Carlos Heitor Cony
Um dos maiores nomes da produção literária brasileira nas
últimas décadas é Carlos Heitor Cony. Dele, sempre acompanhei as crônicas na
imprensa e já li vários livros, inclusive o “Quase memória”, que citei aqui
alguns meses atrás. Agora foi a vez de um romance diferente de tudo a que
estamos acostumados, “Pilatos”.
Mas o motivo de trazer Cony à baila nesta coluna é também a
oportunidade rara: ele será atração neste sábado (21), às 14h, no Café
Literário da Bienal do Livro e da Leitura, na Esplanada dos Ministérios, em
Brasília. De graça!
O evento está agitando Brasília com estandes de editoras,
descontos, lançamentos e sessões de autógrafos e, o melhor, debates e mesas com
escritores brasileiros, africanos, sul-americanos. Um verdadeiro festival, no
qual não faltam nem os shows de nomes locais e nacionais.
Voltando ao Cony e ao “Quase Memória”, trata-se de um
clássico contemporâneo, pela maneira ao mesmo tempo reverente e despojada como
retrata o pai, uma figura tornada literária pelas mãos de um mestre da escrita.
Como os grandes autores, Cony joga no liquidificador da literatura lembranças e
reinvenções, compondo daí o conceito que dá nome ao livro.
Já “Pilatos” é quase um romance fantástico. O protagonista
começa a narrativa dando nome ao seu pênis, Herodes, para em seguida perdê-lo
num acidente. Daí passa a maior parte da história como um andarilho
esfarrapado, andando pra lá e pra cá com o dito cujo num vidro de compota.
Herodes vira ícone idolatrado pela produção de um filme, objeto de desejo de
esfomeados. O protagonista vai preso e vive as situações mais esdrúxulas.
Ambientado no início dos anos 1970 no centro de
um Rio de Janeiro decadente, o romance cria personagens fantásticos, toca em
guerrilha, tortura, fascismo, revolução, loucura, degradação, órgãos de
repressão etc., e tudo no estilo seco e econômico característico de Cony.
Publicada na coluna que assino na intranet do MDS
Clara Arreguy, sexta-feira, abril 20, 2012.
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