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Novela da vida real

Como jornalista, que sempre fui, adoro livros de reportagem. Por isso, devorei "O Caso Pedrinho" (Geração), de Renato Alves. Além de mineiros, fomos colegas no Correio Braziliense, Renato e eu, no tempo que passei por lá. Acompanhava suas qualidades de repórter, por isso não me surpreendi com sua desenvoltura ao narrar a terrível história do menino roubado dos braços da mãe numa maternidade de Brasília e criado como filho pela sequestradora.

O que surpreende, na leitura de todo o caso, são os infindáveis recursos daquela mulher, a criminosa que não apenas roubou Pedrinho, como antes dele outra criança, uma menina que também criou como se fosse filha biológica. Sempre no intuito de enganar os supostos pais e auferir vantagens financeiras.

Mais que surpreender, no entanto, escandaliza o tratamento complacente que dedica a ela a Justiça, ao lhe conceder benefícios reservados a presos com bom comportamento. A ela, que trafica influência, promove confusão, escarnece das regras e das autoridades, foge, não volta, descumpre... Parece até que o sistema quer se livrar dela, devolvê-la à sociedade, já que não dá conta dela sob sua custódia... E, no retorno à liberdade, ela se vê livre de novo para cometer outros crimes, com a conhecida criatividade.

A saga de Pedrinho e seus pais biológicos, que durante 16 anos o procuraram e lutaram para tê-lo de volta, fica pequena perto da história protagonizada pela sequestradora. Renato Alves disseca essa história, com muita informação, emoção, dados e lembranças de episódios vividos pessoalmente por ele durante a cobertura do caso, em mais de dez anos.

Um livro a se devorar, como a boa reportagem que é.

Beijus!

Clara Arreguy, quarta-feira, agosto 26, 2015. 0 comentário(s).

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A saga da rainha amazona

Margarida Patriota é uma escritora de Brasília que muito admiro e que me encanta a cada novo livro. "U'Yara, rainha amazona" (Saraiva), que terá um trecho lido nesta terça (25) no projeto "A Voz do Autor", na Le Calmon, parceria da livraria com nosso Instituto Casa de Autores, é um delicioso romance para jovens.

Mas para leitores de qualquer idade, claro. Como em outros livros de sua autoria, Margarida domina a narrativa e mergulha na personalidade de sua protagonista, recriando tempo, costumes e linguagem, sem perder o senso de humor, marca da sua elegância.

U'Yara é uma menina que nasceu para liderar sua tribo - de cultura dominante feminina. Por ter perdido a mãe no nascimento, acaba criada por uma tia malvada. Mas a infância de agruras ajuda a forjar seu caráter guerreiro, sem lhe tirar o idealismo que a inspira a procurar modificar o mundo, seu mundo, dividido entre castas dos que podem tudo e dos que nada podem.

Com informações, verve, narrativa elaborada e sempre surpreendente, "U'Yara, rainha amazona" vai muito além do romance juvenil, com qualidades para agradar a todos os leitores. E inclusive os jovens que queiram uma experiência menos rasa e rasteira, com substância e valor.

Beijos!

Clara Arreguy, terça-feira, agosto 25, 2015. 0 comentário(s).

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Segredos secretos demais

Em "Segredo de Família" (Benvirá), o jornalista Wilson Rossato compõem um extenso romance dividido em duas partes: na primeira, meio à moda de "O Quatrilho", acompanha os primeiros anos da emigração de sua família italiana para o Brasil, mais precisamente para a região de Caxias do Sul, onde a colônia se instalava com a ajuda do governo e começava a produzir uvas e vinhos. Na segunda parte do romance, à moda de "O Código Da Vinci", o narrador vai a Roma em busca da verdade sobre os acontecimentos de 120 anos antes, quando uma tragédia teria caído sobre a alma da família.

Se a primeira parte tem a qualidade de contar um pouco da história do Brasil e da ocupação do território, com fortes denúncias sobre como eram tratados (e eliminados, para ser direta) os índios da região, ela peca por excesso de romantismo. Há, anunciado pelo autor, um personagem da saga familiar que não existiu, em meio a todos os outros, baseados e figuras reais. Mas nenhuma dica sobre quem seria o "inventado".

Já a trama de suspense da segunda metade do livro sofre de falta de credibilidade, por envolver seita secreta com trânsito em todas as esferas da política, que não ficam claras, e não responder ao mistério que propõe durante todos os capítulos. Fica um desejo de entender melhor qual era a ameaça e em que isso influiria na vida nacional italiana, como alertado pelos personagens.

Abraços a todos!

Clara Arreguy, segunda-feira, agosto 24, 2015. 0 comentário(s).

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Klimt, nazistas, direitos históricos, emoção


Emoção, história, denúncia... "A Dama Dourada", de Simon Curtis, possui todos os elementos de um filme excelente. Baseado em fatos reais, conta a história de uma judia radicada nos Estados Unidos desde a II Guerra Mundial. Maria Althmann (a premiada e maravilhosa Helen Mirren, foto), após a morte da irmã, descobre que seria herdeira de um dos quadros mais famosos de Gustav Klimt, o que dá nome ao filme.

Austríaca como o pintor, que era amigo de sua tia Adele (retratada na obra-prima), ela conta com a ajuda de um advogado trapalhão para ir atrás de direitos, contrariando interesses econômicos e políticos da Áustria e daqueles que desejam enterrar no esquecimento os crimes cometidos pelos nazistas em diversos países europeus. Na Áustria, cicatrizes ainda estavam abertas, e a de Maria Althmann, por mais que doesse, não a impediu de ir à luta.

O advogado inexperiente, Randy, vivido por Ryan Reynolds, neto do papa da música dodecafônica, Arthur Schoenberg, não tinha a menor noção dos valores históricos, culturais e emocionais envolvidos naquela trama. Ia apenas atrás de dinheiro. Por se tratar de uma obra-prima, a questão envolvia milhões de dólares. Mas tudo muda ao longo de um caminho de anos, em que sua relação com Maria ganha profundidade e ele aprende com a vida.

Um filme lindo, emocionante, mas também importante por ensinar história, direitos. Programa imperdível!

Clara Arreguy, domingo, agosto 23, 2015. 0 comentário(s).

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A França contemporânea em drama



O outro filme muito atual sobre a realidade francesa é "Samba", de Olivier Nakache e Éric Toledano, com Omar Sy e Charlotte Gainsbourg (foto). O ator ficou famosíssimo após "Intocáveis", que se tornou sucesso mundial.

Aqui, trata-se de um drama sobre os imigrantes ilegais na França. Samba é o nome de um senegalês que vive quieto em seu canto, trabalhando em cozinhas insalubres, até que uma série de situações o levam a ter que deixar o país. Numa ONG que promove apoio a esse tipo de imigrantes, em geral de países pobres ou em conflitos, Samba conhece Alice, uma mulher que está ali pra tentar se curar de um surto de estresse que a afastou do trabalho.

Solitária e carente, Alice se envolve com Samba mais do que recomenda a etiqueta do trabalho voluntário. Ele se mete em confusão para ajudar um amigo em situação semelhante e acaba arrumando ainda mais problemas. Entre desencontros e difíceis encontros, eles tentarão construir uma saída possível para uma realidade cada vez mais restritiva.

"Samba" e "Que mal eu fiz a Deus" mostram faces de uma realidade europeia modificada pela reversão da onda colonialista que, ao longo de séculos, gerou um mundo dividido entre riquíssimos e paupérrimos, os países dos bem resolvidos e um enorme planeta sem solução.

Beijos!

Clara Arreguy, segunda-feira, agosto 17, 2015. 0 comentário(s).

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A França contemporânea em comédia



Dois filmes em cartaz em Brasília falam de questões muito contemporâneas da França e, por tabela, da Europa e do mundo. O primeiro, a comédia "Que mal eu fiz a Deus", de Philippe de Chauveron, parte da pluralidade cultural para falar de intolerância e de novas configurações.

Em uma família tradicional, branca, católica, de classe média alta e moradora numa bela chácara na periferia de Paris, as três primeiras filhas do casal se casam com um árabe, um judeu e um chinês. Confusão sem fim, com desentendimentos entre os genros, dificuldades dos sogros em entender e aceitar a maneira como os netos estão sendo criados, etc.

Tudo que pareceria difícil e confuso faz o casal depositar na caçula, a quarta filha, a esperança de um casamento mais convencional, com algum cristão europeu... Só que ela e o namorado, que planejam de fato se casar, vão ter muitos problemas pela frente. Ele é negro, faz teatro, trabalha como clown, e sua família, na África, resiste a permitir o enlace com uma branca colonialista...

Diante de um "inimigo" comum, até os três primeiros genros se unem aos sogros para resistir à entrada de um negro na família. Todo mundo contra, menos os amantes, lógico. A comédia rola solta, inteligente e atual, com o desfecho previsível, claro, mas a gostosa lição que valoriza o amor e a tolerância. Muito bom!

Beijus!


Clara Arreguy, segunda-feira, agosto 17, 2015. 0 comentário(s).

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João Almino em texto e foto

João Almino é um grande autor, a quem muito admiro, que tem Brasília como cenário e mesmo personagem de seus romances. Seu mais recente lançamento, "Enigmas da Primavera" (Record), não deixa de se ambientar na capital federal, mas vai mais longe, até a Europa, à procura da Espanha da ocupação moura...

Explico: numa sacada muito antenada com a atualidade, o escritor constrói um protagonista jovem, presente nos movimentos que agitaram o Brasil em 2013, quando grande número de manifestantes foram às ruas gritar contra aumentos de passagens, falta de verbas para saúde e educação, corrupção, padrão Fifa, etc.

Descendente de árabes, Majnun é um jovem romântico, apaixonado por uma mulher mais velha, casada, e pela cultura de seus ancestrais. Simpatiza com os movimentos que levam à Primavera Árabe e que sacodem velhos regimes do outro lado do mundo. Não sabe direito o que quer da vida, apenas que precisa pesquisar para escrever seu livro.

Com duas amigas e muitas dúvidas na alma, Majnun parte para a Europa, de carona com a Jornada Mundial da Juventude, ocasião em que sua simpatia pelo islamismo tromba também com o catolicismo da amiga. Sonhos e delírios acabam por conduzir o personagem - e a própria trama - para descaminhos que recuam das ousadias ansiadas, num tipo de anticlímax dado pela desestruturação emocional de Majnun.

O livro mais abre do que fecha questões. É culto, instigante, atual. Leitura de primeira, no padrão João Almino.

Também de João Almino, no mesmo evento de "Enigmas da Primavera", foi lançado "Brasília" (Barléu), com fotos dele e textos de Ana Miranda. Interessante observar o olhar de um escritor investido da câmera fotográfica, a sensibilidade para os conceitos que definem Brasília do ponto de vista arquitetônico e da paisagem, mas com uma leitura que subverte o cartão-postal e nome de outra poesia. E os comentários de Ana Miranda completam tudo com a paixão que ela tem pela nossa cidade e a leitura sempre literária de seus ângulos e personagens.

Beijos!

Clara Arreguy, domingo, agosto 16, 2015. 0 comentário(s).

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Conversas com o velho Fortunato

Um romance interessante é "Sem Paredes", de Durval Augusto Jr., narrativa em primeira pessoa de um tipo solitário, Fortunato, mineiro do interior que vai para São Paulo pra fugir do casamento precoce com a moça que engravidou. Na cidade grande, Fortunato passa por todo tipo de perrengue, da falta de amigos à necessidade de arranjar trabalhos desqualificados, até se deixar levar pelo "demônio" que tem dentro de si, participar de um assalto em cumprir longa pena em penitenciária.

Mais adiante, Fortunato, já livre, corre mundo atrás de nova vida a encontra numa pequena comunidade do interior, onde se estabelece como porqueiro numa fazendinha. Novamente tentado pela maldade, acaba forçando a filha do patrão a se casar com ele, o que vai acarretar novas desgraças.

Daí em diante, premido pela própria falta de lugar no mundo, Fortunato volta para a estrada, corre mundo sem destino, carregando consigo seus fantasmas, culpas e uma ou outra boa lembrança.

Com linguagem que visita o linguajar arcaico e cheio de sabedoria dos velhos da roça, Durval Augusto confere a Fortunato um sotaque próprio, rico e divertido. Os personagens com quem ele se relaciona também são, na maioria, bem construídos, com alguma exceção - a mais gritante é a ausência da Madalena, a moça que teria tido seu filho, a quem ele nunca procura, nunca inclui como personagem viva.

Já os toques fantásticos, em situações com fantasmas e bichos que falam, contribuem para fazer do protagonista um tipo de fato interessante, misto de varejão de rua e louco delirante, à beira da psicopatia, um velhinho que qualquer um gostaria de conhecer em suas andanças.

Beijos!

Clara Arreguy, sábado, agosto 15, 2015. 1 comentário(s).

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Lição sobre o valor das coisas


Um dos escritores para jovens e crianças de maior sucesso atualmente, Jonas Ribeiro, estará em Brasília neste sábado (15) para lançar um delicioso livro sobre tema aparentemente espinhoso, dinheiro, mas que em suas mãos nada tem de chato nem de difícil. Trata-se de "A família mais rica do mundo" (Mais Ativos).

Em linguagem divertida, Jonas aproveita a história de uma família bilionária para falar sobre o verdadeiro valor das coisas. Um belo dia, instado pela avó, todos da casa resolvem sair de férias sem levar as facilidades que a fortuna lhes permite. Ao contrário, carregam apenas o mínimo e partem para o desconhecido.

Numa vila de pescadores dotada de pouquíssima infraestrutura, avós, pais e filhos vão se relacionar com pessoas simples, mas ricas em sabedoria e alegria de viver, e aprenderão o valor de atitudes até então impensáveis para gente de seu status social e econômico.

Com belas ilustrações de Victor Tavares, o livro ensina sem mostrar que está fazendo isso. E ainda propõe, ao final, a inversão da riqueza em favor do conhecimento e de sua democratização. Lições preciosas num tempo de pouca compreensão para esses valores.

O lançamento vai ser na Le Calmon da 111 Sul, com autógrafos e chá das cinco.

Beijos!


Clara Arreguy, sexta-feira, agosto 14, 2015. 0 comentário(s).

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