Toca Rauuuuuuuuulllll
Custei a ver, mas amei Raul - O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho. Meu ídolo desde 1973, quando ganhei seu primeiro disco, Krig ha bandolo!, Raul Seixas fez parte da minha vida como inspiração e piração. Ainda aos 14 anos, respondi ao professor que me chamou a atenção, criticando por me achar muito mudada: "Professor Abdala, eu prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".
Segui a carreira dele enquanto ele próprio teve carreira. À medida que foi decaindo em saúde física e mental, consumido pelas dores e pelas drogas, a obra de Raul Seixas foi perdendo parte do brilho. Não tenho os últimos discos, não sei de cor as últimas músicas.
Vê-lo no filme, na trajetória de sucesso e decadência, provoca dor, tristeza e saudade, mas renova a admiração por um artista brilhante, que mudou a MPB com criações imortais. O filme faz isso com respeito e humor, confronta ex-mulheres, amigos, parceiros. Em depoimentos inéditos, consegue até fazer Paulo Coelho assumir postura menos antipática e mais humana.
Um belo filme, digno do diretor, da equipe técnica e do homenageado.
Toca Rauuuuuuuuulllllllll!
Clara Arreguy, segunda-feira, abril 30, 2012.
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Literatura homoerótica
O autor Augusto Treppi não se esquiva do rótulo de escrever literatura homoerótica, por isso desavisados não vão ler Obsessão, seu terceiro romance, e se chocar com as descrições explícitas de sexo entre dois homens, muitas vezes em clima de conto erótico. Independentemente disso, ou para além disso, o livro oferece uma trama envolvente, que prende o leitor pelo suspense.
A proposta é inverter o jogo de opressão ao qual o senso comum está acostumado: ricos oprimem pobres, brancos oprimem negros etc. Em Obsessão, o casal formado pelo médico alto, branco e rico Ramon, e pelo camelô Denilson, baixinho e mulato, vive à beira da tragédia, devido ao temperamento violento do segundo, possessivo, dominador e ciumento.
A tensão da narrativa cresce com os mistérios que envolvem o segundo personagem, deixando o leitor à beira do precipício. O desfecho, no entanto, em anticlímax, fica aquém do crescendo desenvolvido ao longo dos capítulos. Bom, como a proposta é quebrar rótulos e tabus, faz sentido.
O livro, em e-book, pode ser obtido por intermédio da comprelivrosgls@uol.com.br.
Abração a todos!
Clara Arreguy, segunda-feira, abril 30, 2012.
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Não pude evitar chorar em várias cenas do filme Xingu, de Cao Hamburger. A trajetória dos irmãos Villas Bôas - principalmente de Orlando e Cláudio, mas também com a sofrida interrupção prematura da participação de Leonardo, o caçula deles, na luta em defesa dos índios - já seria digna de uma das mais heroicas páginas da história recente do Brasil. Mas o filme vai além e o faz com respeito, emoção, conteúdo.
Os atores João Miguel e Felipe Camargo fazem trabalhos estupendos na recriação dos irmãos, mas também Caio Blat (na foto de Divulgação/Beatriz Lefevre) e o elenco de apoio, inclusive os índios que interpretam, com a maior dignidade, as diferentes etnias presentes na região do Xingu.
A preservação da natureza e da cultura indígena, o amor aos semelhantes e diferentes, a entrega da vida em nome de um ideal, tudo encanta no filme. Cao Hamburger já havia dirigido o maravilhoso O ano em que meus pais saíram de férias e com Xingu confirma uma trajetória de talento e sensibilidade.
Beijos!
Clara Arreguy, segunda-feira, abril 30, 2012.
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Carlos Heitor Cony
Um dos maiores nomes da produção literária brasileira nas
últimas décadas é Carlos Heitor Cony. Dele, sempre acompanhei as crônicas na
imprensa e já li vários livros, inclusive o “Quase memória”, que citei aqui
alguns meses atrás. Agora foi a vez de um romance diferente de tudo a que
estamos acostumados, “Pilatos”.
Mas o motivo de trazer Cony à baila nesta coluna é também a
oportunidade rara: ele será atração neste sábado (21), às 14h, no Café
Literário da Bienal do Livro e da Leitura, na Esplanada dos Ministérios, em
Brasília. De graça!
O evento está agitando Brasília com estandes de editoras,
descontos, lançamentos e sessões de autógrafos e, o melhor, debates e mesas com
escritores brasileiros, africanos, sul-americanos. Um verdadeiro festival, no
qual não faltam nem os shows de nomes locais e nacionais.
Voltando ao Cony e ao “Quase Memória”, trata-se de um
clássico contemporâneo, pela maneira ao mesmo tempo reverente e despojada como
retrata o pai, uma figura tornada literária pelas mãos de um mestre da escrita.
Como os grandes autores, Cony joga no liquidificador da literatura lembranças e
reinvenções, compondo daí o conceito que dá nome ao livro.
Já “Pilatos” é quase um romance fantástico. O protagonista
começa a narrativa dando nome ao seu pênis, Herodes, para em seguida perdê-lo
num acidente. Daí passa a maior parte da história como um andarilho
esfarrapado, andando pra lá e pra cá com o dito cujo num vidro de compota.
Herodes vira ícone idolatrado pela produção de um filme, objeto de desejo de
esfomeados. O protagonista vai preso e vive as situações mais esdrúxulas.
Ambientado no início dos anos 1970 no centro de
um Rio de Janeiro decadente, o romance cria personagens fantásticos, toca em
guerrilha, tortura, fascismo, revolução, loucura, degradação, órgãos de
repressão etc., e tudo no estilo seco e econômico característico de Cony.
Publicada na coluna que assino na intranet do MDS
Clara Arreguy, sexta-feira, abril 20, 2012.
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