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Umas palavras para o Marcello

Há uma semana recebi a triste notícia da morte do meu amigo Marcello Castilho Avellar, com quem trabalhei durante quase 20 anos no Estado de Minas. Fiquei triste, mas não chocada, porque sua partida não deixa aquele travo de lamentação que se sente quando alguém desperdiçou a vida ou os talentos que tinha. Não era o caso do Marcello. E olha que ele os tinha de sobra, mas soube usá-los, com brilho e generosidade, principalmente nos mais de 30 anos de jornal, mas também no teatro, em escolas e pela vida.

Marcello era mais que inteligente e culto. Era brilhante. Fora menino-prodígio - e, pelo espírito puro, continuou sendo por toda a vida. Não precisava estudar muito para saber demais. Não se dava bem com bancos escolares. Foi aluno da minha tia Maria do Carmo Arreguy Correa no primário, mas não avançou muito em escolas porque ali não encontrava o que precisava. Ou melhor: com facilidade para passar no vestibular, iniciou vários cursos, mas só ia até onde tinha algo a aprender. Depois, largava. Estudou Comunicação, Engenharia, Direito, não se formou em nada. Não queria, não precisava.

Muita gente se queixava de seu jeito esquisitão, meio fechado, mas isso não se aplicava à nossa relação. Antes de conhecê-lo pessoalmente eu já o lia nas páginas do EM. Quando o conheci na Oficina de Teatro, em 1983, ele cursando e eu trabalhando na secretaria, nos tornamos amigos de imediato.Discutíamos filmes, peças, livros, com viva camaradagem. Ele assinava seu nome ou o pseudônimo Júlio César Montecchi, que usou durante anos...

Em 1986, quando comecei a escrever críticas de teatro para o EM, mesmo antes de trabalhar lá, era para ele (que tinha um escritório com o Ricardo Gomes Leite) que eu entregava as laudas, que ele levava para o Geraldo Magalhães, na redação.Foram-se os três...

Acompanhávamos juntos o teatro e o cinema que estreavam, integrávamos comissões de seleção e julgamento para prêmios e coisas do tipo, frequentávamos a casa um do outro. Éramos amigos carinhosos, ele me mandava beijinhos gratuitos, me chamava de Claire, saudava meus retornos de férias com um indefectível "Claire, você voltou!" que me alegrava o coração.

Como crítico, jornalista e professor, como colega de redação e de mesa de bar, Marcello não se furtava a dividir seus vastos conhecimentos sobre tudo em geral, o que só fazia multiplicar informação. Era generoso e não tinha preguiça. Se estivesse cansado ou com sono, encostava a cabeça na mesa por 15 minutos, depois voltava serelepe.

Atleticano, brincalhão, um menino grande, apaixonado, leal. Como foi importante para a cidade, para a cultura, para as gerações de jovens que nos seguiram. Vai fazer uma falta danada para esses seres humanos que tanto amou, do seu jeito... Outstanding!, para usar uma expressão de que tanto gostava.

Meu beijo hoje vai para você, Marcello, com minha saudade e meu amor!

Clara Arreguy, terça-feira, novembro 08, 2011. 0 comentário(s).

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Overdose (no bom sentido) de Roth


Confesso que sou apaixonada pelo escritor norte-americano Philip Roth, meu “top of mind” em matéria de autores contemporâneos. Todo ano espero a divulgação do vencedor do Nobel de literatura, na confiança de que desta vez ele ganha. Ainda não venceu, mas seu dia vai chegar... Outra coisa que aguardo todos os anos é a chegada ao Brasil da tradução de seu novo romance. Sim, porque Roth, aos 78 anos, segue produtivo, mandando para as livrarias um livro novo a cada temporada.

Para uma fã como eu, portanto, o lançamento simultâneo pela Companhia das Letras de dois livros dele, contendo cinco obras (!), representou uma boa overdose. O primeiro foi “Zuckerman acorrentado”, coletânea de três romances e uma novela protagonizados por Nathan Zuckerman, o alter-ego de Roth, personagem-escritor, como ele, de origem judaica, de família emigrada para os Estados Unidos no início do século XX e radicada nem Newark (Nova Jersey).

As quatro narrativas são “O escritor fantasma”, que havia sido lançado poucos anos atrás; “Zuckerman libertado”, “A lição de anatomia” e “A orgia de Praga”, que formavam uma trilogia. Neles, em eterna crise existencial e profissional, o protagonista se digladia com leitores, críticos, parentes e com a própria consciência. O motivo? O fato de fazer sucesso com histórias de judeus americanos com suas grandezas e pequenezas. De descrever uma família marcada tanto pelo brilho quanto pelas neuroses. De expor entranhas de uma alma que muitos prefeririam ver sob as lentes do heroísmo – coisa que passa longe de seus personagens.

Com sua escrita ao mesmo tempo profunda e rápida, Roth brilha em cada romance, em cada capítulo, em cada parágrafo, em cada linha. É delicioso lê-lo, ainda mais em tal profusão de histórias encadeadas, unidas por fios tão bem tecidos.

Já o segundo lançamento da editora brasileira é a mais nova tradução de obra de Roth, “Nêmesis”. Nele, o personagem principal é outro: o professor de educação física Bucky Cantor, figura heroica na Newark da infância do narrador (outro alter-ego que não Zuckerman). Em plena Segunda Guerra Mundial, uma epidemia de poliomielite assola a cidade, o estado, o país. Mas enquanto os jovens fortes e corajosos como Cantor estão lutando no fronte, nosso herói não foi aceito nas Forças Armadas por causa da forte miopia, que o obriga a usar óculos de alto grau.

Cabe a ele, então, conduzir um grupo de alunos em meio ao terror da doença que mata e aleija crianças e jovens. Com bravura e em meio a conflitos éticos, o senhor Cantor se vê na iminência de decidir entre ficar e partir para ser feliz com a mulher que ama, enquanto se revolta contra Deus e contra a vida porque, por mais que fuja, a tragédia da doença, irá atrás dele e de suas crianças.

Como sabe contar bem uma história, esse Philip Roth. Se você é daqueles que nunca leu um livro dele, não se entristeça: você ainda tem todos para aproveitar.

* Texto publicado na minha coluna Autores e Livros, na intranet do MDS


Clara Arreguy, segunda-feira, novembro 07, 2011. 0 comentário(s).

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