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Um toque

A chuva que despencou sobre Brasília na noite de ano-novo e na primeira manhã do ano lavou a sensação de tristeza que eventos do gênero costumam imprimir em pessoas mais sensíveis. Embora o friozinho inspirasse mais a nostalgia da juventude em Ouro Preto ou na Serra Gaúcha, o fato de ser 1º de janeiro pesava mais: não sei de quem foi a idéia, que reputo como brilhante, de dedicar à data a responsabilidade pela paz no mundo.
O Dia Mundial da Paz anuncia esperança para quem acompanha a posse de novos governantes ? pena que tanta chuva tenha impedido que mais gente fosse saudar o presidente reeleito na Esplanada dos Ministérios. Mal deu para o desfile em carro aberto, e o eleitorado de Lula ficou ilhado, talvez empoçado enquanto o presidente era empossado. Apesar do nítido sinal de alerta dado pela eleição em dois turnos, ficou também patente a aposta que a população brasileira faz no segundo mandato. Se o primeiro lhe deu a certeza de melhora nas condições de vida, agora é tempo de crescer, aprofundar quantitativa e qualitativamente os ganhos.
Esperança não quer dizer ilusão. O povo brasileiro, me parece, amadurece a olhos vistos, na relação com seus líderes, na lida com seus problemas e na busca de soluções. A democracia, como não poderia deixar de ser, se constrói paulatinamente. Não bastava, cerca de 20 anos atrás, que conquistássemos o direito de eleger diretamente o presidente. Não resolvia que pudéssemos derrubá-lo quando fosse o caso. Nunca seria suficiente escolher representantes nos legislativos. Era preciso que a democracia brasileira se estendesse a outros direitos de cidadania, como a participação popular, a reordenação de prioridades na direção dos mais necessitados; que a economia deixasse de ser ciência exata, a lidar com números, e se tornasse ciência humana, a cuidar de gente, de matar fome, de propiciar auto-estima.
Muitos não conseguem ver que algumas dessas questões estão na base da relação entre o presidente e seu eleitorado. Populismo, demagogia? Embora entenda que o simbólico determina a construção de lideranças (como a que Lula exerce dentro e fora do país), não creio que o real perca peso quando falta ao símbolo a concretização de anseios ideais. Ao contrário: quanto mais a realidade grita, mais o poder do mito dá conta de seguir adiante, realimentando os sonhos que o levaram até ali.
Neste Dia Mundial da Paz, desejo que o ano consolide conquistas e avance rumo a uma democracia mais profunda, radical e popular. Meus fogos e tiros de canhão para 2007!

publicada no Correio Braziliense no dia 2/01/07

Clara Arreguy, quarta-feira, janeiro 03, 2007.

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