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Uma saga do Brasil latino-americano


Esta semana nosso clube de leitura teve a alegria de receber a escritora Maria José Silveira, autora de Maria Altamira (Editora Instante), livro que lemos este mês e que nos encantou a todos. Primeiro, porque a história é muito boa, e Maria José sabe contar histórias. Aqui são duas as protagonistas: Alelí e sua filha, Maria Altamira. Alelí é uma sobrevivente do soterramento de Yungay, no Peru, quando um vilarejo foi varrido do mapa depois de um terremoto. Após perder toda a família, inclusive a filhinha, a jovem sai vagando pela América Latina e, ao longo dos anos, atravessa Andes e vales, florestas, estradas e vilas. Aprende a tocar um charango, instrumento musical que a acompanha na voz da dor e da solidão. Até que um dia conhece um juruna que a ama e com quem tem outra filha.

Aí começa a outra parte da história, em que Maria Altamira, moradora na cidade amazônica que lhe deu nome, enfrenta a chegada dos novos tempos representados pela hidrelétrica de Belo Monte. Diante da mineração, do garimpo, da exploração dos madeireiros e de toda a devastação ambiental, humana e cultural, Maria se torna uma lutadora, uma defensora dos indígenas (que ela não deixa de ser), também passa por suas peripécias, mora um tempo em São Paulo, conhece os movimentos por moradia, enfim, aprende as diversas faces de um Brasil contemporâneo assediado por todos os lados, norte e sul, campo e cidade, meio ambiente, história, modos de vida.

O mais interessante no livro de Maria José Silveira é que ele me parece a contraface de seu outro romance que li e comentei aqui alguns anos atrás, A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas (Globo Livros). Nesse a escritora traça uma árvore genealógica de linhagem feminina, começando pela primeira indígena a se ligar a um europeu que veio na esquadra de Cabral. Daí em diante, acompanhamos 21 gerações de mulheres até chegar aos nossos dias. Um retrato interessantíssimo da formação do povo brasileiro pelos encontros e desencontros, afetos e sujeições entre indígenas, africanos, europeus, asiáticos, judeus, árabes, toda a gama, enfim, que se misturou no caldeirão da nossa história.

Com Maria Altamira, a autora complementa essa linhagem com os primos da América do Sul, nossos irmãos de continente, tão próximos e tão distantes, cuja saga de resistência se cruza inexoravelmente com a brasileira. Alelí e sua peregrinação, Maria Altamira e seu engajamento, o Brasil inserido na América Latina, com os mesmos problemas e as mesmas veias líricas.


Clara Arreguy, quarta-feira, dezembro 09, 2020.

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Comments:
Gratíssima, querida Clara. Pela resenha do meu "Maria Altamira", e pela alegria de ter conhecido vocês. Que turma!!!
 
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