2020: fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2019: jan . fev . abr . jun . ago . set . out . nov

2018: jan . fev . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2017: jan . mar . abr . jun . ago . set . nov . dez

2016: jan . fev . mar . abr . jun . jul . out . nov . dez

2015: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2014: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . dez

2013: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2012: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2011: jan . fev . mar . abr . mai . ago . set . out . nov . dez

2010: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2009: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2008: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2007: jan . fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez

2006: fev . mar . abr . mai . jun . jul . ago . set . out . nov . dez






Nobel turco


São quase 500 páginas, mas cada uma vale a pena. O turco Ohran Pamuk é o autor de “Neve”, romance polpudo, que propõe (e consegue) entrecruzar histórias de amor, discussões sobre literatura e a política da Turquia, sem em momento algum deixar o leitor perder o interesse pelo que ele tem a dizer.

Estive na Turquia em 1996 e fiquei muito bem impressionada. Embora fosse um país de população em grande parte muçulmana, tratava-se de uma república secular, laica, onde as mulheres andavam cobertas ou à moda ocidental, conforme escolhessem, e os homens, embora se tentassem comprar brasileiras a troco de camelos, o faziam com simpatia e senso de humor.

Em “Neve”, Ohran Pamuk mostra que as coisas não eram assim tão simples. O país, naqueles anos 1990, efervescia nas disputas entre religiosos e kemalistas, seguidores de Atatürk, o Pai dos Turcos, fundador da república no início do século XX. Os radicais tentavam impor a república islâmica à moda iraniana. Os demais eram considerados traidores pró-Ocidente.

O romance começa com a chegada do poeta Ka a uma cidade de fronteira, onde estão ocorrendo suicídios de meninas, proibidas de usar na escola o manto que cobre a cabeça. Intrigado com o país que trocou, como exilado político, pela Alemanha, Ka reencontra na cidade uma antiga colega, por quem se apaixona. Reencontra a poesia perdida e volta a escrever profusamente. Ali também, durante forte tempestade de neve que imprime o clima de todo o livro, Ka se envolve num golpe de estado protagonizado por um ator e alguns militares.

A história é contada após a morte de Ka, por um amigo dele, Ohran Pamuk; ou seja, o próprio autor dá nome e voz ao narrador, que acaba se apaixonando pela mesma mulher que Ka e se envolvendo com os mesmos personagens que o amigo poeta quatro anos antes. A ficção entra no liquidificador da realidade, numa técnica que enriquece a narrativa e dá força ao pano de fundo político.

Ohran Pamuk ganhou o Nobel de literatura em 2006 e, a julgar por “Neve”, com muita propriedade.

Coluna publicada na intranet da Ascom/MDS em 18/5/12

Clara Arreguy, sexta-feira, maio 18, 2012.

______________________________________________________