Relato de luta e fuga
Estou devendo um comentário sobre o livro
Minha fuga sem fim (Martins Fontes, 2007), de Cesare Battisti, o ativista italiano que ficou famoso quando, preso no Brasil, teve sua extradição negada pelo governo brasileiro e, após anos de luta, conseguiu ser libertado.
Estive com Battisti no restaurante Carpe Diem, quando fui lá para marcar o lançamento do meu
Rádio Beatles e ele estava autografando três de seus títulos. Comprei este, no qual ele conta como se envolveu com a luta armada na Itália, nos anos 1970, e, depois de preso e de fugir para a França, se estabeleceu em Paris, tornando-se escritor e pai de família.
Mudanças na política interna e externa dos dois países levaram-no a nova situação de fuga, já que era condenado à revelia em seu país de nascimento e o governo francês reviu a decisão de não extraditar os adversários políticos do governo italiano.
Faltava esclarecer à justiça e à opinião pública internacional: as denúncias de que havia participado da morte de policiais haviam partido de um ex-companheiro de organização, por delação premiada. Quando mais entregasse, mais vantagens obtinha o delator.
Battisti nega as acusações. Admite a participação no grupo e em ações menos graves, como roubos, mas afirma nunca ter usado armas ou determinado o assassinato de ninguém. Sua luta política e pessoal compõe um relato envolvente, de um escritor maduro, que não por acaso adotou esta arma - a pena - para viver sua vida.
Abraços!
Clara Arreguy, terça-feira, julho 31, 2012.
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Cinema do mundo
O outro motivo que está me ocupando ultimamente é o Biff - Festival Internacional de Cinema de Brasília, do qual integro o corpo de jurados. São 12 filmes em mostra competitiva, mais dezenas de outros títulos em mostras temáticas e específicas. Muitas produçóes de jovens e sobre jovens, traçando um painel dos descaminhos de uma juventude sem perspectivas em toda parte do mundo.
Os filmes podem ser vistos nas salas do Cine Cultura Liberty Mall e do Teatro Nacional até domingo, dia 22.
Depois comento detalhes.
Abraços!
Clara Arreguy, segunda-feira, julho 16, 2012.
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Por conta de Rádio Beatles
Andei sumida demais deste blog, mas foi por causa nobre: estou às voltas com o lançamento e a venda do meu novo romance, Rádio Beatles. Agora estou na maior correria para tentar vender 400 exemplares, o suficiente pra custear a produção. Já foram 200! Então, caro leitor, me ajude aí. Compre, leia, divulgue. Se não gostar, recomende pros inimigos...
Beijocas!
Clara Arreguy, segunda-feira, julho 16, 2012.
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Eça de Queirós, clássico eterno
Uma das coisas que melhor me lembro quando assisti à
primeira versão da novela “Gabriela”, nos anos 1970, era a menção constante ao
romance “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós, que a personagem Malvina,
toda avançada para a época, lia, contrariando os pais conservadores. Todos
comentavam como escandaloso o fato de uma mocinha de família ler a obra
pecaminosa.
Passados tantos anos, nova versão da novela entrou no ar, e
eu me peguei na constatação de que nunca lera o romance proibido. Comprara-o
numa edição baratíssima na Bienal do Livro e da Leitura de Brasília, poucos
meses atrás. Barata demais, em papel vagabundo e letras miudíssimas, está dando
trabalho aos velhos óculos de míope, mas o prazer da leitura compensa tudo.
Já era fã de Eça desde que me deslumbrei com “Os Maias”, e
vejo que “O Crime do Padre Amaro” é outra obra-prima. Não apenas pela
construção detalhada do romance entre o padreco jovem e a moça pura, mas, muito
mais, pela demolição moral que o escritor português promove de uma
religiosidade hipócrita, de uma instituição elitista e voltada ao
enriquecimento material de seus líderes.
Admito que há passagens em que as diferenças linguísticas
dificultam a compreensão da leitura. Eça escreveu o livro em meados do século
XIX, já vamos adiantados no XXI, mas o sumo de seu romance é a crítica
implacável, e ela se faz com inteligência e ironia, num rico quadro humano, político
e ideológico. E que belas descrições, que narrativa, que construção ao mesmo
tempo sofisticada e simples!
Tinham razão os próceres da Igreja ao proibir sua leitura às
jovenzinhas do início do século XX. “O Crime do Padre Amaro” desnuda e
desconstrói baluartes moralistas melhor que qualquer peça de propaganda
ideológica. E se trata da melhor literatura que a língua portuguesa produziu.
Publicado na intranet do MDS em 16/7/12
Clara Arreguy, segunda-feira, julho 16, 2012.
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