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Outra do policial islandês

A cidade dos vidros é outro romance policial de Arnaldur Indridason, aquele islandês que comentei, autor de O silêncio do túmulo. Neste livro, a história se passa pouco antes daquele anterior. O agente Erlendur às voltas com investigações e com os problemas familiares, principalmente porque sua filha é viciada em drogas e anda metida com os tipos mais violentos. E agora descobre que está grávida - no outro livro, a gravidez já estava avançada.

Em A cidade dos vidros, o assassinato de um homem desencadeia a investigação de um estupro ocorrido 40 anos antes, a morte de uma menininha, provavelmente filha do estuprador, e uma série de relações intrincadas.

Como todo bom romance policial, o investigador é inteligente, sensível, intuitivo, e decadente. Nunca toma banho, mal troca de roupa, toma chuva e passa frio enquanto não arruma jeito de dormir ou de comer algo que preste. Solidão, degradação, os ingredientes que fazem o charme dos melhores agentes da lei são também as características de Erlendur. E há também a descrição de um ambiente pouco conhecido de um país gelado do norte.

Aquele tipo de aventura que se lê com rapidez e facilidade.

Beijos!




Clara Arreguy, sexta-feira, maio 25, 2012. 0 comentário(s).

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Crônica, conto, poesia

Acabo de ler o livro de minha nova amiga, a Fernanda de Aragão, Língua crônica. Premiado em 2009, o livro reúne crônicas escritas por esta paulista bem mais nova que eu, mas com quem me identifico em vários aspectos: ambas amamos escrever, amamos os livros e o esporte. Fernanda é formada em Educação Física e está fazendo um trabalho sobre o futebol na literatura.

Seu livro é uma delícia. Identificados como crônicas, alguns dos textos soam mais como pequenos contos, com personagens delineados com pena delicada mas certeira. Só que permeia tudo um sentido poético aprimorado, o que faz ainda mais híbrido o gênero dos escritos de Fernanda de Aragão.

Prosa poética, conto, crônica ligeira... o que importa? Importa que a leitura da coletânea de Fernanda emociona, diverte, entretém, intriga. Fernanda é jovem e tem todas as qualidades que isso implica, mas possui também cultura, leitura, o que a diferencia de tanta gente morna e rasa por aí. Sua literatura é suculenta e crítica, como convém.

Beijos!

Clara Arreguy, quarta-feira, maio 23, 2012. 0 comentário(s).

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Nobel turco


São quase 500 páginas, mas cada uma vale a pena. O turco Ohran Pamuk é o autor de “Neve”, romance polpudo, que propõe (e consegue) entrecruzar histórias de amor, discussões sobre literatura e a política da Turquia, sem em momento algum deixar o leitor perder o interesse pelo que ele tem a dizer.

Estive na Turquia em 1996 e fiquei muito bem impressionada. Embora fosse um país de população em grande parte muçulmana, tratava-se de uma república secular, laica, onde as mulheres andavam cobertas ou à moda ocidental, conforme escolhessem, e os homens, embora se tentassem comprar brasileiras a troco de camelos, o faziam com simpatia e senso de humor.

Em “Neve”, Ohran Pamuk mostra que as coisas não eram assim tão simples. O país, naqueles anos 1990, efervescia nas disputas entre religiosos e kemalistas, seguidores de Atatürk, o Pai dos Turcos, fundador da república no início do século XX. Os radicais tentavam impor a república islâmica à moda iraniana. Os demais eram considerados traidores pró-Ocidente.

O romance começa com a chegada do poeta Ka a uma cidade de fronteira, onde estão ocorrendo suicídios de meninas, proibidas de usar na escola o manto que cobre a cabeça. Intrigado com o país que trocou, como exilado político, pela Alemanha, Ka reencontra na cidade uma antiga colega, por quem se apaixona. Reencontra a poesia perdida e volta a escrever profusamente. Ali também, durante forte tempestade de neve que imprime o clima de todo o livro, Ka se envolve num golpe de estado protagonizado por um ator e alguns militares.

A história é contada após a morte de Ka, por um amigo dele, Ohran Pamuk; ou seja, o próprio autor dá nome e voz ao narrador, que acaba se apaixonando pela mesma mulher que Ka e se envolvendo com os mesmos personagens que o amigo poeta quatro anos antes. A ficção entra no liquidificador da realidade, numa técnica que enriquece a narrativa e dá força ao pano de fundo político.

Ohran Pamuk ganhou o Nobel de literatura em 2006 e, a julgar por “Neve”, com muita propriedade.

Coluna publicada na intranet da Ascom/MDS em 18/5/12

Clara Arreguy, sexta-feira, maio 18, 2012. 0 comentário(s).

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Um relato clássico de viagem

Durante a Bienal do Livro de Brasília, comprei seis livros ao preço total de R$ 25. Claro que isso se deveu às edições populares e aos livros usados adquiridos em sebo. Mas eram novinhas, por exemplo, as edições do Crime do Padre Amaro, de Eça, e de Viagem, de Graciliano Ramos.

Li este último agora e achei interessante o olhar do comunista brasileiro em seu relato de viagem pela União Soviética em 1952, um ano antes de morrer e quase 20 depois de ter sido preso e torturado no Brasil por suas convicções de esquerda.

Graciliano foi um dos maiores nomes do romance brasileiro no século XX, autor do clássico Vidas secas, de Memórias do cárcere, Angústia etc. Em Viagem, ele narra a visita que fez à potência comunista, então um mito no mundo ocidental. Conheceu fazendas, fábricas, escolas, centros culturais, tudo coletivizado e acessível a operários. Encantou-se com bibliotecas, com a dança e os avanços sociais de uma sociedade fechada, marcada pelo autoritarismo. Idealista, dá um jeito de defender Stalin, então o Farol que Iluminava o Mundo - no pensamento dos stalinistas...

Apesar de certa ingenuidade, no entanto, o livro permite reflexões importantes de um intelectual preocupado com seu povo, seu ofício, com ideais de igualdade e fraternidade universal. Sua escrita é clássica, às vezes com um linguajar meio antiquado, mas deliciosamente antiquado. Leitura de conteúdo.

Beijins!

Clara Arreguy, quarta-feira, maio 16, 2012. 0 comentário(s).

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Prosa poética da alma

Autor de três livros - A mulher-gorila e outros demônios, Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor) e Estórias mínimas, todos editados pela 7Letras -, José Rezende Jr. faz um tipo de literatura cada vez mais raro, de texto lapidado e acabamento milimétrico.

O segundo desses livros ganhou o Prêmio Jabuti de contos de 2010, e não à toa. Em cada história, Rezende mergulha nas personagens e situações como um ourives a delinear uma pequena obra de arte. São contos ambientados no interior, mas aquele roseano, em que sertão é dentro da gente. A alma é o ambiente. Os sentimentos na beira no abismo, o humano estendido ao limite.

Tem de Rosa, tem de Ruffato, tem dos melhores escritores mineiros, que não por acaso estão entre os melhores do Brasil. Isso não quer dizer que a prosa de Rezende, extremamente poética, deva ou se inspire em alguém. É uma questão de linhagem, não de estilo propriamente.

Nada sobra, nada falta nos contos de Eu perguntei pro velho, precisos como o aço da navalha. Mineiro de Aimorés, Rezende trabalha como jornalista e escritor em Brasília. A leitura de seus contos aquece a alma do leitor.

Beijocas!

Clara Arreguy, sexta-feira, maio 11, 2012. 0 comentário(s).

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Paraísos artificiais, será?


Até agora não resolvi se gosto ou não do filme Paraísos artificiais, de Marcos Prado. Em entrevista, li que o diretor receava, por um lado, cair na caretice, ou, por outro, fazer apologia das drogas, então buscou um equilíbrio entre mostrar que há prazer naquilo, mas que aquilo também mata ou faz estragos. Talvez seja este o problema: no meio do caminho entre uma série de sequências lisérgicas, sensoriais, de baladas movidas a ecstasy, e o registro das perdas provocadas pela vida no meio dessas drogas sintéticas, o filme não se assume muito bem.

As personagens procuram o que não sabem e não sabem o que querem. Personagens interessantes, como o pai e a mãe dos meninos, são mal explorados. O maluco doidão que introduz a mocinha na viagem de peiote deveria desempenhar papel mais nítido na história, como o contraponto contracultural, sessentista, ao abuso consumista e químico da contemporaneidade, mas isso também fica pelo caminho. Ele simplesmente some, sem morrer nem ser preso, como outros personagens.

Mas Paraísos artificiais acerta a mão em outros quesitos: na fotografia, na música, nas cenas de sexo, bem-sucedidas na proposta de se contrapor ao moralismo vigente no cinema nacional. E sobretudo na história de amor e desencontro que une e opõe a DJ meio perdidinha, que Nathália Dill faz sem comprometer, e o playboyzinho perdidão (interpretado por Luca Bianchi), que percorre o trajeto do paraíso artificial ao inferno real e tira disso alguma lição. Luz no fim do túnel.

É, acho que gostei. Beijus!

Clara Arreguy, terça-feira, maio 08, 2012. 0 comentário(s).

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