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Overdose (no bom sentido) de Roth


Confesso que sou apaixonada pelo escritor norte-americano Philip Roth, meu “top of mind” em matéria de autores contemporâneos. Todo ano espero a divulgação do vencedor do Nobel de literatura, na confiança de que desta vez ele ganha. Ainda não venceu, mas seu dia vai chegar... Outra coisa que aguardo todos os anos é a chegada ao Brasil da tradução de seu novo romance. Sim, porque Roth, aos 78 anos, segue produtivo, mandando para as livrarias um livro novo a cada temporada.

Para uma fã como eu, portanto, o lançamento simultâneo pela Companhia das Letras de dois livros dele, contendo cinco obras (!), representou uma boa overdose. O primeiro foi “Zuckerman acorrentado”, coletânea de três romances e uma novela protagonizados por Nathan Zuckerman, o alter-ego de Roth, personagem-escritor, como ele, de origem judaica, de família emigrada para os Estados Unidos no início do século XX e radicada nem Newark (Nova Jersey).

As quatro narrativas são “O escritor fantasma”, que havia sido lançado poucos anos atrás; “Zuckerman libertado”, “A lição de anatomia” e “A orgia de Praga”, que formavam uma trilogia. Neles, em eterna crise existencial e profissional, o protagonista se digladia com leitores, críticos, parentes e com a própria consciência. O motivo? O fato de fazer sucesso com histórias de judeus americanos com suas grandezas e pequenezas. De descrever uma família marcada tanto pelo brilho quanto pelas neuroses. De expor entranhas de uma alma que muitos prefeririam ver sob as lentes do heroísmo – coisa que passa longe de seus personagens.

Com sua escrita ao mesmo tempo profunda e rápida, Roth brilha em cada romance, em cada capítulo, em cada parágrafo, em cada linha. É delicioso lê-lo, ainda mais em tal profusão de histórias encadeadas, unidas por fios tão bem tecidos.

Já o segundo lançamento da editora brasileira é a mais nova tradução de obra de Roth, “Nêmesis”. Nele, o personagem principal é outro: o professor de educação física Bucky Cantor, figura heroica na Newark da infância do narrador (outro alter-ego que não Zuckerman). Em plena Segunda Guerra Mundial, uma epidemia de poliomielite assola a cidade, o estado, o país. Mas enquanto os jovens fortes e corajosos como Cantor estão lutando no fronte, nosso herói não foi aceito nas Forças Armadas por causa da forte miopia, que o obriga a usar óculos de alto grau.

Cabe a ele, então, conduzir um grupo de alunos em meio ao terror da doença que mata e aleija crianças e jovens. Com bravura e em meio a conflitos éticos, o senhor Cantor se vê na iminência de decidir entre ficar e partir para ser feliz com a mulher que ama, enquanto se revolta contra Deus e contra a vida porque, por mais que fuja, a tragédia da doença, irá atrás dele e de suas crianças.

Como sabe contar bem uma história, esse Philip Roth. Se você é daqueles que nunca leu um livro dele, não se entristeça: você ainda tem todos para aproveitar.

* Texto publicado na minha coluna Autores e Livros, na intranet do MDS


Clara Arreguy, segunda-feira, novembro 07, 2011.

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