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Duas mineiras, duas ótimas escritoras

Duas escritoras mineiras, Terezinha e Stella, cada qual com suas qualidades.

Terezinha Pereira, de Pará de Minas, minha amiga e parceira em projetos, assina os ótimos contos de "O amante imaginário". São histórias curtas, mas recheadas de emoções. Tem o amor entre o velho poeta e sua amada, que só podem se encontrar depois que o marido dela morre, tem diálogos cultos sobre a Capela Sistina, tem uma observação sensível sobre uma mulher pobre que vive sozinha entre gatos, tem situações em que nostalgia rima com poesia, em prosa poética pautada por imagens do passado e sonhos irrealizados.

O conto que mais me impressionou, "Vilma", aborda um tema que me é caro: o do trabalho doméstico, resquício da nossa sociedade escravagista, em que exploração e afeto se trançam de uma maneira tão bela quanto triste, como bem retrata Terezinha em sua narrativa.

Já Stella Maris Rezende é a premiadíssima autora de "As gêmeas da família", vencedor de importantes certames. Destinado ao público juvenil, conta a história de uma família marcada por uma praga, condenada à desdita, à tragédia. Três irmãs gêmeas, fãs de Rita Pavone, vivem o início da ditadura, nos anos 1960, em meio à dificuldade na relação com a mãe e com a própria identidade.

Com bela exploração de uma linguagem ao mesmo tempo popular e extravagante, quase erudita, há momentos em que a literatura de Stella Maris lembra Roberto Drummond, pelo cacoete de adotar uma estrutura e nela seguir a narrativa de forma poética e fantasiosa. Se a resolução do mistério do desaparecimento da mãe, ao final, deixa a desejar na expectativa do leitor, o romance vale pela sutileza com que trata as jovens num momento tão difícil da vida das mulheres, principalmente nessa idade.

Beijão!

Clara Arreguy, quinta-feira, maio 22, 2014. 0 comentário(s).

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Noé e Getúlio, dois mitos


Dois mitos foram os temas dos últimos filmes que assisti e não tive tempo de comentar. "Noé", de Darren Aronofsky, com Russell Crowe, trata do mito bíblico, dando a versão criacionista para a origem do mundo, com seus gigantes do passado, Adão, Eva e a descendência de Caim e Set, chegando a Matusalém (Anthony Hopkins, na foto com Crowe) e seu neto Noé.

Lúgubre, pesado, com efeitos especiais que não convencem e lances de maldade explícita do homem justo escolhido por Deus (não há nada disso na minha Bíblia), o filme perde uma boa oportunidade de revisitar o dilúvio e as tramas de vingança do Antigo Testamento.

O outro mito vem da História do Brasil: "Getúlio", de João Jardim, é de outro nível. Também dramático, mas no tom certo, o filme se constrói sobre o suspense dos dias que antecedem o suicídio do presidente, premido por uma grave crise política em que não faltam ingredientes de traição, honra e ganância.


Com interpretações de qualidade, o elenco vem recheado de grandes nomes: além de Tony Ramos (foto), contido e verossímil no papel-título, também Drica Moraes, como a filha de Getúlio, Marcelo Médici, Clarice Abujamra, Leonardo Medeiros, Alexandre Borges e diversos outros ótimos atores. Um registro importante do momento histórico brasileiro.

Beijus!

Clara Arreguy, terça-feira, maio 20, 2014. 0 comentário(s).

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2 livros de viagem

Já tem um tempo que li, mas estava esperando um lançamento em Brasília para fazer um comentário. Não houve, lá vai: Mochileiros nos anos de chumbo, de Márcio Godinho e Sérgio Aspahan, conta a aventura que esses dois queridos amigos empreenderam pelo Brasil profundo em plena ditadura militar. Sem dinheiro para uma viagem internacional que haviam planejado, resolveram, ainda calouros da universidade, em 1976, conhecer um pouco mais o próprio país.

E o fizeram como bons estudantes duros: muita carona, alguns ônibus, trens, barcos, em situações imprevisíveis, passando apertos, mas achando solução pra tudo, principalmente pela boa vontade generalizada que só quem viaja sabe que existe. Saindo de Belo Horizonte, foram subindo para o norte do estado e do país, aproveitando para vender assinaturas do jornal Movimento, na época uma das poucas vozes que havia a enfrentar a censura e a violência do regime autoritário.

Narrado a duas vozes, o relato é uma delícia. Revisita, em textos e fotos, um tempo e uma condição que o Brasil, com muito esforço, vem superando desde a redemocratização e com o aprofundamento da nossa democracia. Conta história, lembra fatos, personagens e lugares, numa deliciosa viagem no tempo e nas paisagens do nosso país.

O outro livro de viagem interessante que acabo de ler é A Improvável Jornada de Harold Fry, da inglesa Rachel Joyce (Suma de Letras). O personagem que dá nome ao romance vive quieto desde a aposentadoria até receber uma carta de antiga colega de trabalho se despedindo, pois está com um câncer terminal. Seguindo um impulso inesperado, Harold sai para pôr uma carta no correio para a amiga, mas continua a andar em direção à casa de repouso onde ela vive. Detalhe: ele mora no sul da Inglaterra e ela, no norte.

A caminhada aparentemente sem sentido de Harold mexe com sua mulher, com seu casamento, com suas próprias lembranças de uma vida cheia de rejeição e culpa. A narrativa alterna as dores do passado com as agruras da viagem, que acaba por chamar a atenção da mídia. De repente, Harold se torna celebridade, atraindo seguidores e aproveitadores. Enquanto isso, segue caminhando, semana após semana, na esperança de assim manter viva a esperança de salvação de sua amiga.

Um bom romance, com algumas situações previsíveis, mas de contínuo interesse.

Beijocas!

Clara Arreguy, quarta-feira, maio 14, 2014. 0 comentário(s).

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Dois clássicos: Rosa e Villas-Boas

Reli um e li pela primeira vez o outro: Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, que contém obras-primas do conto nacional, é sempre um prazer reler. Famigerado, A Terceira Margem do Rio, Soroco, sua mãe, sua filha, A Menina de Lá, Os Irmãos Dagobé, são tantas preciosidades aqui contidas que a leitura é de pura fruição da linguagem, do ritmo, do humor, da brincadeira, do mergulho filosófico na alma humana. Quanta beleza!

Voltei a este livro de Rosa porque havia assistido, algum tempo atrás, a uma adaptação de três deles num lindíssimo espetáculo de bonecos da Cia. Catibrum, de Belo Horizonte. Eles fizeram, em Três Rosas, encenações em miniatura, assistidas por duas pessoas de cada vez, enxugando as narrativas até a ordem da poesia pura. Tudo em Rosa é pura poesia, ao mesmo tempo simples e profundo. Feliz de quem leu e pode reler, feliz de quem ainda não leu e pode descobrir.

O outro clássico, este eu não tinha lido ainda, é Xingu: os índios, seus mitos, em que os irmãos Villas-Boas recontam narrativas míticas dos povos indígenas xinguanos. São contos ora simples, ora complexos, sobre a formação do mundo, as origens e os nomes das coisas. Com a singeleza de quem conta histórias pra uma criança dormir, eles reproduzem narrativas engraçadas, compridas, sem a pretensão de fazer literatura, apenas de dar voz aos mitos orais de alguns daqueles povos. Uma maravilha.

Beijins!

Clara Arreguy, terça-feira, maio 13, 2014. 0 comentário(s).

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