A incrível Maria Valéria
Maria Valéria Rezende é uma autora que eu já deveria conhecer há mais tempo mas que, por falha minha, só agora descobri. Foi preciso que ela vencesse o prestigiado Prêmio Jabuti com seu romance "Quarenta dias" pra que eu, e muita gente mais, começasse a lê-la. Mas, como dizia meu pai, antes tarde do que nunca. Se você ainda não leu uma obra excelente, que felizardo, ainda pode desfrutar esse prazer.
Pois foi com enorme prazer que tomei conhecimento desse livro premiado. E de sua autora, a incrível freira nascida em Santos e radicada há mais de 40 anos no Nordeste, onde desenvolve trabalho social e político junto a gente pobre. Adoro isso! Maria Valéria é vítima de tanto preconceito que parte da imprensa, ao se referir a ela, fala em "ex-freira". Não concebem que uma religiosa possa escrever tão bem sobre temas não religiosos.
O romance "Quarenta dias" parte de uma pesquisa que a escritora de fato empreendeu pelas ruas de Porto Alegre, cidade que não conhecia e que palmilhou em vilas, favelas, becos, cantos de rua. Ela já dominava a rua, pelos trabalhos sociais e assistenciais com miseráveis e usuários de drogas. Mas naquele local estranho, dormiu em pontos de ônibus, embaixo de viaduto, tomou banho na rodoviária. Conheceu gente e lugares, experimentou o despojamento total, até se camuflar de moradora de rua.
No livro, a personagem Alice se deixa levar (por uma filha desnaturada) da amada João Pessoa para a desconhecida capital gaúcha e ali passa por dissabores que a induzem a uma fuga meio sem sentido. Revolta, o pretexto de encontrar um conterrâneo desaparecido, e Maria Valéria Rezende faz disso uma prosa envolvente, intrigante, cheia de descobertas, para ela e para nós.
Leitura prazerosa, ao mesmo tempo leve e densa. Espero que a primeira da obra dessa escritora tão interessante.
Beijocas!
Clara Arreguy, quinta-feira, junho 02, 2016.
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