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Nietzsche para leitores

Todo mundo já havia lido e me recomendado, mas só agora pude dedicar um tempo justo ao romance "Quando Nietzsche chorou", de Irvin D. Yalom (Pocket Ouro), um romance tão instigante como literatura quanto em seus aspectos filosóficos. Para quem se interessa pelos meandros da alma, do inconsciente, então, é um prato cheio.

O romance usa escritos do filósofo alemão Friedrich Nietzsche para recriar uma relação nada fácil entre ele e o Dr. Joseph Breuer, médico vienense contemporâneo de Freud e que teria sido quase um mestre do pai da psicanálise, iluminando seus caminhos para investigar o inconsciente e inventar uma nova ciência - ou uma nova filosofia...

O mais legal é que o autor faz isso com verdadeira trama romanesca, mergulhando nos dois principais personagens, Breuer e Nietzsche. Por meio de uma mulher impetuosa que praticamente o obriga a entrar no novelo, o médico austríaco não apenas aceita tratar a doença do alemão como tece teias para envolvê-lo. Ao final, acaba ele próprio envolvido.

É que, num estratagema para "tratar" de Nietzsche, Joseph virar paciente e amigo do filósofo, dando sequência ao tratamento das próprias obsessões, traumas e dificuldades. O romance é intrigante, divertido, profundo, informativo, um deleite. A gente sai dele sabendo mais sobre psicanálise, enxaqueca, anti-semitismo, medicina, psiquiatria, história, filosofia e muitas coisas mais...

Beijão!

Clara Arreguy, sexta-feira, março 27, 2015. 0 comentário(s).

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Investigação policial à mineira

JC Junot é um jornalista mineiro com quem convivi quando morava por BH. Lembro-me dele como repórter de TV e na relação de amizade fora do horário de trabalho. Agora ele me surge como autor de um romance policial, "Vermelho Escarlate" (Editora B), que é um barato.

Com domínio da narrativa típica do gênero, Junot construiu um personagem carismático, o jornalista Marco Antônio Loriba, às voltas com a investigação da morte de uma estudante de Belas Artes, que vai desaguar num psicopata com todas as características dos melhores vilões do segmento.

Como eu também gosto de fazer, Junot espalha pelo texto pistas que ligam a ficção a elementos da realidade. Algumas são fáceis de identificar, outras constituem enigmas, mas o mais legal é mesmo a mescla de tudo. Um jornal chamado "Jornal da Tarde", nas imediações da rua Goiás, uma polícia ora atenta e profissional, ora inepta e leniente... Pressões políticas, a delegacia no São Cristóvão... Enfim, o caldo de uma cultura jornalística e policial que qualquer belo-horizontino detecta.

Para compor a trama, Junot compõe personagens ricos e interessantes, como o próprio repórter, o psicopata, o delegado, a namorada policial de Loriba, o investigador novato que chega de São Paulo e não tem ideia de onde se meteu... E aproveita para ensinar um pouco de jornalismo investigativo, num momento em que nossa área anda tão carente de profissionais mais atuantes e menos preguiçosos.

Parabéns ao amigo, e que os leitores curtam muito o "Vermelho Escarlate".

Beijus!

Clara Arreguy, domingo, março 15, 2015. 0 comentário(s).

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Uma mulher em dois tempos

A escritora Nadia Daher, em seu "Sombra & Luz" (que também pode ser chamado de "Luz & Sombra"), mergulha na vida de uma mulher. A protagonista segue uma trajetória que a leva da infância de absoluta miséria material e emocional à idade adulta marcada pela fartura, após o casamento com um homem rico.

Maria de Lurdes rejeita o nome que a remete ao mundo da infância pobre e se assume como Lu, a advogada bem-sucedida, mulher de sociedade, com seu marido mais velho, suas filhas e seu amante. Ao mesmo tempo, vivencia as contradições no fundo de sua alma, sabendo-se distante de qualquer intimidade carinhosa.

Quando as circunstâncias a levam a pôr em xeque a relação secreta com o chefe e amante, momento de verdade clandestina que ao mesmo tempo a completa e envergonha, chega a hora de repensar a vida, os caminhos, as escolhas. Lu se sente novamente Maria de Lurdes. Precisa se reinventar e descobrir as verdades sufocadas por tanto tempo.

O interessante no bem escrito romance de Nadia Daher é que ela compõe duas narrativas paralelas e complementares. O livro literalmente tem dois lados. Os finais se encontram no meio do caminho, mas o leitor tem que percorrer as duas "versões" para que essa complementaridade se realize. Não que de um lado as consequências sejam opostas ao do outro. São leituras diferentes, apenas.

As questões levantadas pela autora dizem respeito a qualquer mulher. Na verdade, a qualquer pessoa com sensibilidade para perceber o quanto os papéis sociais reprimem a realização completa de cada pessoa, na medida em que ela não se permite ouvir e dar vazão ao seu ser mais íntegro.

Beijocas!

Clara Arreguy, sábado, março 14, 2015. 0 comentário(s).

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A poesia de Marcus Freitas

O volume "No verso dessa canoa", de Marcus Freitas (Flor&Cultura). reúne poemas de sua produção entre 1993 e 2005. Uma leitura para quem gosta de poesia e não se contenta com pouco. Afinal, Marcus possui, entre suas qualidades de poeta, do lirismo e da profundidade à leveza do humor, virtudes raras.

O primeiro "livro" do livro, "Redondilhas roubadas", se compõe de uma seleção, conforme ele próprio explica no prólogo da edição, de uma forma tradicional da poesia portuguesa, tema de seus estudos e meio em que se expressa na redescoberta de temas e motivos.

O segundo, "Sonetos eróticos", volta à tradição de Bernardo Guimarães e outros autores que se permitem brincar com os sentimentos mais profundos e as explicitações mais descaradas. Aqui, humor e amor se unem sem as fraturas que o pudor costuma gerar, num resultado delicioso - mas não para reprimidos ou moralistas.

"Barca da dúvida" é o épico que reescreve ao sabor da lenda a saga de Noé. Sem mitificações, no entanto, o mote da dúvida reconstrói o heroísmo do personagem, humaniza-o e faz dele um narrador apaixonante da própria saga da humanidade, em suas dúbias relações com Deus e com os mistérios.

"Canto do tordo" enfeixa poemas de versos livres e quase bilíngues, da vivência do autor no exterior. Com elegância, ele cruza Minas com os Estados Unidos, numa composição de forte imagética, traços românticos e a leveza de um humor sempre presente, seja nos sentimentos, seja na linguagem.

Uma delícia de leitura!

Beijins!

Clara Arreguy, sexta-feira, março 13, 2015. 0 comentário(s).

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A prosa maiúscula de Maurício Melo

Entre as leituras que temos feito no nosso clube direcionado aos autores brasilienses, uma das mais gratas surpresas é a prosa de Maurício Melo Júnior. Pernambucano radicado em Brasília, onde atua como jornalista, Maurício é tímido com relação à própria produção literária. Sem motivo algum, já que se trata de um autor maduro, elegante, denso, cuidadoso, uma leitura de primeira.

Seu volume "Andarilhos", que analisamos (Edições Bagaço), reúne duas novelas primorosas. A primeira, "Caminho só de ida", acompanha a trajetória de fuga de um negro do Tijuco (hoje Diamantina) em busca do sonho do quilombo de Palmares. Para isso, ele segue o rumo do coração e do rio São Francisco, que surge como personagem das dificuldades e confortos do negro em sua saga utópica.

Com linguagem poética elaborada, Maurício pesquisou não apenas costumes e informações históricas da época (início do século XIX), como termos usados no período, compondo um épica de silêncios e solidão, sonhos e pesadelos sem fim. Imagens fortes, descrições precisas, narrativa lírica feita de ritmo e tensão.

Já na segunda o tom é outro, mas o personagem novamente se vincula ao sertão. O cangaceiro Volta Seca inspirou Maurício a compor uma trama em que mistura realidade e ficção. Volta Seca existiu, foi do bando de Lampião desde criança, foi preso em Angicos, morou no Rio de Janeiro. Maurício consegue unir essa parte a uma ficcional em que Volta Seca vai trabalhar num jornal às vésperas do golpe de 1964 e faz amizade com jornalistas que virão a ser perseguidos pelo novo regime.

Com narrativa mais seca e tensa, a novela se recheia de ação, conjugando a experiência do cangaço com a resistência à ditadura de forma brilhante e inesperada, num desfecho arrebatador.

Viva a literatura de Maurício Melo Júnior, um autor de mais de 20 livros que, pela qualidade de sua produção, deveria ser mais conhecido, lido e estudado.

Beijos!

Clara Arreguy, quinta-feira, março 12, 2015. 0 comentário(s).

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