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Ver o invisível



Conhecia Henriette Effenberger de nome, do Mulherio das Letras, mas só fui estar com ela pessoalmente no segundo encontro nacional do nosso movimento há menos de um mês, no Guarujá. Estive presente ao lançamento de seu novo livro de contos, "Fissuras" (Penalux), que li de duas sentadas. Porque, embora sejam 20 histórias apenas, a escrita de Henriette é daquelas que nos pegam pela emoção e não nos largam mais.

Nas histórias dessa coletânea, a premiada escritora paulista fala de personagens normalmente invisíveis: o pequeno, o pobre, o humilde, aquele por quem ninguém se interessa. E por que não? Justamente por serem as menores das criaturas numa escala ditada pela cultura capitalista que valora o ter e não o ser, o quanto e não o como.

A mulher abusada reiteradamente pelos homens da sua vida; o velho padre que perdeu a fé; o operário doente incapaz de ser produtivo; a senhora solitária à espera de uma visita que nunca vem; as jovens discriminadas na escola pelo racismo e pelo preconceito social; o circo de periferia, com seus penetras e seus bichos famintos; o pequeno órfão em sua sequência de abandonos; o menino de rua viciado em cheirar cola; e assim por diante... São histórias comoventes, narradas com economia de adjetivação, mas sustança de emoções.

Como diz Rosângela Vieira Rocha no prefácio, Henriette domina a linguagem e a carpintaria do gênero conto. Seu livro permite a fruição com prazer pelo leitor, que por outro lado não escapa ao soco que ela nos arma. Viva a literatura que faz isso com a gente!

Clara Arreguy, quinta-feira, novembro 29, 2018. 0 comentário(s).

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A realidade num aquário sufocante



Patrícia Baikal é uma jovem escritora brasiliense que investe numa linha pouco comum entre as jovens escritoras contemporâneas: o fantástico. Assim como em seu romance de estreia, "Mariposa", ela segue essa tendência no novo trabalho, "Mulher com brânquias" (edição da autora), uma fantasia em torno de uma mutação que afeta a protagonista da história, Rita.

Se "Mariposa" consistia numa ficção política ambientada em Brasília daqui a alguns anos, "Mulher com brânquias" tem igualmente a capital federal como ambiente, mas visita também uma cidade do interior de Minas, onde se fincam as raízes da família da personagem principal, uma linhagem de mulheres "diferentes", marcadas por uma sina trágica.

O que acontece com Rita, que, entre as aulas numa faculdade da W3 e a loja de objetos na Asa Sul, começa a se ver mergulhada num aquário, atormentada por um peixe gigante e necessitada de escamas e brânquias para se proteger das ameaças? Serão metáforas psicológicas, políticas, filosóficas?

Na história de Rita e de suas antepassadas Odas estão as respostas para as questões que intrigam o leitor ao longo da narrativa, à medida que ele acompanha as perdas, os danos, as dúvidas e procuras de Rita e das demais personagens que a cercam, como a irmã, a falecida tia-avó e o misterioso avô, vilão e pivô de boa parte da trama.

Patrícia Baikal constrói sua trama com domínio narrativo. Sabe prender o leitor e conduzi-lo até o fim da história, com fôlego para sobreviver ao mergulho nesse aquário sufocante que pode ser a vida de qualquer mulher.

Beijocas!

Clara Arreguy, quarta-feira, novembro 14, 2018. 0 comentário(s).

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Driblando a morte - com graça



Uma deliciosa descoberta foi "Tia Geralda, a morte e o gato", de Rômulo Garcias (Aquarela Brasileira), em que o brilhante chargista, poeta e ilustrador mineiro inventa uma personagem que dribla a "indesejada das gentes" das mais diversas formas.

Misto de poesia e humor de fina ironia, as tirinhas da Tia Geralda fazem a crônica de uma velhice cheia de vitalidade. A morte ronda Tia Geralda, mas ela não quer nem saber. Contrapõe cada argumento com sabedoria e esperteza. Ninguém a pega. O autor se inspirou numa sua tia para criar situações geniais, em texto e pena, que divertem, criticam, instigam.

Imperdível. Além de tudo, o livrinho é lindo, tem um formato tão simples quanto inusitado - o das próprias tirinhas. Um excelente objeto para ler, reler, curtir e presentear.

Beijus!

Clara Arreguy, segunda-feira, novembro 12, 2018. 0 comentário(s).

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