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Torto Arado, um romance imprescindível

 

Itamar Vieira Júnior na discussão do nosso Clube de Leitura Arco-Íris 

Ainda entre os semifinalistas do Prêmio Oceanos, uma demonstração do alto nível da disputa este ano é Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, que já venceu o Prêmio Leya e segue fazendo sucesso por onde passa. Não é pra menos. Nesse seu romance de estreia, que levou anos escrevendo, o autor baiano se esmera em criar uma história, uma ambientação e uma linguagem raras no cenário da literatura brasileira - ainda que cada vez menos raras, felizmente. 

A cultura quilombola é o centro da narrativa. Duas irmãs, Bebiana e Belonísia, filhas do líder religioso de uma comunidade rural no interior da Bahia, são as principais personagens e os fios narrativos da trama. Mas as histórias do pai, da avó, dos vizinhos, dos antepassados, estão todas ali, compondo o tecido de trama forte e delicada de Torto Arado. Arando a terra fértil de um Brasil profundo, formado por descendentes de escravizados que herdaram não a liberdade, mas a servidão, similar à escravidão. 

No sertão onde nascem, crescem e tomam consciência de si Belonísia e Bebiana, a terra é do latifundiário e os trabalhadores não podem nem construir casas de tijolos. A produção tem dono, e não são os que põem a mão na massa. As mulheres não têm voz, real ou metaforicamente, e quando têm é à força de facão. O novo tempo que chega traz o primo, o homem novo, que costura na subserviência do passado uma ponte feita do despertar de luta por direitos. Caminhos de mais violência, de escancaramento do lugar das coisas - classes, corpos, vozes. 

O livro de Itamar Vieira Júnior é de uma escrita tão linda que muitos leitores se perguntam como um escritor homem apreende assim a alma da mulher. Resposta: sendo o grande escritor que é. Torto Arado é um romance imprescindível pro Brasil, pra literatura, pro futuro de valorização e espaço pra nossa história e pra nossa cultura. Precisa e merece ser lido, premiado, divulgado. Que venham novos romances de Itamar Vieira Júnior, com seu talento e o frescor temático e estilístico, poético e político, que traz para a produção contemporânea.



Clara Arreguy, quarta-feira, setembro 23, 2020.

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