos de uma geração. Ele os descreve com simpatia, com empatia, mas sem julgamentos. Os fatos narrados por um avô ao jovem neto não resvalam para o rancor nem para a nostalgia. Assim foi a vida, que bom que a vida foi assim.
Em Eu vos abraço, milhões, Scliar prende e entretém com o domínio dos craques do romance. Sua inteligência, erudição e bom humor lhe dão a nota certa de simplicidade dos grandes. Que leitura prazerosa!

Beijus!

Clara Arreguy, quarta-feira, novembro 03, 2010. 0 comentário(s).

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Outro que parece mas não é

Foto: Divulgação

É Federal. A megaprodução brasiliense, que se passa aqui na capital federal, tem a qualidade de mostrar na tela grande o cenário de Brasília, com seus ângulos naturais e arquitetônicos sempre lindos, trazer no elenco artistas da terra, mas peca por uma série de problemas.

Parece Tropa de elite, mas passa longe. Um experiente agente da Polícia Federal (Carlos Alberto Riccelli, com Selton Mello na foto) monta uma equipe incorruptível para enfrentar um poderoso traficante de drogas que age em Brasília, tendo a cidade-satélite de Ceilândia como base e um agente do DEA americano (Michael Madsen) como traidor.

Importantes discussões são colocadas no filme pelo diretor e roteirista Erik de Castro: tortura, ditadura, métodos de combate ao crime, infiltração de criminosos em ONGs, seitas religiosas, estruturas de poder. Mas nada vai muito fundo.

Embora haja bons trabalhos de ator, algumas cenas são malfeitas ou mal acabadas. As de Madsen, por exemplo, são péssimas. A cena final, mal interpretada e mal costurada, rende-se à onda do primeiro Tropa de elite, ao consagrar a "capitulação" do mocinho à realidade da instituição. Como se, enfim, houvesse que se render à "vida real". Os bandidos justificam o fim dos heróis: tornar-se um deles para combatê-los.

Federal, assim, não passa de um thriller policial menor do que poderia ter sido. Sem fôlego para ir fundo como pretendia. E podia.


Beijinhos!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 02, 2010. 0 comentário(s).

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Parece, mas passa longe

Foto: Divulgação

Pense em Michael Douglas saindo da prisão por ter fraudado os negócios, já meio coroa e caidaço, se interessando por moçoilas, com dificuldades no relacionamento com a filha, dando conselhos prum rapazinho e numa pálida amizade com Susan Sarandon. Wall Street 2? 3? Não, O solteirão. Um pastiche do pastiche, pode-se ver. Mas desavisados como eu caem nessa, achando que vão encontrar uma comédia romântica. Longe disso.

O solteirão é uma daquelas produções aparentemente progressistas mas no fundo totalmente moralistas, em que um homem mais velho, incapaz de relações vivas e c0mplexas, dedica-se a seduzir gatinhas. Ok, merece a condenação por isso? Não creio. Infeliz ele será, mas do jeito que o filme coloca, ele ganha condenação eterna a não ter nem sequer a amizade do neto - único vínculo dele com as próprias emoções - enquanto não crescer e amadurecer.

O mercado de trabalho o expulsou, a sociedade o considera um pária, a mulher traída se dedica a lhe fechar todas as portas, a filha o renega. Vingança do mundo contra o personagem do filme anterior. E tudo por quê? Porque ele desconfia de uma doença que poderá matá-lo. Então, dá adeus à ética.

Olha, é muito ruim. Não compensa a perda de tempo. Deixem vovô pegar periguetes e ser babaca o quanto quiser, tadinho!


Beijocas!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 02, 2010. 0 comentário(s).

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