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A cultura responde

Para provar que não existe verdade monolítica ou realidade imutável, os próprios Estados Unidos, capazes de mandar e desmandar, dispostos a aquecer o planeta, sem culpa, até o apocalipse, geram nas entranhas os anticorpos para o seu império global. Falo da cultura, do jazz, do blues, do rock e do cinema, o que os ianques fazem de melhor. Que o diga a evolução de Hollywood, ao longo dos anos, visível em momentos como este, de tensão pré-Oscar.
Não é de hoje que assim se dá: quando a sociedade reacionária e paranóica permitiu que o macarthismo aterrorizasse artistas por simpatia, afinidade ou dubiedade em relação ao comunismo, a própria arte se encarregou de salvar o país, redimir pela criação de obras-primas. Hoje, quando a globalização quer se impor como pensamento único ou fim da história, contradições surgem na tela grande, originadas do próprio Terceiro Mundo globalizado.
O melhor exemplo está em Babel, filme de Alexandro González Iñárritu, ganhador do Globo de Ouro e um dos cinco finalistas aos Oscars de melhor filme e diretor, entre outros. Nascido de uma história inventada por mexicanos, percorre os quatro cantos do mundo para desnudar pecados que os norte-americanos não gostariam de admitir, mas que, quando vêem, assim eviscerados, acabam tendo que aplaudir.
O filme mostra como, ao impor seus métodos invasivos (de dentro para fora) e altamente fechados (de fora para dentro), acabam forjando em si as vítimas do sistema. A família Jones (encabeçada por Brad Pitt e Cate Blanchett) sucumbe à própria intolerância, à falta de diálogo (do casal), à falta de solidariedade (dos demais turistas), à violência perpetrada contra estrangeiros, à perda do sentido de família ? não há alguém que fique com as crianças quando a mãe delas é baleada!
Tudo isso é sabido, mas nunca exposto em situações globais, interligadas, com as contradições tão bem expostas. No Oscar deste ano, outros pontos de vista também estarão presentes, como tem acontecido nos últimos anos. Clint Eastwood dirigiu duas produções concomitantes, ambas sobre a batalha de Iwo Jima, na Segunda Guerra Mundial. A que está entre os finalistas a melhor filme é justamente a que mostra a perspectiva japonesa, dos perdedores. São ou não sinais de que algo se move no próprio império? E a resposta virá sempre da cultura.

ps - publicado no dia 27/01/07, no Correio Braziliense

Clara Arreguy, sexta-feira, janeiro 26, 2007.

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