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Recordar é viver

Republico aqui, a título de curiosidade, um artigo que publiquei no Estado de Minas, em 12 de outubro de 2002 - há exatos oito anos, portanto. Ainda atual, creio.

A festa da democracia
Clara Arreguy, 12/10/2002

Terminado o primeiro turno das eleições, fica a alegria da vitória de alguns, a decepção de outros tantos, e aquela deliciosa sensação de democracia quase madura. A festa da democracia é o melhor do período eleitoral, e pra mim, navegando na contramão das reclamações generalizadas, até o papelório no chão me alegra. Quando li que o chamado “lixo eleitoral” vai todo para reciclagem, então, aí relaxei mais ainda no gosto pela propaganda.

Mudando a paisagem das cidades – e até das estradas –, panfletos, banners, faixas, placas, outdoors, jornaizinhos, nada disso me incomoda. Pelo contrário. Acho que tudo isso faz parte da festa da democracia, assim como os comícios, carreatas e passeatas, e contribui, se não para a informação do eleitor, pelo menos para sua diversão. Pelo menos para a minha, com certeza. Até o horário eleitoral na TV, em que pese a amolação de 50 minutos – no segundo turno, serão “só” 40! –, tem suas vantagens. A primeira, na base da seriedade, é que os programas possibilitam aos eleitores se informar melhor sobre seus programas e propostas de governo, sobre sua história e visão de mundo. Ao mesmo tempo, permitem hilariantes sessões de comédia, com os casos e pessoas folclóricas, curiosidades que amenizam a sisudez daqueles que a gente leva mais a sério.

Rir de apelidos, de programas malfeitos, das idéias mais estapafúrdias soa como uma espécie de tempero para quem não se cansa de festejar a democracia. Esta numerosa juventude que já se tornou parte substancial do eleitorado não era nem nascida, e talvez os mais velhos já tenham se esquecido de quão danosa era a falta de liberdade de expressão no tempo da ditadura militar. Havia censura rigorosa aos candidatos às eleições proporcionais. Não havia eleição para presidente e governador, e os prefeitos das capitais também eram nomeados pelos governo central, nas mãos dos militares.

“Lei Falcão” era o nome da lei que proibia os candidatos de falar. Eles apareciam no horário eleitoral só com a carinha, nome e número – começando por 1 os da Arena, por 2 os do MDB. O bipartidarismo tinha suas mumunhas: em Muriaé, como em muitas outras cidades, havia Arena 1 e Arena 2, porque a construção do então maior partido da América Latina exigira a fusão nacional dos arqui-rivais UDN e PSD, inconciliáveis em certas realidades locais.

O silêncio dos candidatos tinha aquele nome porque foi imposto pelo ministro da Justiça, Armando Falcão, ele mesmo notório silencioso – ficou famoso por só responder às perguntas dos jornalistas com um lacônico e sonoro “nada a declarar”. A época era de terror e temor, mas brasileiro nunca perde a piada, então o ministro, naqueles anos 70, virou tema de uma boa anedota. Dizem que o presidente do Brasil chegou ao Paraguai e, ao ser apresentado à equipe de governo do país vizinho, não conseguiu conter o riso diante do ministro da Marinha. O presidente paraguaio, queimando no golpe, responde sem pestanejar: “Não ri não. Quando você me apresentou o ministro da Justiça eu fiquei quietinho”.

Quem viveu a falta de democracia sente mais a alegria desta festa toda, pelo menos mais do que quem já nasceu podendo espernear. Por isso, nesta época eleitoral, nem mesmo as distorções chegam a incomodar. Como a existência de 30 partidos, candidatos sem condição sequer de ser síndicos de prédio e que postulam a Presidência da República, governo do Estado ou cargos eletivos. Essas coisas, na verdade, têm que ser decididas pelos eleitores. E eles estão mandando seus recados pelas urnas, configurando o quadro político-partidário conforme identifica campos de proposta, linhas de ação, métodos de enfrentamento dos problemas nacionais, estaduais, municipais. Dependendo do ponto de vista, o eleitor pode estar acertando mais do que nunca, ou errando mais do que nunca. Mas, afinal, que bom que ainda somos nós, brasileiros, que temos nas mãos as rédeas desse processo, que pode fazer do nosso País um lugar mais alegre, mais humano e mais justo.

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Beijos!

Clara Arreguy, segunda-feira, outubro 11, 2010.

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