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A prosa de Sérgio Fantini

Quando eu morava em BH, conhecia a poesia de Sérgio Fantini, mas não sua produção em prosa. Agora, ao lançar meu "Siga as Setas Amarelas", fiz uma permuta com ele e tomei finalmente contato com seu "Silas" (Jovens Escribas), uma bela reunião de contos tendo como personagem principal o homem que lhes dá nome.

Interessante que li recentemente a coletânea de contos da Nobel canadense Alice Munro e fiquei intrigada com três deles em que a personagem era a mesma, Juliet - achei que mereceriam um destaque em romance à parte. É o mesmíssimo caso de Fantini. Silas havia aparecido em outros volumes do autor, mas, ao sacar que ele fazia "aniversário", Fantini resolveu reunir todas as histórias dele num livro só.

O resultado é uma sensação de romance fragmentado, no bom sentido. Afinal, a linguagem do autor, seu estilo, seus tiques e questões perpassam todas as narrativas. Que por sinal têm um quê bukowskiano, um gosto pela sarjeta, pela poesia "suja" dos bares, da noite, das putas, dos bêbados, dos perdedores.

Silas trafega por esse universo em vários momentos e situações da vida. Quando mais velho, o ambiente surpreendentemente se torna familiar e caseiro, mas não sem os tormentos de sempre a atravessar seu caminho: pecado, traição, violência, delicadeza versus brutalidade. O poeta envelhece, perde algum apetite alcoólico, mas não a visada descrente que o jogou na rua desde a juventude.

Gostei demais do livro. A edição é linda, de bom gosto e bom acabamento, e o estudo de Francisco de Morais Mendes ao final do volume valoriza o trabalho com uma análise profunda de quem conhece o autor e sua obra.

Beijocas!

Clara Arreguy, quinta-feira, fevereiro 12, 2015. 0 comentário(s).

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O romance de Vanessa da Mata

Vanessa da Mata é uma cantora maravilhosa, compositora sensível e uma artista linda. Ao saber que havia lançado um romance, "A Filha das Flores" (Companhia das Letras), tratei de conferi-lo, para encontrar coisas lindas e certa imaturidade como autora.

Com criatividade e coragem para trabalhar numa linguagem poética inventiva, numa frequência que procura Manoel de Barros e Guimarães Rosa, a cantora resvala não apenas numa escritura ainda verde, como em problemas de revisão que permitem erros grosseiros, inadmissíveis. A "calda" do vestido de noiva e os lavradores a "carpir" a plantação são apenas dois exemplos. Tem mais.

Por ser uma obra de vulto, pretensiosa em seus anseios, os problemas que ela revela se amplificam. A história gira em torno de uma menina criada pelas tias numa cidade em que a repressão e as aparências escondem um passado tenebroso. Num distrito ao lado, associado à prostituição, reside boa parte das respostas aos mistérios.

O problema é que Vanessa leva boa parte das 280 páginas do livro sem fazer as perguntas que o leitor já está fazendo desde o início. Afinal, o que aconteceu no passado? Por que as pessoas morreram daquele jeito? Quem são os pais da menina? E por aí afora.

A construção deixa a desejar e as respostas, quando vêm, não são satisfatórias, faltando em alguns momentos lógica interna ao enredo como um todo. Uma pena. Receei ficar pelo caminho, mas consegui ler até o fim e aposto que, se lançar um segundo trabalho, e tiver uma edição melhor, Vanessa vai amadurecer como escritora à altura da artista musical que é.

Beijinhos!

Clara Arreguy, quarta-feira, fevereiro 11, 2015. 0 comentário(s).

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Racismo e arbítrio na fronteira

De volta aos livros. Vamos logo falar de três deles. O primeiro, "Os Bons e os Justos" (Mercado Aberto), de Lourenço Cazarré, tema de uma das discussões do nosso grupo de leitura de autores de Brasília.

Cazarré não é brasiliense, mas radicado aqui, com algumas obras ambientadas na cidade. Não é o caso dessa novela, do início dos anos 1980, que se passa numa cidade gaúcha de fronteira. A linguagem do autor já denota sua origem naquele estado, com palavreado e personagens bem típicos.

Mas o enredo e a narrativa do livro não têm nada de regional. São universais e relevantes. Trata-se de um encontro/desencontro entre duas personagens, um delegado de polícia e uma riponga, que vão parar na mesma cidadezinha, por motivos bem diversos.

Ao policial negro e honesto, é dada pela chefia uma última chance de se enquadrar. Não vai ser fácil. Ele insiste em dizer verdades, em incriminar bandidos da elite, em desafiar forças mais fortes que ele. E reage bebendo, se deprimindo, se autodestruindo.

Já a menina está on the road, fumando maconha e tocando flauta enquanto se distancia de uma vida fútil e reprimida junto aos pais, e de dissolução junto a grupos de jovens drogados e violentos.

Racismo, discriminação e arbítrio se mesclam a sonhos de paz e pureza difíceis de encontrar num momento e num lugar em que a democracia ainda está longe de germinar. Cazarré escreve numa linguagem seca, enxuta, de pouca adjetivação e não muita emoção. Mas dá seu recado, segura o leitor e toca em feridas ainda abertas.


Beijus!

Clara Arreguy, terça-feira, fevereiro 10, 2015. 0 comentário(s).

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