Rushdie para qualquer idade
O escritor indiano Salman Rushdie ficou mundialmente famoso
quando foi objeto de “fatwa”, a condenação à morte proclamada pelo aiatolá
Khomeini. O ódio do líder iraniano se devia a um romance do escritor, “Versos
satânicos”, acusado de ofensivo à religião islâmica.
Mesmo passando anos escondido para evitar que qualquer fiel muçulmano
se sentisse no direito de cumprir a “sentença” decretada – sem sentido e sem
direito a defesa –, Rushdie manteve-se na ativa, produzindo importantes
trabalhos literários. Afinal, é apenas isto que faz: escreve. E como escreve
bem!
Embora fortemente fincado na cultura oriental, o estilo de
Salman Rushdie lembra aquela vertente da literatura sul-americana, o realismo
mágico ou fantástico, em que a fantasia voa solta e a ficção se permite os
desvarios mais incríveis.
Em seu “Os filhos da meia-noite”, por exemplo, ele narra a
história de milhares de pessoas nascidas exatamente na mesma hora, a meia-noite
do dia da independência da Índia. Tal qual gêmeos separados no berço, numa
alusão a Índia e Paquistão, os nascidos naquele momento desenvolvem, no romance
de Rushdie, o poder de conversar entre si por telepatia. Assim, toda a história
se embaralha, com as guerras e a situação política servindo de pano de fundo
para aventuras espetaculares.
Outro de seus trabalhos que mescla a história do país com
aventuras mirabolantes é “O último suspiro do mouro”, premiado e divertido
romance em que líderes indianos como Gandhi e Nehru se cruzam com personagens
fictícios de cultura indiana, europeia, portuguesa etc.
Autor também de livros infanto-juvenis, como “Haroun e o mar
de histórias”, Salman Rushdie tem agora lançada no Brasil nova criação nessa
linha, “Luka e o fogo da vida”. Luka é o irmão mais novo de Haroun, ambos
filhos de Rashid Khalifa.
Exímio contador de histórias, o Xá do Blá-blá-blá, pai dos
meninos, está à beira da morte e somente a coragem de Luka, enfrentando o Mundo
da Magia, com seus perigos e ameaças, poderá salvá-lo. Para tal, conta com a
ajuda de Urso, o cão, e Cão, o urso, que assumem personalidades falantes e vão
com Luka rumo a uma aventura em ritmo de joguinho eletrônico.
Diversão, emoção, liberdade imaginativa e técnica narrativa
ímpar fazem deste romance de Rushdie mais uma obra imperdível, a ser sorvida
por leitores de todas as idades.
(Publicada na coluna da intranet do MDS)
Clara Arreguy, sexta-feira, março 23, 2012.
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