Samuel Rawet
Poucas vezes tenho lido literatura tão difícil
quanto a de Samuel Rawet. A começar pelos “Contos do Imigrante”, em que seu
estilo hermético, sombrio, de sujeitos sem saída e impressões sempre dolorosas.
Ele me foi muito difícil, mas ao mesmo tempo desafiador. Tanto que me propus a
ler o primeiro conto de cada livro reunido na coletânea com toda a obra do autor, mas apenas para confirmar
que seria tarefa árdua. Os do último, “Que os mortos enterrem seus mortos”, têm
a seu favor o formato mais curto, o que facilitou, mas não tornou menos
espinhosa a minha leitura.
Tocou-me a trajetória sofrida do autor. Por coincidência,
estava num bar outro dia quando um vendedor de livros usados, um sebo
ambulante, me ofereceu, entre outros, uma reunião de 10 ensaios sobre a obra de
Rawet. Comprei. Não tive tempo de ler senão o último, “Memória diálogo e
discurso literário – passagem trágica de Rawet por Brasília”, de Ezio Flavio
Bazzo. Nele, o estudioso conta como investigou a vida e a obra do autor. E como
foi descobrindo sua loucura, sua degradação física e moral, dos surtos pelas
noites do setor hoteleiro às internações. Do rompimento com a comunidade
judaica à solidão e à morte patética, entre embalagens de sopa Knorr, dias e
dias em sua casa de Sobradinho, sem que ninguém sentisse sua falta. O que
chamou a atenção da vizinhança foram as moscas apinhadas em suas portas e
janelas...
A história de Rawet, pra mim, explica em boa parte o estilo
pesado, o sentido trágico de suas personagens, a falta de luz no fim do túnel
ou em qualquer altura dele... Me parece literatura densa, elaborada, profunda,
mas tão sofrida que não daria conta de ler mais do que me obriguei pelo compromisso com um grupo de leitura do qual faço parte.
Beijocas!
Clara Arreguy, sexta-feira, junho 20, 2014.
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